Tamara Guglielmi
Carta a um amigo.
esta carta será nosso segredo e fará parte de todo aquele enredo surreal que imediatamente descobrimos ao nos conhecermos, dos sonhos que subitamente compartilhamos, dos nossos encontros e desencontros, das nossas longas e prolixas conversas sobre a existência humana, por fim, da história que não iniciamos.
Traduzi-lo em um poema seria uma tarefa extremamente fácil, pois a sensibilidade que habita em você é inspiração suficiente para a composição de qualquer poesia, aliás, eu me atreveria em dizer, humildemente, que você é uma poesia em si, portanto, desconsidero totalmente desnecessária qualquer tipo de inspiração ou mesmo composição, por isso descarto os versos, descarto a poesia, simplesmente o defino a partir do meu olhar.
Definição
Olhar distante, mente delirante, desejo insaciável pelo desconhecido, loucura radiante, assim és tu, quando não estás contigo.
Por outrora, quando estás contigo, vejo os teus pés tocarem o chão. Então ouço palavras vindo de ti assimetricamente calculadas e atitudes mensuras pela razão, um medo inexplicável de amar brota da tua alma repentinamente e a possibilidade de se entregar a paixão é algo quase que incogitável, pois esta simples possibilidade subtrairia o "Tício" dele mesmo, em suma, não estarias contigo, o que te tornaria vulnerável frente a um mundo despido de segurança.
Se eu pudesse teceria asas bem firmes e lhe entregaria, para que quando tivesses totalmente entregue a incerteza voasse sem direção para despejar no vale da solidão toda aquela dor que aflige a tua alma por vezes.
Se possível fosse, eu vestiria o teu mundo de segurança, para que a simples possibilidade de se tornar vulnerável a ele não fosse razão suficiente e necessária para a negativa do amor.
2
Algum dia
Há uma canção que diz : Como os dias vão e vêem as noites eu ainda pergunto
porque você partiu. Eu quero saber como isso não deu certo. Mas você se foi e memórias são tudo que tenho
agora.. Mas tem uma parte que a canção se mostra totalmente otimista, ela diz: Mas isso não terminou, Nós vamos envelhecer, nós vamos superar, nós vamos viver para ver o dia que espero voltar para mim. Eu ainda acredito. Nós vamos conseguir novamente. Nós vamos voltar a viver de novo. Nós não vamos dizer outro adeus novamente. Você vai viver para sempre comigo. Algum dia, algum dia vamos estar juntos. Algum dia, algum dia vamos estar juntos. Eu ouço algum dia podendo ser hoje. Mistérios do destino são de algum modo e, por alguma razão, tudo que sabemos. Eles resultam o amanhã de hoje. Meus olhos estão abertos, meus braços estão levantados para o seu abraço, minhas mãos estão aqui para emendar
o que está partido, para sentir novamente o seu rosto. Eu creio que aí é mais para viver. Oh! Eu amo você muito mais que a vida e ainda acredito. Eu posso mudar sua memória, reviver o que por dentro está morto e algum dia, algum dia vamos estar juntos. Algum dia, algum dia vamos estar junto. Algum dia, algum dia vamos estar juntos. Vamos estar juntos. Vamos estar juntos. Algum dia
Enfim, eu citei não uma canção apenas, mas sim um tratado sobre a esperança, então, se algum dia você se apaixonar de verdade meu amigo e por um acaso esta pessoa partir, lembre-se que ainda que só restem memórias do que se foi, a esperança é única coisa que não podemos perder.
3
Hoje
30 anos se passaram e certamente o "Tício" de ontem não é o mesmo de hoje e nem será o mesmo de amanhã. A impressão que eu tenho quando acordo é que a Tamara de ontem morreu e hoje foi me dada uma nova chance de viver. É como se cada dia fosse início, meio e fim de uma vida. Na minha perspectiva a cada dia renascemos e é sob está ótica que eu visualizo no hoje a sua possibilidade e chance de comemorar o seu renascimento, afinal, é o seu dia. Lembre-se de viver cada dia como se fosse único e se puder viva uma vida por dia. Por isso, seja feliz hoje, faça aqueles que você ama feliz hoje, não deixe para amanhã aquilo que você tem vontade de fazer hoje. Diga o que você sente hoje, faça hoje o seu melhor, por que hoje não volta nunca mais. De alguma forma, tudo que sabemos em verdade é que só temos hoje.
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Agosto
Agosto, que gostinho de felicidade
Agosto, que gostinho de saudade
Agosto, que gostinho do gostinho
de ter o gosto de gostar tanto de você.
Agosto, só poderia ter um gosto, o gosto de vc.
Seu temperinho, picante, revela o gostinho
da sua personalidade desafiante.
Agosto, só poderia ter um gosto, o gosto de você.
Seu sorriso envolvente tem gosto de felicidade.
Seu idealismo pela vida tem gosto de liberdade.
O seu jeito de criança tem o gosto das nossas lambanças culinárias.
Agosto, só poderia ter um gosto, o gostinho de você.
Sua fala tem o gosto da lembrança
que trago da minha infância.
Você tem gosto da nossa adolescência,
de toda aquela inocência por nós vivida.
Sua generosidade tem o gosto do sul do nosso Estado.
Seu sangue quente tem o gosto do nosso sangue italiano.
Sua felicidade tem apenas um gosto, você.
