Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo

O tempo nos faz esquecer o que nos trouxe até aqui. Mas eu lembro muito bem como se fosse amanhã.

Nem me lembro quanto tempo faz: aprendi a não olhar pra trás.

Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo
Mas não há mais muito tempo pra sonhar

brasa do tempo
acende quando passas
no pensamento

Fiz café para o João e o José Carlos, que hoje completa 10 anos. Eu apenas posso dar-lhes os parabéns, porque hoje nem sei se vamos comer.

Todas as bandeiras se encheram tanto de sangue que é tempo de as banirmos por completo.

O tempo é a medida do negócio.

A coragem é ser ao mesmo tempo, e qualquer que seja o ofício, um prático e um filósofo.

Na verdade, a imaginação não passa de um modo da memória, emancipado da ordem do tempo e do espaço.

Não se trabalha somente para produzir, mas também para dar valor ao tempo.

Procura ser tão gentil com a tua mulher como no tempo que a conquistaste.

A morte não é um mal: porque liberta o homem de todos os males, e ao mesmo tempo que os bens tira-lhe os desejos. A velhice é o pior dos males: porque priva o homem de todos os prazeres, deixando-lhe deles todos os apetites; e traz consigo todas as dores. Não obstante, os homens temem a morte e desejam a velhice.

A busca da solidão é uma tendência do nosso tempo; antes, e desde o seu aparecimento sobre a terra, o homem buscou apenas não ficar sozinho.

Não se descobrem novas terras sem se largar da vista a costa durante muito tempo.

O tempo, tudo o consome e apenas o amor o aproveita.

SOB ESCOMBROS

Um tempo houve em que,
de tão próximo, quase podias ouvir
o silêncio do mundo pulsando
onde também tu eras mundo, coisa pulsante.

Extinguiu-se esse canto
não na morte
mas na vida excluída
da clarividência da infância

e de tudo o que pulsa,
fins e começos,
e corrompida pela estridência
e pela heterogeneidade.

Agora respondes por nomes supostos,
habitante de países hábeis e reais,
e precisas de ajuda para as coisas mais simples,
o pensamento, o sofrimento, a solidão.

A música, só voltarás a escutá-la
numa noite lívida,
uma noite mais vulnerável do que todas
(o presente desvanecendo-se, o passado cada vez mais lento)
um pouco antes de adormeceres
sob escombros.

Não existe defeito que, com o tempo, numa sociedade corrupta, não se torne um mérito, nem vício que a convenção não consiga elevar à virtude.

A tragédia quando somos famosos é que se tem de devotar tanto tempo a ser-se famoso.

Não se pode chamar leitura a essa tremenda quantidade de tempo que se perde com os jornais.

Viva no tempo por mais de uma geração.