Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo
Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
A pior tristeza é sentir saudade dos momentos que um dia nos fizeram felizes e ter a certeza de que, por algum motivo, eles não voltarão a acontecer.
Oferta
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador
Até aqui
O teu amor
PIANO
SEMPRE que eu ouço o aveludado som do Piano ao pé do meu ouvido
Eu me lembro do seu sorriso sincero,
E me dizendo coisas que eu nunca imaginei ouvir.
Sinto bem perto o calor do fogo que nos incendiava;
A pouca luz que alumiava a escuridão como uma vela.
Lembro dos teus olhos de anjo
Olhar que misturava paixão com prazer.
Doce amor de uma magia Divina.
Ainda sinto o amor que me movia naquelas noites com chuvas.
Posso ver esculpido no teu rosto a inocência de uma Flor;
E a malicia de uma menina;
Ainda me lembro bem das promessas daquela noite.
Ao som de Piano misturando o sabor do teu beijo com vinho e sedução;
Som que invade a alma, beijo que me enlouquece de prazer,
Amor de uma paixão incandescente;
Luz e calor de uma mulher.
Mulher que eu amo.
Mas ela já se foi;
Mas vive em mim, sempre.
Sempre que ouço o aveludado som do Piano.
Ditirambo
Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade...
Eu fico aqui procurando o sentido da vida e me guardo na incerteza de que a vida é exatamente o não fazer sentido
Procurar explicações nos embaça a visão de enxergar o que passa diante de nossas retinas
Perdemos tempo buscando explicações das quais, acho, que nunca a teremos.
O que é fazer sentido? Talvez nunca saibamos ou até mesmo fazer sentido é exatamente à procura incansável de fazê-lo
o problema não e gostar de quem não gosta de você
e sim não conseguir gostar de quem gostar de você.
O Amor – Poesia futurista
A Dona Branca Clara
Tome-se duas dúzias de beijocas
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho de Ciúme
Deite-se quatro colheres de açucar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!
Tentação
Eu fechei os meus lábios para a vida
E a ninguém beijo mais, meus lábios são,
Cmo astros frios que, com a luz perdida,
Rolam de caos em caos na escuridão.
Não que a alma tenha já desiludida
Ou me faleçam os desejos, não!
O que outrem prejulgava uma descida,
É subir para mim, elevação!
Vejo o calvário por que anseio, vejo
O Madeiro sublime, "Glórias" ouço,
E subo! A terra geme... eu paro. (É um beijo.)
A moita bole... Eu tremo. (É um corpo.) Oh Cruz,
Como estás longe ainda! E eu sou tão moço!
E em derredor de mim tudo seduz!...
Sexta-feira 13 é dia de sorte para alguns, dia de azar para outros, gatos pretos e bruxas fazem parte da superstição. Mas, o que é real mesmo, é que sexta-feira é o dia da semana que antecede o sábado.
Assim, relaxa, que logo virá um lindo e abençoado fim de semana para você aproveitar na companhia de sua família.
Só sabe quem tem. Só sente quem vive. Só ama quem suporta todas as dores. Amor de mãe é incondicional, único, verdadeiro, sem igual.
Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -
se a luz é tanta,
como se pode morrer?
Não importa o que tenha passado neste ano que está terminando, bom ou ruim, alegre ou triste, feliz ou infeliz, com saúde ou com doença, com ou sem trabalho, amando ou não, sendo amado ou odiado, com ou sem dinheiro, etc.
O que importa mesmo é que você está passando vivo(a) do ano velho para o ano novo.
Assim, antes de tudo, agradeça a Deus por mais um ano terminado com vida, sua maior dádiva, e, com muita fé, peça-Lhe que o(a) abençoe e lhe conceda as graças e virtudes pretendidas, para prosseguir no belo ciclo da vida.
Ainda que por alguns momentos, é bom sonhar ser criança, embalando-se em um balanço, e lembrar das brincadeiras e alegrias da infância.
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de ouro
onde ardiam
os sonhos mais três malhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Até Amanhã
Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.
É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.
É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.
Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.
O Capoeira
- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
- Relacionados
- Poesias de Carlos Drummond de Andrade
- Poemas de Carlos Drummond de Andrade
- 37 poemas sobre o tempo para pensar na passagem dos dias
- 63 frases sobre o tempo para aproveitar cada momento
- Frases sobre processo para compreender o tempo certo das coisas
- Frases de Carlos Drummond de Andrade
- Textos de Carlos Drummond de Andrade