Você tem o gosto de agosto.
Há como é bom gostar de agosto
Por que agosto me trouxe você.
Por que ao trazê-la, pude perceber
que os meus agostos jamais seriam o mesmo sem você.
Importância dada à Amizade
Se depois de tudo, o que restar for a amizade, sinal que o amor tornou uma dimensão supra espiritual.
Suporto perder os meus amores , mas jamais me perdoaria se perdesse um amigo (Vinicius), por que considero a amizade o maior amor do mundo (Tamara).
As pessoas me perguntam por que prefiro cães a gatos, e a resposta é simples, por que cães são leais, são amigos e se apegam as pessoas, eles te amam incondicionalmente.
No Horóscopo Chinês eu sou um cão, coincidentemente, sou leal e amo incondicionalmente todos os meus amigos e tudo que faço por eles é fruto de um amor sem retribuição, de um amor sem condição e de um amor sem reservas. Eu daria a minha vida para salvar qualquer amigo, eles não precisam fazer muito por mim, não precisam fazer nada aliás, saber que eles existem e que mesmo que longe eu posso fazer parte ou ter pelo menos feito parte de suas histórias já me conforta e já me alegra e esta simples condição, a de ter escrito um capítulo na história deles é razão suficiente e necessária para o meu encontro com a felicidade.
Nunca precisei retribuir favores aos meus reais amigos, eles simplesmente passaram pela minha vida, em um momento crucial dela e me deram o apoio necessário para poder seguir em frente. Nunca precisei me corromper, ser desleal ou mesmo não ter ética para obter qualquer tipo de benefício, encontrei até hoje no meu caminho pessoas que simplesmente me estenderam as mãos e me levantaram quando mais precisei, algumas subitamente sumiram, tenho quase certeza que foram e são anjos enviados por Deus, como não os podia chamá-los de anjos, os chamei de amigos.
Agradeço a Deus e a Todos os meus amigos pela pessoa que sou, pois a Tamara que todos conhecem é fruto da amizade de vocês.
Muitos devem estar se perguntando, por que estou escrevendo isso né, pois hoje nem dia do amigo é.
Estou escrevendo isso, por que hoje eu perdi um grande amor, mas ganhei um maravilhoso amigo.
A POESIA NASCEU
Certa feita um amigo me questionou donde nascera a minha poesia ou melhor, donde nasce o meu processo criativo, pois desejava se tornar um poeta.
Realmente eu nunca havia me questionado sobre isto, tampouco, havia me perguntado se algum dia eu realmente produzi algum tipo de poesia, para mim sempre foram apenas escritos. Contudo, se ele considerava o que escrevo poesia, então, eu deveria relevar sua pergunta e lhe dar uma resposta.
Pensei em lhe dizer que o meu processo nasce de um sentimento chamado paixão, de um dom que não sabemos explicar, de uma sensibilidade que vai além da nossa compreensão, mas se eu falasse isso, seria o mesmo que dizer a ele: você terá que ter paixão e sensibilidade e isto deve ir além da sua vã compreensão.
Entretanto, se ele nunca se tornasse um poeta, eu me sentiria literalmente culpada, uma vez que ele viveria a decepção de achar que sua vida era vazia de paixão e sensibilidade, seria muito insensível da minha parte dar-lhe esta resposta.
Mas isso também não me bastou, por que se existe de fato um processo, então, eu preciso de ritos, de atos, e admitir que paixão e sensibilidade por si só são fatores necessários e suficientes para a composição da poesia, seria o mesmo que negar o processo.
Foi aí então que eu recorri as minhas lembranças e voltei a minha infância. Bem me lembro que na segunda série do primário minha mãe foi chamada na escola após a realização da minha primeira redação.
Acredite, mesmo antes de se dirigir até a escola e falar com a minha professora apanhei uma surra da minha mama, por que se minha mama havia sido chamada na escola, sinal de que boa coisa eu não tinha feito, pois bem, antes mesmo de dar-me a chance de defesa, minha mama negou-me o contraditório e me aplicou a pena ( a surra).
Chegando na escola minha professora perguntou a minha mama quem havia feito a redação que ela, a professora, havia dado como lição de casa. Minha mãe pegou o escrito, leu, assegurou a professora que não havia sido ela, a escritora, mas que iria descobrir quem havia feito a lição por mim, afinal de contas uma criança com 7 anos de idade não teria capacidade de escrever daquela forma.
Já em casa fui questionada acerca da redação pela minha mama, eu jurei que tinha sido eu que havia produzido, mas ela não acreditou em mim e me deu outra surra, por achar que eu estava mentindo.
Noutro dia, chegando à sala de aula, minha professora pediu que eu me dirigisse até a secretária, uma vez que ela tinha uma tarefa para mim. Simplesmente a bendita professora me deu um tema e pediu que eu escrevesse sobre ele, e ainda ordenou que a secretária da instituição ficasse me observando. Finda a redação e após lê-la, a maldita pediu que eu chamasse minha mama novamente no colégio.
Por óbvio que no dia seguinte disse a professora que meus pais estavam muito ocupados e que não poderiam comparecer. Claro, seria eu uma tola se avisasse meus pais de que estavam chamando-os no colégio, certamente outra surra levaria.
Daquele dia em diante parei de escrever, fui inibida prematuramente pelo medo e pela desconfiança daquelas duas mulheres.
