Caio Fernando Abreu sobre Amizade

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Discretamente enviei sinal de socorro aos amigos. Ninguém ajudou. Me virei sozinho. Isso me endureceu um pouco mais.

Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica.

Um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu me esquecesse de mim.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

Nota: Por vezes atribuído de forma errônea a Clarice Lispector.

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Um amigo de verdade consegue enxergar a tristeza em seus olhos, quando todas as outras pessoas apenas enxergam o seu sorriso.

Foi bom demais te conhecer. Me deu uma fé, uma energia. Sei lá. Amizade é tudo.

Amigos não "são para essas coisas", não. Isso é um clichê detestável, significando quase sempre que amigo é saco de pancadas.

Me cerco de boas intenções, me reservo pros poucos e melhores amigos. Me encho de luz. Me permito o riso.

Não devemos nos perder, somos tão poucos, meu amigo. Cuide bem de você, não sofra sem necessidade.

Não sei se a gente pode continuar amigo. Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções. Fico tomado de paixão. Há tempos não ficava.

Existem companheiros, muito mais do que amigos, existem pessoas que fazem a nossa vida muito melhor. Quando pensamos que tudo está acabado, ela vem e diz tudo, tudo o que precisamos pra levantar e seguir em frente, pra que o sorriso volte ao nosso rosto, e o coração bata forte outra vez. E agradeço a Deus por ter colocado uma pessoa dessa na minha vida, que entrou há pouco tempo, mas entrou pra mudar tudo.

Às vezes eu tenho vontade de ter outra vez um amigo como aqueles que a gente tinha na adolescência. Aqueles pra quem você contava tudo.

Discretamente, enviei sinais de socorro aos amigos. Ninguém ajudou. Me virei sozinho. Isso me endureceu um pouco mais. Não foi só você, não. Foram também pessoas até mais íntimas, (…) me virei sozinho com enormes dificuldades. Não me lamuriei. Mas preciso que as pessoas saibam que isso doeu — exatamente porque algumas destas pessoas (…) importam para mim.

Tem sido bom. Amigos cintilam em volta, estendem a mão na hora certa.

Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

Nota: Por vezes atribuído de forma errônea a Clarice Lispector.

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Amor não resiste a tudo, não. Amor é jardim. Amor enche de erva daninha. Amizade também, todas as formas de amor.

Caio Fernando Abreu
ABREU, C. F. Cartas. Moriconi, Ítalo (Org.). Rio de Janeiro: Aeroplano. 2002.

Podia ser só amizade, paixão, carinho,
admiração, respeito, ternura, tesão.
Com tantos sentimentos arrumados
cuidadosamente na prateleira de cima,
tinha de ser justo amor, meu Deus?
Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo;
aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim.
Dilacerando felicidades de mentira,
desconstruindo tudo o que planejei,
Abrindo todas as janelas para um mundo deserto.
É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias,
me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos,
ilumina o corredor por onde passo todos os dias.
É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris,
pisar sobre estrelas e acordar serena.
É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito,
preparar uma massa, sentir seus cílios.
“Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã
e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje?”
Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar.
Não negue, apareça. Seja forte.

Porque é tão mais fácil aturar a vida sabendo que tem você. Agora sem você, meu amigo, a coisa é feia. Realmente feia.

Não deixe que o amor te faça desistir de uma boa amizade, você sabe.

Não puxo saco de ninguém, detesto que puxem meu saco também. Não faço amizades por conveniência, não sei rir se não estou achando graça. Odeio dois beijinhos, aperto de mão, tumulto, calor, gente burra e quem não sabe mentir direito.

Ficava no ar aquela coisa assim: "Um dia, se houver oportunidade, ainda seremos bons amigos".