Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo

Cerca de 229547 frases e pensamentos: Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo

sexto sentido
gesto delicado
abre vestido

pardal sozinho -
primeira aventura
fora do ninho

ouço calado
contigo em Alfama
cantar o fado

canta bem-te-vi
sol por todo o lado
natureza sorri

espuma do mar
adensa o voo das
gaivotas no ar

corda de versos,
janela da prisão:
foge o poeta!

Um rastro de lua
Na rua de rastros
depois que a chuva parou.

gota na água
faz um furinho como
prego na tábua

moinhos ao vento
Quixote e Dulcinéia
no pensamento

patins no gelo -
riscos que se cruzam
como novelo

casal trocado
juntos pulam o muro
lado a lado

mulher aflita
telefone toca
cafeteira apita

⁠Entre Sensações e Cansaços

Diria que a vida é feita de sensações,
que entrelaçam muitas emoções,
das quais não se vê tantas menções.

O que se faz quando todas as palavras
já parecem repetidas?
Já não sei...
Mas sigo a escrever,
mesmo sem sentir que algo irá permanecer.

Gosto de imaginar o cantarolar dos pássaros
que me cercam no desconhecido —
o lugar onde, mais do que reconhecido,
encontro meu verdadeiro eu.
Ali, já não preciso fugir.
Ali, não preciso me inserir.

Pertencimento…
uma falsa convicção criada por aqueles
que mal sabem de si mesmos.
Afinal, onde pertencer,
senão ao próprio ser?

Estou tão cansado,
até um pouco frustrado…
Já não sei o que é me sentir fechado.
Nem tenho mais o desejo de ser encontrado.

Acho que a maturidade
é menos sobre a seriedade
e mais sobre o quanto você se expõe —
por dentro, por fora,
sem precisar de terno,
mas com verdade no interno.

⁠Dia ensolarado

Amor, pra mim, é algo sem cor.
Um sentimento que te rouba tudo, sem pudor.
Faz nascer em mim o mais agonizante ardor,
aquele calor que nada deve-te,
apenas por não te precaver de tanto.

E eu… eu nem tenho palavras.
Como descrever essa sensação
que me rouba o coração?

Às vezes, sinto-me tão elevado
que deixo de olhar as nuvens de baixo —
estou entre elas, envolto, perdido.

Ah, sensação desgastante…
Não consigo não temer
toda essa falta de controle.

Só queria poder deitar em braços
que nunca, nunca me soltassem.

Inserida por momonga_ainz_iruma

Quando vem a saudade
O tempo volta atrás
O amor vem a realidade
Te esquecer jamais

Quando vem a saudade
Tudo faz lembrar
Todo o amor que eu te dei
E tudo volta num piscar

Toda a lágrima
Que por você eu chorei
Não foi em vão
Agora eu sei

Todo amor que eu senti
Por você, não foi em vão
Com você aprendi
A escutar meu coração

Quando vem a saudade
Agora sei, que nunca esquecerei
O quanto te amei de verdade
Um amor que sempre levarei
Para toda a eternidade.

Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifício voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas… Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão: ‘Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono… Que venha um sonho novo, então’.

Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia.

Chorar ajuda por um tempo, mas depois é preciso parar de chorar e tomar uma decisão.

Falam que o tempo apaga tudo. Tempo não apaga, tempo adormece.

Eu não tenho mais tempo para ser aquela pessoa certa na tua hora errada.