Mais tarde na quinta série e já mais grandinha comecei a produzir meus textos, e, inclusive, vende-los para outros alunos que desejavam tirar boas notas em redação. Dali em diante ganhei todos os campeonatos literários produzidos no colégio e na cidade, seja recitando poesia ou escrevendo redações.
Já na faculdade eu me anulei completamente, trabalhando, mal conseguia estudar assuntos técnicos, quem dera escrever poesias, Sim, eu fiquei Sete anos sem sequer produzir um texto.
Contudo, eu me deparei com outro Dom, o de fotografar, sim, eu pegava qualquer máquina fotográfica e tirava fotos muito interessantes, a ponto de me perguntarem onde eu havia comprado as benditas máquinas fotográficas com as quais eu tirava as fotos.Acontece que eu nunca tive uma máquina fotográfica e continuo não tendo, eu simplesmente pegava a máquina dos outros e capturava cenas de pessoas,ambientes, animais e da natureza de uma forma diferente.
Sim, as fotos ficavam lindas. Mas tinha um detalhe que quase ninguém sabia, quase invisível para os olhos alheios, eu era cega e sou cega de um dos olhos, nasci com uma doença chamada síndrome de Leber, que provoca cegueira, doença congênita.
Contei todas estas histórias para dizer que encontrei a resposta através delas. sei donde nasce a poesia, não só a minha, mas a de todos os poetas.
Primeira constatação, é que inexoravelmente é preciso ter um dom especial e através de um processo desenvolve-lo. Imaginem você se Mozart nunca tivesse tido contato com um piano, nunca tivesse estudado música, certamente, jamais teria a chance de compor.
Primeiro ingrediente do processo: É preciso gostar de poesia e se alimentar dela. Você não se torna um poeta se gosta mais de produzir poesia do que de apreciá-la. Sim, é preciso ter desprendimento e admirar e amar a poesia produzida pelo outro, mais do que a sua própria.
Segundo fator, é preciso enxergar além, sim, é preciso capturar a cena. é necessário enxergar a beleza onde as pessoas só observam a névoa. É preciso encontrar o amor onde só existe dor. Faz-se necessário se desprender do próprio ego e observar tudo que lhe rodeia.
O que ninguém sabe é que o processo criativo surge exatamente de todas as coisas, de tudo que sentimos por estas coisas. Só somos capazes de produzir poesias, se formos capazes de encontrar ternura e delicadeza nas coisas simples produzidas pela natureza, seja a natureza humana ou de qualquer outra espécie. Só produziremos poesia se amarmos ou odiarmos alguém, algo ou alguma coisa. Sim, o processo criativo de um poeta deriva daquilo que ele é, do que sente e inexoravelmente depende do outro.
O SORRISO DA BORBOLETA
Abrem-se as janelas da mente e a mágica começa
Lá no final do arco Iris, bem do lado de um bosque cheio de tulipas coloridas (amarelas, vermelhas e brancas) tem um jardim bem verdinho, com árvores enormes e cheio de orquídeas brancas. Bem no meio deste jardim tem uma casinha de Cristal, onde mora um Garoto e todos os seus sonhos.
Um garoto com cabelos lisinhos, curtos e loirinhos, pele tão branca que até parece um algodão doce, olhos tão azuis que é possível confundi-los com o mar e neles se afogar, tão pequenino e frágil, que até parece que vai quebrar.
O garoto jura que no seu jardim secreto os Serafins habitam.
Mas Será que Serafins existem? se existem? Por que não proclamam o amor sem fim?
Dizem que neste Jardim uma borboleta em extinção acabou de chegar, ela veio fugida de um lugar bem distante, passou pelo arco Iris e viu que ali não era um lugar seguro, então correu para o bosque e percebeu que as Tulipas coloridas iriam ofuscar todo a sua magia, só lhe restou, então, o jardim.
Chegando ao Jardim, a borboleta posou em uma Orquídea branca e se alimentou do seu néctar e acabou adormecendo. Os serafins correram curiosos para verem que ser era aquele, e por fim, acabaram em torno da bela e esplendorosa borboleta.
Todos a olhavam admirados, como se nunca tivessem visto um ser com beleza semelhante. A borboleta era possuidora de uma beleza sem fim, suas asas grandes e rosas com pontinhos brancos , que mais pareciam diamantes, brilhavam demasiadamente e tudo pareciam iluminar, mas os serafins só estariam convencidos da raridade da borboleta, se esta fosse capaz de sorrir, e, prometeram que se a borboleta sorrisse eles iriam proclamar o amor sem fim.
Então, os Serafins começaram a cantar afim de que pudessem acordar a borboleta e fazê-la sorrir, derrepente num rompante de encantamento com o som dos Serafins a pobre e sonolenta borboleta acorda e os Serafins sorriem, mas a borboleta os olha fixamente, com seus olhos grandes e verdes, e não faz qualquer movimento com a face.
Todos os Serafins começam a chorar, o garoto loirinho ouve lá da casinha de cristal as lagrimas dos Serafins e percebe que seu jardim está sendo totalmente inundado, corre até o jardim e pergunta o que está ocorrendo.
Os serafins explicam ao garoto que a borboleta não sorri e por isso choram, pois juraram que só proclamariam o amor sem fim, se vissem o sorriso da Borboleta.
