Aviao sem Asa Fogueira sem Brasa sou eu assim sem
Se me perguntassem
Qual o melhor destino
A Humanidade deveria seguir
Eu não saberia responder
Pois não o há como saber
E eu jamais fui muito bom
Em dirigir nem mesmo a minha vida
Mas eu creio que o melhor rumo
Pra conduzir os caminhos do Mundo
Não seja este
Há quem diga que a melhor espada
Passa pelo malho do martelo,
Pela bigorna e pelo fogo
E que toda semente
Precisa morrer para germinar
Eu sei dizer somente
Que as pessoas que vivem neste mundo
Não são espada e nem semente
Depois de tanto errar na vida
Muita coisa foi aprendida
E hoje eu vejo as coisas
Muito mais claramente
E sei que o mundo precisa
de cada um de nós
Porém eu não tenho voz
Que possa gritar tão alto
E sei também
Que ninguém me perguntou
Infelizmente
Edson Ricardo Paiva
Se eu tiver que prestar contas
Que seja pra Deus
Se tiver que errar
Que seja na loteria
Se for pra acertar
Também
Se tiver que sentir saudade
Que seja da infância
Se tiver que ser difícil
Que sejam palavras cruzadas
das coisas que não entendo
Me basta o extrato bancário
Aliás
Se for pra me cobrar
Que seja o cartorário
Pois
Se eu tiver que pular
Que seja amarelinha
e se for pra rir
Que seja de mim mesmo
e se for pra me bater
Que seja a minha mãe
que teve anos de prática
e batia com muito amor
Mesmo quando doía
Aliás
Se é pra doer
Que seja na barriga
de tanto rir
Se for pra ter briga
Que seja na TV
Se for pra não me entender
Que sejam meus poemas
Se tiver que haver problemas
Que seja na linha telefônica
No dia em que o cartorário
Me telefonar cobrando
Se for pra eu não entender
Que seja o gato aqui de casa
E se for pra cortar
Que sejam as unhas
Se for pra me tirar água dos olhos
Que seja uma maçã bem verde
Pois
Se for pra exigir
Que sejam meus filhos
E se for pra fazer sacrifícios
Que seja no almoço de domingo
na casa da minha mãe
Numa mesa bem cheia de gente
Ela sempre põe um pouco mais
de comida no meu prato
e sempre foi muito exigente
Se eu tiver que voltar atrás
Que seja pra buscar a carteira
Que vivo esquecendo em casa
Se eu tiver que jogar
Que seja bolinha de gude
Se eu tiver uma atitude
Que seja uma vez só
Pois, se tiver que ser um saco
Que seja de batata frita
Mas
Se for pra morrer
Que seja de rir
E nesse momento de alegria
Que alguém tire um retrato
E, se eu tiver que dizer adeus
Que seja pra tristeza
Edson Ricardo Paiva
Eu creio somente
Naquilo que existe
E não nas coisas que eu vejo
Simplesmente porque eu
As veja
O mal muitas vezes me corteja
E me alveja com olhos perversos
Isso acontece
Muitas vezes ao dia
E ele age lentamente
Procuro desviar-me
Faço charme
e o deixo descontente e triste
Prefiro a companhia dos anjos
E se anjos não há
Eu os invento
E creio neles
Solicito-lhes proteção
Então
Passo a sentir no coração
A divina presença
Que sempre acompanha
Aqueles que, de alguma forma
Fogem às normas estabelecidas
Por aqueles que enxergam a vida
Como um jogo
Cuja regra é
Simplesmente vencer
Ignorando
Que todos nós caminhamos
lentamente
Ao derradeiro e eterno sepulcro
E no fim dessa caminhada
A gente deixa o que plantou
E quem somente quis colher
Se esqueceu
Que não há de levar
Nada.
Edson Ricardo Paiva
Se um dia me perguntassem
Se eu algum dia fui feliz
Eu responderia que não sei
Tentei, me virei, desisti
Creio eu que tal coisa
É um Estado de Espírito
E acho que quando eu nasci
Isso não estava no contrato
Não dá pra ser feliz aqui
Sabendo que existe
mais de um Brasil
E dentre esses muitos Brasis
Eu creio que nem eu
E nem a imensa maioria
Nasceu naquele em que quis
Fora isso
Esse lugar está em um mundo
Onde nem todo mundo
é realmente feliz
Não sei dizer ao certo
O nome completo que se dá a isso
Onde a fome é algo concreto
E cada um que tem
um compromisso
a honrar
é consigo mesmo
Mesmo assim, na medida do possível
Procuro não me sentir infeliz
E sou grato a todos
que caminham comigo
e compartilham suas vidas
Com este ser cheio de dúvidas
Que sou eu
Quando todo mundo for feliz
Então, eu também serei
Até lá
Não me façam perguntas
Cuja resposta
Eu não sei.
