Bolero de Ravel Carlos Dummond de Andrade
"....Fiz até uma promessa, que vivo a suplicar.
Quando minha hora chegar,
Esperem a noite alta e me joguem inteiro no mar.
Vou virar mistura de lama, coberto de calcário, envolto de sal,
Para nascer como pedra, estendido a beira mar.
Então, nem queira saber, que alegria será,
Eu me vivendo banhado de ondas, a relembrar,
Toda a vida que viceja, quando se descobre um olhar...."
Fragmento Poema O QUE JOÃO ME CONTOU
- Em homenagem a João que já virou Pedra no Mar do Sul
Indagação
E se todas as matas tombarem.
Todas as águas turvarem-se de fel e cinzas.
Todas as nuvens perderem o céu.
Se a terra for pisada pelo fogo,
E a lua, o sol, o vento, não mais encontrarem os homens.
Quando não mais amanhecer a natureza da vida,
Qual o dia que ficará, para os que perderam a memória do mundo?
Se me encontrares,
Na rua ou numa canção ao vento,
Deixa a semente de tua boca,
Tecida em mim num lampejo.
" Apanhamos a noite entre as mãos,
E nela bordamos estrelas.
Num céu tecido,
Por nossos olhos alumbrados".
"... Não quero a prudência,
do silêncio que não ressoa.
Vou inventar-me de sonhos,
ainda não vistos..."
QUANDO TE SONHO
Quando me aposso da noite do sonho,
Os pés do mar correm em ondas,
E querem se aformosear em teus passos.
Tornam-se seixos encravados em tua espera.
Na terra os braços do vento te acariciam.
Matizam-se de cores para ornar teu ventre.
Tua boca me incita,
Ao não desver o querer imaginado.
Não desperto. Cubro-me de ousadia.
Continuo te inventando,
Antes que desenleie o dia da saudade,
Entre uma e outra possível eternidade.
Eu gosto dessa parecença almejada de alma.
As vezes tento ficar parecido,
com o que deseja meu ser.
"...Cada palavra que teço,
é para ouvir outras vozes,
anunciadas nas esperas,
em que me refaço nos pés do tempo..."
Quando enxergamos o mundo em que vivemos e o sentimos.
Somos tomados por duas vertentes potentes.
A sensibilidade mostra-nos o que deve ser percebido, e em olhando para além das aparências, aprofundarmo-nos como a raiz na terra.
Daí advém a capacidade de sentirmo-nos encorajados a semear mudanças.
Reflexão sobre o Dia Mundial da Terra
Comentário sobre a Língua Portuguesa:
Em nossa língua oração é construída ao verbo.
O sujeito está então sentenciado.
Numa conjunção de tempos passados, presentes e futuros,
Onde se mesclam adjetivos e a vírgula fica ao lado.
Mas eu confesso que busco os substantivos, sem desprezar os predicados.
E quando me ponho a tecer frases exclamativas ou declarativas,
vem-me as imperativas, a interrogar-me sobre as optativas que se depreendem na singularidade.
Faço oração para encontrar o sujeito absoluto em sua simplicidade.
Aprendi assim à oxítona amar e a expressão única da saudade.
Mãe
Mãe é mão estendida por entre o tempo.
Cantiga que ressoa no ir e vir do percurso.
Acalanto que fica na vivência erguida.
Braço estendido para além do sim e do não.
Embora se cresça em tamanho e fazeres,
Mãe é farta em entremear escolhas,
Deixando-nos o amar sem punição,
Que nos faz ser em cada acolhida.
Mãe é terra que em nós frutifica,
Tornando-nos sementes de superação.
É voz que fica na memória sentida,
Tramada de ternura no balbuciar da vida.
Mãe é ventre que embala o que nasce.
Que do pão se reparte mesmo que falte,
Como fermento de amor que sempre fica.
Mãe é palavra maior, que se entrelaça no coração.
Então já não me ia sem ti. Não te ficava de mim, sem levar-me.
No desterrar partilhado, na descoberta crivada de anseio,
Nos revestimos renascidos na candura colhida.
E nessa luz feita morada, acolhemo-nos na lucidez enternecida.
Porque amar, é instruir-se no desvelar do outro revelado.
QUANDO TE OLHO
Ao te olhar com desflorado desejar,
Como quem amanhece tua procura,
Envaideço-me em tuas palavras vertidas,
Que se refazem teias para me cobrir,
Como se de teus laços em mim tecidos,
Eu só posso olhar-me,
Como quem em ti se clarifica.
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