O garoto viu naquela oportunidade a chance de provar que os serafins existiam, haja vista que iria reinar o amor sem fim, que só poderia ser declarado pelos serafins. Então o garoto pede aos serafins que o transforme em borboleta, para que possa voar para perto da rara borboleta e fazê-la sorrir. , Então os Serafins acabam transformando- o em uma outra borboleta igualmente rara, neste momento o garoto borboleta com os seus olhos turquesa voa até a rara borboleta de beleza sem fim e a pede um sorriso. A borboleta sorri para o garoto borboleta, as almas das borboletas se encontram e os Serafins declaram maravilhados o amor sem fim.
Graças ao sorriso da borboleta todos sabem que os Serafins existem.
O AMOR NÃO ERA PARA SER
Sinto Saudade da felicidade
Que você me sonegou, da lembrança
que ingenuamente sonhei em ter.
Talvez eu tenha guardado uma recordação de ti
que eu nunca vivi. Eu te perdi
sem ao menos nunca ter te tido.
Talvez se eu tivesse te conhecido,
tu pudesses ter a chance
de ter me esquecido.
Há se eu tivesse congelado
aquele capítulo do tempo,
certamente eu teria feito parte da sua história.
Não tenho dúvidas,
A lua se escondeu de mim e de você.
E as estrelas conspiraram para
que nós não nos encontrássemos.
Talvez se eu pudesse te esquecer,
quem sabe te conhecer fosse possível,
mas fazer o que, o tempo achou melhor
o encontro não acontecer.
Logo, se houve um culpado,
este culpado se chama destino,
pois foi ele quem não quis que o amor
tivesse acontecido.
Enfim, o amor não era ser
SETEMBRO DE 83
O inverno passou.
Finalmente setembro chegou
e o mundo parou apenas para ouvir a magia
ocasionada pela melodia de 83.
Eu me lembro que naquela manhã,
setembro, a primavera chegou sorrindo,
avistou, no despertar do dia,
o amor de uma mãe que concebia
aquele que seria a sua eterna melodia.
A primavera passou,
mas a melodia ficou
e encantou todas as demais estações,
provocou em todas elas as mais latentes emoções.
Depois de setembro de 1983
os pássaros já não mais se assustavam com os raios do sol,
com as tempestades de final da tarde
ocasionadas pelo fervor do verão,
apenas seguiam a canção.
Os pássaros já mais nada viam,
apenas voavam pelos céus encantados pela melodia,
pela sinfonia,
pela magia de setembro de 83.
As cores das flores no outono se modificaram
depois daquele setembro.
Os girasois refletiam pontos de sol no horizonte.
As Orquídeas brancas
pareciam pombas presas ao solo.
As rosas vermelhas eram como corações ardentes de paixão.
O verde das folhas tinha a mesma forma das gotas de orvalho.
O canteiro de Tulipas amarelas, vermelhas e liláses
formava um arco Iris fincado à terra.
O outono passou,
o inverno chegou,
mas a sinfonia de setembro ficou e aqueceu aquela mãe
que sorrindo alimentava a melodia
que para sempre seria o seu grande esplendor.
A primavera voltou,
setembro retornou com ela,
mas desta vez algo havia mudado,
sim havia,
ocorre que a melodia havia se apaixonado pela fantasia,
razão pela qual partiu e ninguém viu.
O mundo inteiro então se espantou
e em prantos se calou,
pois ninguém,
nem mesmo o vento cantou,
infelizmente a Melodia jamais voltou.
A primavera então ordenou que setembro
voltasse a reproduzir aquela canção,
mas o que a estação não sabia
é que nem mesmo o tempo,
quem derá setembro conseguiria reproduzir a melodia,
que nasceu daquela mãe, naquela manhã, no dia 01 de setembro .
Feliz aniversário, meu amor!
Mais um ano se passou em tua vida, contudo, tenho a impressão de que o tempo não passou para nós dois.
Tua imagem ficou congelada nas páginas do tempo desde o primeiro dia em que te vi.
Serás para sempre o meu menino, aquele garoto gentil, educado, honesto e apaixonante que conheci e que continuo conhecendo dia após dia.
Sim, eu não me canso de repetir: eu te amo. Amo sem entender os rumos e caminhos escolhidos pelo coração.
Já não possuo mais o domínio do meu ser, minha paixão tomou posse da minha razão. Confesso, perdi o controle das minhas emoções.
E eu, que sempre sonhei em ser livre, em voar com as minhas próprias asas, foi então que tu apareceste. O amor aconteceu e inusitadamente encontrei a liberdade. Sim, encontrei nos teus braços e sob as estrelas a liberdade de amar.
O tempo passou e já não somos os mesmos, mas as lembranças do passado, do presente e os meus sonhos de construir uma vida ao teu lado são tão presentes que jamais teria a capacidade de esquecê-las.
Feliz aniversário, sim, feliz, porque para mim este dia é razão de alegria infinita.
Os sentimentos que invadem minha alma hoje se tornam inexplicáveis, porque nem mesmo esta poesia é capaz de traduzir esta data tão especial.
Hoje é tempo de paz, é a vida que deve ser celebrada, é a vida do homem que amo e que deverá ser contemplada por mim.
MUNDO DE LÁ
Ouvi das estrelas que tu não sonhas.
Ouvi canções duvidando das tuas emoções.
Ouvi querubim dizer que tu não te apaixonas.