Edson Ricardo Paiva
Um dia
Eu tentei escrever
Poesia
E quando o dia amanhecesse
ter em mãos um poema escrito
Um poema
Bonito, pra quem o lesse
Sem querer entrar no mérito
dia desses, eu queria
Escrever assim, do meu jeito
No pretérito imperfeito
ou no futuro do subjuntivo
Pra falar do Sol
ou do Céu encoberto,
Falar do futuro incerto
e das portas fechadas
ou, quiçá, falar das estrelas
que eu vejo na madrugada.
Eu deixei as janelas abertas
para vê-las
Iluminei meu quarto
à luz de velas
Brinquei com as sombras das mãos
nas paredes escuras
Pensei em todas as esperanças
Concretas e vãs
Que temos ou tivemos
Analisei cada uma
das conjecturas possíveis
Viajei pelas estrelas
e lugares
pra lá de inimagináveis
Adormeci, sonhei e acordei
e quando dei por mim
A vela se acabou,
o dia amanheceu
A noite chegou ao fim
e a inspiração
não tinha vindo
senão
Eu faria um poema lindo
e depois
eu o dedicaria
De mim
Para tudo mundo.
Edson Ricardo Paiva.
Meu endereço
é na rua do esquecimento
Porém, no momento
Eu sai à passeio
Viajei para o passado
estou de fieira na mão
No chão, meu pião vai rodando
ao meu lado estão diversos
dos melhores amigos
que me deu a vida
Estamos na hora do recreio
Estamos numa outra dimensão
Estamos
Sem nenhum centavo em nossos bolsos
e estamos felizes
Como nunca mais seremos
Temos um futuro ainda
No qual, eu garanto
Se a gente imaginasse
Como seria
Teríamos brincado
Um pouquinho mais
Naquele dia
Teríamos agradecido
com um brilho a mais nos olhares
a tia da merenda
a professora
e o Sol que brilhou tão forte
naquela tarde, tão linda
Que passou, que ficou no passado
Porém, em algum lugar
Ela ainda existe
Então eu volto pra casa
Num lugar chamado saudade
Porém, quando volto
Não me sinto mais assim
tão triste
A vida é pra frente
nisso ela consiste
Mas eu juro
Que sinto muita pena
daqueles que cresceram,
chegaram no futuro
e lá ficaram
Sem jamais se dar ao direito
de voltar a visitar
o seu eu-menino
Que se encontra sempre lá
brincando e rindo
naquele lugar onde as coisas
nunca eram e jamais foram
todo dia do mesmo jeito
da maneira que são agora
Edson Ricardo Paiva
Depois que eu olhei teu olhar
Percebi que algo mudou em mim
Notei também que a sua alma
Exala um cheiro de jasmim
Ou de alecrim
Só sei dizer que aquele olhar
Me despertou tamanha calma
Que há muito tempo eu não sentia
Se é que em algum dia o senti
Em horas iguais aquela
Tudo pára
Nada se move
Tem vidas em que a gente espera
Uma vida inteira
Por uma hora igual àquela
E quando acontece
É que percebe
Que não se preparou
Praquela hora
Que às vezes demora
duas ou três vidas
Pra que aconteça
E aquela emoção, há tanto contida
te paralisa de tal forma
Nessa hora
Que talvez seja somente o tempo
de soprar uma brisa
E aquele olhar foi-se embora
Agora
O jeito é esperar
Outra vida.
Edson Ricardo Paiva.
Meu lugar é
e sempre será
Aquele
onde eu estiver
Portanto
Procuro não precisar
nada além daquilo
que eu mesmo possa carregar
Meus olhos enxergam
muito perto
Mas
Tenho um coração tranqüilo
enquanto outros
São desertos
Agradeço sempre à vida
por cada graça recebida
e procuro aprender a lição
Que sempre vem contida
em cada verso
e saber
Que cada coisa tem seu tempo
e cada tempo o seu momento
Meu lugar é
e sempre será
onde eu estiver
e não aqueles
aonde o vento me leva
Procuro ter
Aquilo que eu plantar e colher
e sempre juntar e dividir
com tudo que o vento me trouxer
O segredo
é ficar perto daquilo
que faça sentir a alma leve
Tempo infinito
Vida breve.
