Carlos Drummond Sofre por Viver
PLENA MADRUGADA
No calor tórrido da noite
Dos lençóis suados,
Eu fujo para o pátio velho
Cá fora, em plena madrugada.
Ali, eu oiço a cantiga das corujas
Rabujas,
Vejo as estrelas em rodopios
Bailando para todos os lados,
No reluzir dos pirilampos vadios
Prateados e dourados.
Aspiro aquele alísio vento
Quente mas húmido que refresca
O rosto que arde num tormento
De quentura
E formatura
Vampiresca.
A manhã, apanhou-me a dormir
Na velha cadeira
Muito usada e costumeira,
Minha confidente de anos
De tantos enganos.
Meu Deus, como é bom fugir
Aos lençóis do calor dantesco
Meter os pés ao caminho
E de mansinho,
Pela calada vir
Apanhar o fresco,
Cá fora, em plena madrugada.
(Carlos De Castro, in Poesia num País Sem Censura, em 20-07-2022)
AVALIANDO
Pessoas com Idéias Inovadoras são vistas como Visionárias por
SÁBIOS e
Megalomaníacas por
INAPTOS.
Não queira ler este livro, ele irá lhe levar por um vasto mar de descrença religiosa que nunca mais lhe será facilitado a volta a pequena ilha que vivia.
CHORO CONVULSO
Velhinha casinha, meu ninho
E chão do meu pão,
Hoje, somente uma visão.
Ai, aquela chorosa ramada
Fresquinha
E também velhinha,
Onde à sombra minha avó catava
Os meus piolhos da miséria
Nos verões de canícula séria
E depois, adormecíamos os dois
De barriga tão vazia
Como quem cava nas hortas
O silêncio das horas mortas.
Hoje, nem telhados e paredes
Ou janelas, nem sequer portas...
A vida, é um circo de redes
E trapézios tão fatais
Onde há luzes e sons e ais,
Mas quando morrem os mortais
Morre tudo como vedes,
Levados num remoinho
Como a velhinha casinha, meu ninho.
(Carlos De Castro, In Poesia Do Meu Chorar, em 21-07-2022)
Se você ainda não aprendeu a ignorar as pessoas que fazem o mundo ser o que ele é, então você é parte desses que fazem ele ser por causa dos que Nelson Rodrigues um dia disse quem são.
Parece-me que o conceito atual de liberdade de expressão tem calado mais vozes e amordaçado pessoas do que colocado essas vozes em prol do que realmente interessa: a união de forças em prol do bem comum.
(Re)pensando!
Arrisco dizer que 90% das necessidades que temos hoje foram inventadas pelas mesmas pessoas ou grupos que, oportunamente, apresentariam as supostas soluções, com o objetivo de aumentarem seu poder ou se manterem no controle.
POEMA PARA UM IRMÃO QUE NUNCA TIVE
Nasci só para ser só!
Tão só
Que quando nasci
E a luz vi
Disse a minha mãe:
Vê se me trazes um irmão,
Para podermos jogar ao pião...
E os partos dolorosos
Sulfurosos
De minha mãe, continuaram...
Nove anos, após o primeiro passaram
Depois do pedido feito
A minha mãe,
Agora no Além
Mas sem efeito
A súplica minha,
Talvez mesquinha.
E então, cá fiquei até agora
Sem aurora
Neste inverno da vida
Que nunca foi vida, não,
Sem ti, meu imaginado irmão!
Que triste é morrer
Sem ter
A costela de um irmão
Encostada à minha que vive
À espera desse irmão
Que nunca tive.
(Carlos De Castro, in Poesia de Mim Só, em 26-07-2022)
Se houvesse amizade no mundo, jamais os céus seriam feridos, os mares tolhidos e o pão da terra bombardeado.
Os peixes, bailariam com os gatos e os ratos, em danças de alegre simbiose e as montanhas deixariam de parir ilusões.
Naquela tarde, experimentávamos o amor
Não deixamos para amanhã
Não flertávamos com a insegurança
E o que prevalecia era o seu sorriso lindo.
Belos são os cachos dos teus cabelos
Observo um cuidado se revelando
Pressinto o amor existente se aproximando
Há gratidão por ser quem tu és.
INCOMPATIBILIDADES
Pareciam dois namorados
Apaixonados
Mas irrascíveis no fundo,
Temíveis no seu mundo.
Ele, chamava por ela
E ela,
Não respondia
Nem de noite nem de dia.
Depois ela, traiçoeira,
Chamava por ele na ciumeira
De o ver noutros braços
Madraços
Gaudérios
De mistérios
Vagabundos
Dos submundos
E ele não respondia
Nem de noite nem de dia.
E o romance
Por ser só rimance
Sem mais alcance,
Findou.
O poeta, ficou sem a poesia
E esta, de forma direta
Por ser infiel e vadia,
Nunca mais viu o poeta.
(Carlos De Castro, in Poesia Infinita, em 27-07-2022)
PRAGAS E MAUS OLHADOS
Rude destino
Este que só me deixou
Desde menino
Ser o que sou
Sem ser o que queria:
Ator de ganha pão,
Cantor,
Escritor,
Poeta maldito,
Sonhador proscrito,
Padre,
Frade,
Na madre
Mãe do meu grito.
Maldito destino,
Espírito atroz,
Sem letra nem hino,
Demoníaco,
Algoz,
Cardíaco!
Maldita praga
Aziaga,
Me rogaram!
Aterrador olhar me deitaram
Logo à nascença,
Ou talvez até quando espreitaram
A barriga de minha mãe,
Quando como uma prensa
Começou a inchar
A crescer,
A medrar...
(Carlos De Castro, in Poesia num País Sem Censura, em 28-07-2022)
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