Ouvi o mar silenciar todos os sentimentos
que pulsam na tua alma. Ouvi a multidão gritar
que o poeta não ama seres deste planeta.
De tanto ouvir, compreendi por que tu tentas fugir
deste mundo.Simplesmente é por que só no mundo de lá
que tu consegues te encontrar.
Por que só no mundo de lá tu consegues amar
e se encantar pela brisa fria da manhã.
Por que só no mundo de lá que tu consegues esquecer
que o mundo de cá nega os teus sentimentos.
Só e tão somente no mundo de lá, que encontras a tua musa dançante.
Mas eu dúvido das estrelas, das canções, da multidão.
Com o coração partido, pego todos os meus sonhos e
os coloco nas costas. Sim, eu estou de partida,
meu destino, o mundo de lá.
Preciso resgatar o meu pensar.
Sim eu preciso mostrar para ti que aquele final de semana
durou para sempre e terminou muito rápido.
Preciso trazer-te para o mundo de cá,
mas antes disso preciso mostrar para as estrelas
que os teus sentimentos estavam escondidos em um lugar
onde ninguém conseguiu até hoje encontrar.
Eu preciso encontrar estes sentimentos em algum
lugar do mundo de lá, só assim tu poderás me amar e
comigo voltar.
Sigo para o mundo de lá, o caminho não sei,
certamente as estrelas não se interessaram em me contar,
na bagagem carrego apenas os sonhos, de um dia o olhar teu encontrar.
Sim, ninguém sabe o que sei, nem mesmo o mar,
os teus sentimentos se escondem no teu olhar.
Eu preciso duvidar das estrelas, das canções, da multidão,
Sim eu estou de partida para o mundo de lá.
O caminho não sei e as canções esconderão suas sinfonia,
suas fantasias,não me darão nenhuma indicação,
nenhuma pista do mundo de lá.
Preciso ouvir a voz que vem do coração,
só ela poderá me guiar para o mundo de lá.
O teu olhar novamente eu preciso encontrar.
só assim poderei me encontrar.
Caminhando eu sigo, na bagagem apenas os sonhos,
o sonho de um dia encontrar
aquele que para sempre eu hei de amar.
só assim poderei flutuar e chegar no mundo de lá.
Eu preciso resgatar o que perdi.
Sei que o caminho é tortuoso, longo, árduo.
Sei que devo errar algumas vezes os percursos,
atropelar os obstáculos, não rara as vezes eu irei me precipitar, tropeçar, mas esteja certo, jamais deixarei de buscar o teu olhar
Carta para você I- 24 de abril de 2010
eu acordei e derrepente senti o vento percorrendo o tempo
o barulho dos motores pareciam tambores que palpitavam nos meus ouvidos
a chuva caia e eu sentia o frio que aquela tempestade me ocasionava
Derrepente em meio a tantos sons e sensações
Ouvi a sua voz agraciada pela poesia do dia
Vc me surgiu do nada, caiu dos céus a reanimou minha vida
Eu com medo de tantas sensações me escondi e sumi
Quando dei por mim, vc estava ali, no meu pensamento, na minha mente, na minha vida, era o meu dia
Mas como te encontrar se eu me perdi de mim ?
Se eu me perdi de nós ?
Quero te encontrar, quero me encontrar, os sons já não fazem mais sentido
Mas para nos encontrar, eu precisaria que o universo conspirasse dando um remédio para aliviar a dor que ando sentindo
Para te encontrar eu precisaria que a emoção fosse mais forte que nós
Para me encontrar eu precisaria que os meus sentimentos fossem maior que a razão
Para nos encontrar eu precisaria que o nosso gostar fosse mais forte que nós dois
Carta para você II, 10 de maio de 2010.
Não responda as minhas cartas, só preciso ter alguém para quem possa escreve-las
Hoje em Vitória, Espirito Santo, após um dia árduo de trabalho, já no final da tarde, olhei pela Janela do hotel e avistei uma árvore cujas folhas estavam se dessecando e caindo sobre a grama fria, era o vento que batia e eu sentia que o outono partia, dando lugar ao inverno.
Meus invernos tem sido tão solitários, o mesmo vento frio da estação que derruba as folhas sobre a grama, parecem querer congelar minha alma desnuda e desnutrida pela decepção de um sentimento não correspondido.
Pelo menos as folhas, aquelas folhas, não sobreviverão a este inverno, contudo, os meus olhos fixos e tão secos quanto aquelas folhas sobreviverião a este momento e talvez jamais reproduzirão a condesação do vazio que eu sinto neste instante
Olhar por esta anela, avistar este fim de tarde frio e vazio e perceber que tudo ali ainda existe, menos você, tem me deixado triste.
Eu não te amo
você que despreza o meu tormento
Que é um atroz do tempo
Que medita contra o vento
Que não vela a minha dor
Quero que te dizer que eu não te amo
Vc que ignora o meu sentimento
Que não agracia o meu alento
Que ri do meu contentamento
Que fingi que não vê a minha saudade
Que zomba da minha felicidade
Quero te dizer que eu não te amo
Vc que já me amou e me encantou
Vc que me deu o chão e me retirou a alma
Vc que me deu a luz da lua embrulhada com trevas
Vc que me deu o amor e o transformou em dor
Quero te dizer que eu não te amo
Vc que poderia ser minha emoção
Vc que negou o meu coração
Vc que fez da minha história seu jargão
Quero que vc vá para o inferno e que padeça no inverno
Resto
Se fosse inédito não seria real.
