Bolero de Ravel Carlos Dummond de Andrade
Porque (Carlos Drummond de Andrade)
Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento
O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios
Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo,
Por que não me convertes em rochedo,
Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis,
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer dessa chaga meu prazer
Certamente, existem atos que só acontecem porque os tememos. Se o nosso medo não os convidassem, não viriam.
Eu queria sair por aí e conhecer alguém, alguém que me leve ao cinema e depois de um filme sem graça me roube gargalhadas, me roube um beijo no meio de uma briga e me diga que eu canto mal e falo demais, que ria das vezes em que eu for desastrada e me olhe nos olhos quando falo, conhecer alguém imperfeito feito pra mim.
Toda garota já se arrependeu de ter cortado o cabelo, já quebrou a unha, já comeu chocolate ou sorvete pra matar a tristeza, já se apaixonou pela pessoa errada, já brigou com a melhor amiga, já se ferrou em alguma prova, já se atrasou, já ficou zangada sem motivo, já chorou de tanto rir, já duvidou de alguém, já pensou bobeiras, já teve pesadelos, já ficou 1h no telefone. Toda garota tem um bicho de pelúcia, acredita na amizade entre meninos e meninas, tem um ídolo, um livro preferido, uma mania irritante, um vício e uma paixão platônica. Toda garota já correu riscos por uma pessoa que não mereceu. Toda garota já se arrependeu e já errou. Mas cada uma é especial, por fazer muito mais que isso, e continuar possuindo a beleza e o carisma que encanta a todos.
Pega o telefone liga pra ela, diz que sentiu sua falta e que está indo visitá-la. Lembre-a do quanto ela é especial, do quanto seus olhos são bonitos, do quão sincero é teu sorriso. Faça isso antes que outra pessoa faça e ela definitivamente esqueça de você.
Desavisadamente, abrimos mão das melhores histórias de amor que poderíamos viver, simplesmente porque, bem lá no fundo, temos medo de tudo o que ela transformaria em nossas vidas. Assim, preferimos os amores difíceis, complicados, dolorosos, não-correspondidos, que nos tiram do eixo e nos roubam o equilíbrio.
Eu queria te falar o que sempre esteve na minha mente, mas agora você não está mais aqui do meu lado. Você se foi, mas tudo continua igual - só há menos razões pra se viver.
Eu não existo sem você
Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você
Para pensar
Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia suficiente para os realizar, apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos. Uma só idade para nos encantarmos com a vida, para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que podemos criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a disposição de tentar algo de novo, e de novo, quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do instante que passa.
Nota: Erradamente atribuído a Mário Quintana, trata-se de uma versão adaptada do poema "A idade de ser feliz" de Geraldo Eustáquio de Souza.
...MaisSoneto a quatro mãos
Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.
Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.
Mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros.
A Hora do Cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Nota: Poema pertencente ao livro "Amar se aprende amando" de Carlos Drummond de Andrade. Link
