Jean la bruyère

Os vícios entram na composição da virtude assim como os venenos entram na composição dos remédios. A prudência mistura-os e atenua-os, e deles se serve utilmente conta os males da vida.

O mal que fazemos não atrai contra nós tanta perseguição e tanto ódio como as nossas boas qualidades.

Se julgarmos o amor pela maior parte dos seus efeitos, ele assemelha-se mais ao ódio do que à amizade.

A prudência e o amor não se fizeram um para o outro; à medida que o amor aumenta, a prudência diminui.

A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.

Falta muito para que a inocência tenha tanta proteção como o crime.

Louvam-se ou criticam-se muitas coisas porque está na moda louvá-las ou criticá-las.

É uma grande habilidade saber esconder a própria habilidade.

O silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo.

Os velhos gostam de dar bons conselhos para se consolarem de já não estarem em estado de dar maus exemplos.

Ninguém pode pronunciar-se acerca da sua coragem quando nunca esteve em perigo.

A verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que é preciso e em só dizer o que é preciso.

Quando não encontramos o repouso em nós próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado.

Descobrem-se maneiras de curar a loucura, mas não se encontra nenhuma para endireitar um espírito louco.

Nem o sol, nem a morte se podem olhar fixamente.

Um verdadeiro amigo é o maior de todos os bens e entretanto, é aquele com que menos nos preocupamos em adquirir.

Prometemos conforme as nossas esperanças e cumprimos segundo os nossos receios.

Há pessoas tão cheias de si, que quando estão apaixonadas, acham maneira de se ocupar da sua paixão sem fazerem caso da pessoa a quem amam.

Cada um de nós faria mais coisas, se as julgasse menos impossíveis.

É melhor empregarmos o nosso espírito em suportar os infortúnios que nos acontecem do que em prever os que nos podem acontecer.