Se fosse possível não seria terrível,
Se não fosse bom não pareceria mal.
Se não fosse ilusão não seria PAIXÃO.
Tão sorrateira quanto às sapatilhas de um dançarino.
Tão maliciosa quanto à inocência de uma bailarina
Tão cruel quanto tudo que pulsa em nós.
Tão efêmera quanto fugaz se faz.
Se não fosse a dança o que seria da ESPERANÇA?
Longínqua e rápida
Surpreendente e ardente em meio a esse caos eloquente.
Ambígua como a sua própria razão de existir
Vento pare para mim o tempo, por favor.
Sim VIDA é você .
Por que continuo eu me pergunto.
Por que sigo andando?
O que procuro?
FELICIDADE talvez?
Por que não evito o que parece inevitável
Por que ainda assim persisto?
Por que não desisto?
Quero respostas, mas só me RESTAM perguntas.
Por isso nem sempre gosto do RESTO.
Porque o RESTO é inacabado.
Porque o RESTO não me parece perfeito.
Porque o RESTO não termina com o final que escrevi.
Porque no final o RESTO é o que me resta das lembranças sentidas e das emoções vividas.
SENTIDOS
Olhe para o céu
Agora feche os olhos
Sinta o tempo
Toque no vento
E com os olhos vendados observe o infinito.
Experimente os sons
Abra sua mente
Sinta a sinfonia que as flores exalam
Veja como tudo se harmoniza
Cheiros, cores e sons.
Sinta o canto do mundo.
Mire no horizonte
Abra os olhos
Veja o caminho
Caminhe ao encontro dos seus sonhos
Observe que tudo é possível.
Seja o sentimento de alguém
Seja uma declaração de paz para alguém
Encontre um par para amar
Um par para olhar
Um par para sonhar
Um par para contemplar o mar
Agora abra seu sorriso
Sinta a poesia que encanta a melodia do dia
E com alegria receba um abraço do universo
Não se esqueça de degustar do incrível sabor que tem o amor
Aceite que a vida é um presente.
Versos de Mim
Se eu pudesse viver uma vida em um só dia,
eu viveria mil existências em cada amanhecer.
Sou o tudo e o nada.
A plenitude e o vazio.
Não habito o passado,
não espero promessas do porvir —
vivo o agora como quem beija o instante.
Sou tristeza em forma de silêncio,
sou alegria em forma de tempestade.
Sou cada emoção à flor da pele.
Não me basta ser o que sou —
sigo em busca do que ainda posso me tornar.
Sou estiagem quando o mundo exige pausa,
sou tormenta quando o peito transborda.
Minha alma não se acomoda em metades:
não aceito histórias incompletas,
finais morrentes,
sorrisos contidos.
Trabalhar pouco, dançar pouco, amar pouco...
isso não me cabe.
Eu sou intensidade —
e só sei viver em excesso.
Não creio em sucesso sem suor,
nem em fortuna sem caminho.
Conquistas, para mim, têm preço.
E eu pago — com coragem.
Sou extremos.
Sou mistério e revelação.
Criatura e criadora do caos e da calmaria.
Aos meus amigos, dou-me inteira.
A eles dedico o que há de mais puro:
meu amor leal, minha presença fiel,
minha alma em celebração ao afeto.
Desejo sua felicidade como extensão da minha.
E me alegro — de verdade —
por vê-los sorrir.
Quando amo, sou céu e abismo.
Sou milagre e tempestade.
Quem me ama, jamais me esquece:
meu amor não se aprende em livro —
ele se sente com o corpo inteiro.
Sou mar sereno,
mas basta um sopro de dor
e posso me tornar onda que arrasta o mundo.
Sou idealista —
prefiro morrer de pé por aquilo em que creio
do que viver ajoelhada diante do que não faz sentido.
Se me fosse dada a escolha,
seria mártir da minha verdade,
nunca cúmplice da covardia.
Não fui feita para o morno, para o meio,
para o quase.
Sou intensidade em estado bruto:
muito mais ou muito menos,
mas nunca menos do que sou.
E quando fujo de mim,
quando esqueço o que sou,
é a noite — com sua voz de vento —
quem me lembra:
"É no teu esquecimento de si
que mais profundamente te permites existir."
A beleza do imperfeito: onde o amor encontra espaço
Área cinzenta
Ninguém ama só pelas virtudes, nem desiste só pelos defeitos. O amor verdadeiro nasce no espaço entre os dois — um terreno cinzento onde beleza e falha coexistem, e onde o olhar acolhe o outro por inteiro, sem idealização nem negação.
Não é o amor das virtudes perfeitas que me atrai. Nem aquele que se dissolve diante dos defeitos.
O que eu busco — talvez sem saber como nomear — é essa terra estranha, imperfeita e honesta:
a área cinzenta.
Ali onde os olhos não brilham só pelo encanto, mas também pela coragem de enxergar o que dói.
Ali onde o outro não é um ideal a ser mantido, nem um erro a ser corrigido — mas um ser inteiro,feito de luz e sombra, que eu acolho com todo respeito e amor.
São Paulo, 5 de junho de 2025. 01:05 da manhã
Do Amor e do Desejo
O desejo quer distância.
