Cantico dos Canticos do Rei Salomao
ANTI-VIAGEM
Toda viagem é inútil,
medito à beira do poço vedado.
Para que abandonar seu albergue,
largar sua carapaça de cágado
e ser impelido corredeira rio abaixo?
Para que essa suspensão do leito
da vida corriqueira, se logo depois
o balão desinfla velozmente e tudo
soa ainda pior que antes pois entra
agora em comparação e desdoiro?
Nenhum habeas corpus
é reconhecido no Tribunal do Júri do Cosmos.
O ir e vir livremente
não consta de nenhum Bill of Rights cósmico.
Ao contrário, a espada de Dâmocles
para sempre paira sobre a esfera do mapa-múndi.
O Atlas é um compasso de ferro
demarcando longitudes e latitudes.
Quem viaja arrisca
uma taxa elevada de lassitudes.
Meu aconchego é o perto,
o conhecido e reconhecido,
o que é despido de espanto
pois está sempre em minha volta,
o que prescinde de consulta
ao arquivo cartográfico.
O familiar é uma camada viscosa,
protetiva e morna
que envolve minha vida
como um pára-choque.
Nunca mais praias nem ilhas inacessíveis,
não me atraem mais
os jardins dos bancos de corais.
Medito è beira da cacimba estanque
logo eu que me supunha amante
ardoroso e fiel
do distante
e cria no provérbio de Blake que diz:
EXPECT POISON FROM THE STANDING WATER.
Ou seja:
AGUARDE VENENO DA ÁGUA PARADA.
ÁGUA ESTAGNADA SECRETA VENENO.
Como tens sabido, demoro a dormir com o pensamento em você; e, se consigo dormir, é contigo que sonho.
Nem alto e nem baixo, nem gordo e nem magro, nem feio e nem bonito. Eu sou assim, nem ali e nem aqui.
Disse que eu não sabia mentir. Talvez eu não soubesse mesmo. E eu também não queria. Se por um lado eu não dizia uma palavra sobre meus sentimentos, por outro eu não fazia esforço para escondê-los
Eu senti saudade, sabe? Eu não admiti isso para ninguém, e não queria estar admitindo para mim mesma. Acho que não adianta tentar encobrir a realidade com palavras bonitas, a verdade é que eu senti saudade mesmo.
Minha arte é como um jardim, onde qualquer pessoa pode passar e pegar uma flor, pode dar para alguém, pode receber de alguém. Por enquanto é assim que tem sido, o jardim está crescendo, e ficando cada vez mais perfumado.
Nunca diga que me ama
Nem tampouco que me odeia
O segredo e beleza da aranha
Se revelam em sua teia
Não tenho mais tempo pra ouvir
Sobre ódio guerra e violência
Eu prefiro conversar
Sobre amor e paciência
Entre risos e pranto
Longas noites sem dormir
O coração grita e canta
Por não saber onde ir
Por mais que a razão
Seja uma seta precisa
Me perco na direção
Esqueço onde se pisa
Chego a me questionar
Porque tem que ser assim
Não sai mais do meu pensar
Mas isso não é ruim
Entre dor e alegria
Eu deixo o tempo passar
Quem sabe passa um dia
Espero por não passar