Valter Hugo Mãe
Aprendi que o dinheiro tem valor em troca de muita coisa, mas uma coisa só tem valor se for de graça.
Morrer cedo é um azar ou uma sorte?
- Convenci-me de que a morte é sempre cedo. Apenas podemos estar preparados ou não. Não tem como ser na idade certa porque nenhuma idade é mais do que tempo.
As bibliotecas deviam ser declaradas da família dos aeroportos, porque são lugares de partir e de chegar.
Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e o baixo, a esquerda e a direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Podemos pensar que abrir e fechar um livro é obrigá-lo a pestanejar, mas dentro de um livro nunca se faz escuro. Os livros querem sempre ver e estão sempre a contar.
Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra. Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame o direito de seguir maior viagem.
Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se com isso.
Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.
Todos os livros são infinitos. Começam no texto e estendem-se pela imaginação.
Devemos sempre lembrar que ler é esperar por melhor.
Os livros eram ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o que não nos acontecia.
Quando perdi o meu pai, precisei de correr atrás para não perder tudo. A gente não pode permitir tudo à morte. Enquanto eu puder lembrar e enquanto eu souber que amo, as coisas vigoram, as pessoas vigoram.
Meus mortos vão ser muita felicidade em minha vida sempre.
Queria muito ser brasileiro. Até a tragédia no Brasil tem sol. Aqui tem dor, mas a gente fica moreno, bebe uma água de coco, sempre tem um pouco de pudim, de paçoca. Sofrer aqui é um pouco melhor.
Este ano vai acabar e espero que feche um ciclo tristíssimo da minha vida. Quero muito que acabe e me deixe só a dignidade de lembrar quem perdi com uma saudade que seja mais e mais festiva.
A saudade cresce para ser uma festa em redor de quem amamos.
Eu penso que a morte é um lugar por dentro de nós, um território mapeado no caminho interior que todos temos e tememos.