Quer a curva não vista,
a pele ainda segredo,
o nome que não se diz.
Ele vive no intervalo,
no quase toque,
no escuro.
O amor quer permanência.
Quer a verdade dos olhos,
a rotina dos gestos,
a alma em voz baixa.
Ele vive na entrega,
no cotidiano do corpo,
na nudez que não é mais pele.
E então,
quanto mais se ama,
mais se sabe.
Quanto mais se sabe,
menos se deseja.
Porque o desejo ama o desconhecido.
E o amor desvenda.
Mas —
há um lugar onde os dois se tocam:
um ponto de sombra,
onde mesmo o íntimo é estrangeiro,
onde o outro, por mais amado,
ainda escapa.
É nesse abismo
que o amor renasce como desejo,
e o desejo se curva diante do amor.
Não para possuir,
mas para perder-se,
outra vez,
no mistério de quem se ama.
Tamara T Guglielmi
Arquitetura de Eternidade
Não nasceu de um sopro impaciente,
nem de um desejo que o tempo desfaz.
Foi amor plantado docemente,
em terra onde o silêncio é paz.
Não foi relâmpago em noite escura,
mas brasa quieta que acende o chão.
Não prometeu juras de altura,
mas construiu com devoção.
Cada palavra, medida exata,
cada silêncio, um lugar sagrado.
Na planta da alma, linha reta,
traço firme de um cuidado.
Não foi paixão que devora e cansa,
mas presença que repousa e acalma.
É afeto que veste a esperança
e faz do outro um lar na alma.
Forjado em pedras de confiança,
cavado fundo onde o medo cessa,
é amor que em si mesmo se lança
sem precisar vestir promessa.
Ergue-se alto, com alicerce,
na leveza de um gesto nu.
Onde um tropeça, o outro oferece
a mão, o colo e a fé em cruz.
Não teme o inverno, nem se abala
com vendavais ou dias sem cor.
Pois quem se ama com alma embala
até o silêncio com calor.
Na rotina, acha poesia.
Na demora, cultiva o bem.
Ama até a melancolia
que todo coração também tem.
É templo e é estrada, é porto e é vela,
é vinho vertido, é pão repartido.
É sol quando o céu se revela,
é chão onde o passo é ouvido.
No rosto do outro, espelho e abrigo,
no peito, pulsa a mesma canção.
É estar inteiro, mesmo em conflito,
e escolher amar... em comunhão.
Porque amar não é ter só festa e flor,
é regar a raiz nos temporais.
É saber que um grande amor
não vive de instantes… mas de cais.
Cais onde se espera sem cobrança,
onde se chega e se é bem-vindo.
Onde o tempo vira esperança
e cada gesto é sempre lindo.
Assim se constrói — pedra por pedra —
um amor que nunca se desfaz.
Não é castelo de areia que quebra,
é arquitetura de eterna paz.
A Suprema Forma do Amor: A Amizade
Se, depois de tudo, o que restar for a amizade,
então é sinal de que o amor se transfigurou —
e alcançou uma dimensão supraespiritual.
Uma forma rara e eterna de permanecer.
Eu já suportei perder amores.
Mas não me perdoaria jamais se perdesse um amigo.
Como dizia Vinicius,e como repito com o coração inteiro:
considero a amizade o maior amor do mundo.
Muitos me perguntam por que prefiro cães a gatos.
A resposta é simples —
porque cães são leais, são presença, são entrega.
Eles amam sem cálculo, sem exigência,
amam como quem apenas existe para ser amor.
E talvez não seja coincidência:
no Horóscopo Chinês, eu sou um cão.
Leal por instinto, intensa por natureza.
Amo meus amigos com o coração desarmado.
Tudo que faço por eles é fruto
de um amor sem condição, sem cobrança, sem espera.
Daria minha vida por qualquer um.
Eles não precisam fazer nada por mim.
Aliás — só o fato de existirem,
de terem cruzado meu caminho,
já me consola, já me honra, já me basta.
Saber que escrevi um pequeno capítulo
na história de alguém que amo,
é — para mim —
razão suficiente e necessária para ser feliz.
Nunca precisei retribuir favores
aos meus verdadeiros amigos.
Eles chegaram em silêncio,
em horas precisas,
e com gestos simples me disseram: “estou aqui.”
Jamais precisei corromper meu caráter,
negar minha lealdade,
ou vender minha alma para conquistar algo.
Deus foi tão generoso comigo,
que em cada curva da estrada
colocou anjos de carne e osso —
e como não podia chamá-los de anjos,
chamei-os de amigos.
Sou grata a Deus.
Sou grata a cada um que tocou minha vida.
Porque a Tamara que o mundo conhece
é uma construção feita, tijolo por tijolo,
pelas mãos generosas da amizade.
Talvez você esteja se perguntando:
“Mas por que ela está escrevendo isso agora?
Hoje nem é dia do amigo…”
E eu te digo: escrevo porque hoje perdi um grande amor.
Mas ganhei — no mesmo gesto —
um amigo maravilhoso.
E se isso não é milagre,
então eu não sei mais o que é amor.
A Área Cinzenta
Nunca fui daqueles que se apaixonam pelo brilho imaculado das virtudes. Tampouco daqueles que abandonam ao primeiro sinal de falha. O que me move, o que verdadeiramente me atrai, é outra coisa — algo menos visível, mais sutil, quase indizível.