Edson Ricardo Paiva
No lugar onde eu moro
O vento sopra de noite
Quero-quero canta de dia
Às vezes os papeis se invertem
E o vento sopra de dia
Quer-quero canta de noite
Horas há, também
Em que tudo se mistura
E o vento e o quero-quero
Sopram e cantam noite e dia
E ambos se divertem
em me ver
na dúvida mais pura
Abrindo a janela
e fechando as cortinas
Abrindo as cortinas
e fechando a janela
Centenas de vezes ao dia
e às vezes
Também de noite.
Edson Ricardo Paiva.
Enquanto o tempo passava
E enquanto eu aprendia
Ria da cara da sorte
Não sentia medo
Nem mesmo da morte
Um dia, então, me enganei
Abandonando aquele escudo
Por pensar que sabia de tudo
Saindo ao mundo
Sem nem mesmo um guarda-chuva
Cara fechada, coração vazio
Sem medo de perder
Por sentir, que tudo já estava perdido
Ontem, eu acordei com medo
e eu o sinto, ainda hoje:
Medo de quebrar cristal,
Medo de perder o que não tenho,
Medo de perder de novo
Tudo que estava perdido
Um novo medo a cada passo
Medo de escrever coisa boba
Medo de morrer num sonho
E não voltar nunca mais
Medo de perder sorrindo
Como naqueles jogos de gincana
A toalha de linho,
A luz na janela,
As xícaras de porcelana
E aquela esperança que eu tinha
Um medo que eu pensei
Que não ia sentir nunca mais
Medo da despedida
Onde a última alegria desta vida
Se vá
Sem nem mesmo olhar pra trás
Edson Ricardo Paiva
Se a vida acabasse hoje
Eu juro que a deixaria
Um pouco triste
Pelas coisas
que não fiz ainda
Mas algo
Sempre há de ficar inacabado
E sem resumo
Se esta noite eu partisse
Diria que não fiz
Aquilo que eu tanto queria
Mas sereno
Por lembrar-me que disse
Se hoje
O Dedo de Deus
Apontasse pra mim
E dissesse
Que a hora do fim era agora
Eu iria embora um pouco triste
Porém, sem remorsos
Nenhum arrependimento
Sequer pelos muitos erros
Que eu cometi
Enquanto pensava acertar
E triste eu iria
Nos braços de uma isquemia
Uma hemorragia cerebral
Tanto faz, não faz mal
Na hora da partida
Qualquer despedida é igual
Creio ter feito
Menos o mal que o bem
Não deixaria ninguém
Que tenha sido
importante pra mim
Sem antes ter dito muitas vezes
Sobre a importância que tiveram
Nesta e em todas as outras vidas
Se minha vida acabasse hoje
Creio ter sido esta
A minha poética despedida.
Edson Ricardo Paiva
Eu gosto mesmo é de ser criança
Subir-me num pé de sonhos
Me arvorar no galho mais alto
E imaginar que esses anos passados
Foram só devaneios de infância
E que vou descer de lá
No meio de algum quintal que existe ainda
Pode ser naquela linda hora triste
Em que a mãe mandava ir tomar banho
E banhar-me de toda malícia
Dessa astúcia adquirida
Nas feridas que a vida trouxe
Enquanto a vida não tirou-me ainda
da mente essa doce lembrança
E de novo encher-me de sonhos
Criança nasce de novo, todo dia
E no dia que não mais for assim
Não é mais infância.
Criança deseja, sim
Ter aquilo que não tem
Mas, se não tiver, nem liga
Criança não é mulher e nem homem
Criança é criança
Come o que todos comem
Mas na hora de sonhar
Ninguém sonha melhor do que ela
Aquela briga boba pela vida
Ainda não lhe pertence
Tanto faz, quem vence ou quem vence
Pensa assim...e assim todos vencem
Criança tem paz, sorri para a vida
Não faz mal se a vida não sorri de volta
São tudo coisas da vida
E nada que a vida fizer
A convence a desistir de nada
Criança volta pra casa
Vencedora e satisfeita, todo dia
As dores de hoje
Não vão mais doer amanhã
Criança não tem
Cicatrizes na alma
Hoje, por maior seja
A calma com que eu desça
Do galho do pé de sonhos
Os velhos pés sentem dor
Pior é a dor de não saber
Se hoje o meu sonho maior
É o sonho de eu
Nunca mais subir lá
ou de lá
Nunca mais eu descer.
Edson Ricardo Paiva.
"Ontem eu era alguém
Que não sabia quem era
À espera do dia de hoje
Onde, longe de ser quem era
Eu digo que tanto faz
Pois de tanto ter sido quem era
Agora eu não sei quem sou
Mas quem eu era já não sou mais"
Edson Ricardo Paiva.
