Camila heloíse
Vivemos na crença de que somos tudo o que pensamos, na ignorância dos processos involuntários da mente.
A vida que sentimos, no ritmo feroz do cotidiano, passa despercebida entre o barulho dos nossos pensamentos.
Os mecanismos de defesa da mente se valem dos mais singelos atos do cotidiano pra refrigerar a alma da intensa agonia.
O poeta mesmo quando não escreve em versos, deixa na suas linhas escritas um pouco de poesia, e não é a vida, ela própria uma poesia?
Quantos julgamentos carregamos sem nem imaginar que não é uma crença nossa, mas uma ideia colocada em nós pelas experiências vividas?
”Estava sentada numa tarde de domingo tomando meu café quando me vi perguntando: o que é o amor? Será que amor é aquele sentimento que provoca calafrios e arrepios?!
Será que isso que é o amor?
No mesmo instante em que eu levará a xícara de café em minha boca, fechei meus olhos e perguntei ao meu consciente em busca de uma resposta: o que é o amor?
Nesse mesmo instante veio à imagem dela em minha mente enquanto eu apreciava meu café de olhos fechados... ela estava linda, como ela é linda, linda dos pés a cabeça, dona dos olhos verdes claros como as águas de Maragogi e de sorriso fácil e maroto, assim é ela... Me peguei sorrindo atoa.
Abri meus olhos e olhei para minha mão que estava trêmula segurando a xícara de café e foi aí que eu entendi o que é o amor.”
O cheiro de laquê no meu cabelo
a fadiga satisfatória do meu corpo inteiro
Memórias que me fascinam
que me envergonham
me ensinam
O cheiro das luzes ao som da fumaça
e lembrança que passa
que voou.
Do empenho e da rotina de quem, legitimamente
constante e sorridente
se preparou.
A felicidade estampada
a criança com sincera risada
e a descrença, velada, superada
da força que revela sem ter mentido
sem ter mentido em nada.
A abundância que cresce
a coisa toda que, como um filme, se esvanece
numa confusão tão tranquila
pra quem sempre e nunca pronta
já se apronta na fila.
A satisfação, a crítica;
mas um amor tão sincero por toda a mística
de quem misteriosamente e sem saber por que
vive assim, sem querer
de maneira tão doce, às vezes tão cítrica,
a imensidão que só há numa vida artística.
Ninguém pode verdadeiramente se colocar no lugar do outro, mas apenas na sua ideia do que é o lugar do outro e assim acabava, invariavelmente, voltando para o seu próprio lugar.