William Philippe.

26 - 29 do total de 29 pensamentos de William Philippe.

À minha mulher.

Apaixono-me dia após dia
pelo odor da sua ruminância,
pelo sabor do líquido que expelia,
pelo tato da sua carne em putrefância.

Expeli em mim, mostra-me
todo o seu resto de humanidade,
tudo o que tens de semelhante
com os animais, decomponha-me.

Se a podridão da morte vive
em teu fim, é onde sentir,
sentirei, serei quem convive

com o afago do enxofre
que ao meu cerébro a de subir,
fazendo meu último dia, hoje.

Inserida por WilliamPhilippe

A insegurança de um touro.

O que me ilude é toda a incerteza,
é toda a possibilidade inscrita no riso,
o que foi visto valera
tudo que não foi dito.

O que matou a capacidade de raciocinar,
o que plantou o não saber,
tudo aquilo que faz esperar
faz a alma e o corpo tremer.

A insegurança de um touro,
a vontade que o cadáver exala,
se o segredo é vindouro
não fui eu quem contara.

A literatura é a fuga da alma,
o inferno é o recanto do espírito,
se no templo é onde queimará
o incerto corrobora o mito.

Inserida por WilliamPhilippe

Poemas à morte - 6

Estranhos perante a luz
se refugiam no breu da noite,
onde é que se produz
força assim, cavalgando à foice.

Se a neblina densa lhe cobrir
não se assuste, há sempre alguém
a quem irá seguir.
Hoje não há ninguém.

Ontem o que lhe cativa,
hoje lhe repele.
Ontem o que lhe ilumina,
hoje lhe escurece.

O hoje é quem lhe matará,
se estará pronto não é questão,
a morte lhe sugará,
a morte é inquisição.

A morte é a sua alma,
a morte é luz em ascendência,
a morte está na vida mascarada,
a morte é um, sem insistência.

Inserida por WilliamPhilippe

Vermelho.

Cada dia que passo sem sua presença,
é um tiro no peito do ecossistema,
é vazio paralelo com a cheia,
de estar cansado de contar as teias
dessa armadilha presa em minha cabeça.

És o que não admito nem a mim,
ouço as paredes reclamar
do que eu não lembro.
Eu ouço o som do lamento,
lágrimas sendo levadas pelo vento,
eu tento, incremento, isento você da culpa.

Renuncio-lhe de mim!
Volte quando o nunca mais existir,
quando o nunca for usado corretamente,
quando o vocábulo estiver de acordo
com os sentimentos do remetente.

E os poetas choram, falam em versos.
ludibriam pobre alma,
nunca será estrofe inteira,
fora partida de maneira
que desces a ladeira,
caco em caco, aos pedaços.
Parecendo vosso amor.
Ficou incompleto.
Faltou você.

Inserida por WilliamPhilippe