Nobre formiga
Muito cedo eu me acordei
E dei de cara com ela
Em sua eterna labuta
Inutil briga perdida
Por vida
Que não lhe pertence
Não liga pra quem a perde
e tampouco também lhe importa
Quem vence
Só luta
Tal modo, tão desprendida
Quão desprovida de nada
Que quase que me convence
a tentar imitá-la
Pobre cigarra
Se agarra a um sopro de vida
No galho da rama amarga
Vida afora se lastima
Em formato de canção
Pequena oração que não rima
E às vezes se cala
Até secar-lhe o coração
Pouco lhe importa
Quem colhe...ou quem planta
Só canta sua curta existência
Pra depois quedar, desarvorada
Acercada ao meu quintal
Onde a pequena rosa
Não tece e nem fia
desafia o mundo e a sua lógica
Num trágico colorido
Que aflora, monocromático
E de forma um tanto imprecisa
Quando é manhã
Meu triste olhar ela alisa
Prepara-me as vistas
Pr'outro longo dia
Sorumbático e sem conquistas
Tanto faz se as tive ou não tive
No tempo, hoje automático
Por pouco que não me contive
A tentar procurá-la
Num lugar onde não se a encontra
Nada se parte, nada se fica
Se possível, um tanto assim de arte
Não me importa se ela é ruim
Fraco sopro de vida que assim corre em mim
Um dia ainda há de ser boa
Enfim, sei que hoje é outro dia
de vida a viver-se à toa.
Edson Ricardo Paiva.
Hoje
Eu gosto de saber
O quanto é curta a vida
Longe
Encosto meus ouvidos
Na parte estreita
Escondida nas dobras do tempo
Pois o tempo sim, se curva
Estronda uma trova
Um dobrado
Apito de trem
Um grito que me vem
do outro lado
Prova
Que apesar de ser
Curta a vida
A vasta estrada continua
Basta saber
O túnel
Que deve ser atravessado
depois da próxima curva
Onde existe um rio de águas turvas
Ou uma linda alameda
Que culmina
Em límpida queda d'água
e envereda
Noutra estrada
Esta, bem colorida
Onde se vive
Pro resto d'outra vida.
Edson Ricardo Paiva.
Se estas palavras ao Céu chegassem
E um desejo Deus consentisse
Eu pediria que os olhos dela
Meu olhar com seus olhos visse
Desejaria que me quisesse
Aquela:
Linda, única e bela.
Se minhas palavras a ela chegarem
E seus olhos me procurarem
Eu direi pra esta mulher
Meus olhos só teus serão
Se você quiser
Edson Ricardo Paiva.
Eu não sei escrever
poesia bonita
Como as fazem os poetas
Mas a minha é sincera
Tão fingida
e mais mentirosa
Que as deles
Do jeito que se espera
Quando se lê poesia
Um pouco de versos
Um dedo de prosa
E inverdades
Das quais lanço mão
No formato de poesia
Deixo-as aqui
Pra não usá-las
no meu dia-a-dia
Diferente dessa gente
Que traz na ponta
da língua comprida
E não tem paz na vida
Se não conta.
Edson Ricardo Paiva.
Eu me perdi
Faz tempo que eu ando
Perdido na vida
Não me sinto culpado
Este mundo é um grande labirinto
Portanto, estamos perdidos
Sem saber que o melhor que fizemos
Foi o fato de não termos lido
O aviso que havia na entrada
Dizendo que poucos de nós
Vão querer encontrar a saída
Mas um dia, a saída nos encontra, isso é fato
Contra o qual, ninguém pode fazer nada
Mas há sempre a opção
De deixar uma boa risada
Apagando o ruido da dúvida
Que essa vida tem fim
Mas que nada foi perdido à toa.
Edson Ricardo Paiva.
Hoje eu fiz café
E desfiz a amizade
da saudade que eu sentia
de mim mesmo
Parece a semana passada
Mas faz muito tempo...
Eu sentia um perfume
Que até hoje eu não sei ao certo
A vida não era
Um caminho de estrelas
A vida era o nada
Onde a trilha era delas
Meus pés vão pisando outro chão
Onde o brilho são vagalumes
Hoje eu fiz café só pra mim
Hoje eu vi que tinha
Borboletas coloridas
Bordadas
Na única xícara que não quebrou
A vida ilude
Mas não faz feliz
Acordo outra vez
Agora não sou mais
Um menino de giz
Desenhado num muro
Novamente me vi de pé
Transbordando o café na pia
Acordo de novo
Dessa vez
No mesmo dia
Percebo que nunca mais
Quero estar perdido
O poema de hoje
Ainda nem foi escrito
O dia de ontem
Escurece no esquecimento
Borboleta que pousa na minha mão
Minha única xícara
Linda... e última vida.
Edson Ricardo Paiva.