Aprendi — talvez a duras penas — que ninguém ama só o que é belo. Que ninguém desiste só do que é torto. O amor real, aquele que sobrevive às estações, não floresce apenas no jardim das qualidades, nem morre no pântano dos defeitos. Ele nasce ali, entre um e outro, em um terreno silencioso e inquieto: a área cinzenta.
Essa terra estranha, onde não há garantias nem perfeições, onde convivem a luz que aquece e a sombra que assusta. Um lugar onde o olhar não se detém apenas no encantamento — mas ousa seguir adiante, até encontrar aquilo que dói, que desafia, que expõe.
Ali, os olhos não brilham apenas pelo que fascina, mas pela coragem de ver o que é humano demais.
É nessa zona imprecisa que o amor se revela como ele realmente é: imperfeito, sim, mas imensamente verdadeiro. Porque ali o outro não precisa performar, não precisa provar, nem esconder. Ele apenas é. E isso basta.
Não me interessam os amores de vitrine — polidos, artificiais, à prova de mágoas. Nem os romances descartáveis, que se desfazem diante do primeiro tropeço. O que eu procuro — mesmo sem saber exatamente como chamar — é esse tipo de vínculo que se assenta entre a admiração e o desconforto, entre o que me eleva e o que me testa.
Na área cinzenta, o amor é trabalho e escolha. É entrega que não exige perfeição, mas inteireza. É quando olho o outro, cheio de falhas, e ainda assim digo: "sim, eu fico." Não por cegueira, mas por compreensão. Não por carência, mas por coragem.E ali, nesse ponto onde o ideal cede lugar ao real, que mora o amor que me interessa: aquele que vê tudo — e ainda assim, permanece.
Contradição: viver dos méritos próprios em um sistema desigual
Ha uma tensão interessante quando quem critica a meritocracia se vê obrigado a operar dentro do sistema que contesta. Afinal, mesmo com a consciência da desigualdade, a sobrevivência — e até o desejo de realização — exigem que se jogue o jogo com as regras dadas. Muitos usam seus méritos para ascender, ainda que cientes de que estão, de algum modo, se beneficiando de um sistema injusto.
Essa contradição não é necessariamente hipócrita. É, na verdade, profundamente humana. É possível acreditar que o sistema é falho e ainda assim lutar para conquistar um lugar nele — não por conformismo, mas por necessidade. O paradoxo se torna ainda mais evidente quando, ao alcançar certo prestígio ou estabilidade, essas pessoas passam a usar sua posição para denunciar os próprios privilégios ou tentar corrigir as distorções que as favoreceram. Nesse sentido, há aí uma forma de resistência ética: uma tentativa de fazer o melhor possível, dentro das limitações do mundo real.
A desigualdade como solo fértil para méritos individuais:
Curiosamente — e de forma desconfortável —, a própria desigualdade pode acabar servindo como cenário favorável para alguns "méritos" se destacarem. Quando muitos estão excluídos da competição, os que têm acesso a recursos mínimos já saem na frente. Um talento que floresce na periferia, com poucos livros, má alimentação e nenhuma rede de apoio, é talvez muito mais valioso do que aquele polido nas melhores escolas e rodeado de estímulos. E ainda assim, quem chega ao topo a partir de qualquer ponto da escada social acaba, inevitavelmente, colhendo frutos de uma estrutura que favorece poucos.
Entre o ideal e o possível:
Por fim, quem questiona a meritocracia, mas ainda tenta viver dos próprios méritos, ocupa uma posição complexa: é alguém que reconhece a injustiça do mundo, mas se recusa a ser engolido por ela. Que deseja construir uma vida com dignidade, mas sem fechar os olhos para os que ficaram para trás. Essa pessoa não vive de ilusões, mas também não se entrega ao cinismo. Em vez disso, caminha na corda bamba entre o ideal e o possível — tentando, onde pode, ampliar os caminhos para que o mérito um dia possa ser, de fato, uma conquista de todos.
O Mundo Segundo os Repertórios
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”
“O verdadeiro sinal de inteligência não é o conhecimento, mas a imaginação.”
— Albert Einstein
"Tudo que o homem ignora não existe para ele." - autor desconhecido
Essa verdade, dita com a força de um sussurro eterno, resume o paradoxo da existência humana:
o mundo não é o que é — o mundo é o que cada um consegue ver.
Vivemos cercados de infinitos.
Infinitos saberes, culturas, sabores, sons, ideias, nomes, possibilidades.
Mas só existem, para nós, aqueles que conseguimos reconhecer.
Aquilo que não nomeamos, não sentimos.
Aquilo que não entendemos, não tocamos.
E aquilo que não estudamos, não vemos — ainda que esteja diante de nossos olhos.
Os repertórios de uma pessoa — suas vivências, leituras, referências, dores, conquistas, afetos e curiosidades — são as lentes através das quais ela percebe e interpreta o mundo.
Alguém que conhece mitologia enxerga deuses em cada tragédia.
Quem aprendeu história lê o presente como um eco do passado.
Quem leu poesia escuta metáforas no silêncio.
Quem nunca viu o mar, não sabe que o azul pode ser horizonte.
Do mesmo modo, quem nunca ouviu falar de justiça, não a exige.
Quem desconhece seus direitos, não os reivindica.
Quem nunca foi apresentado ao amor verdadeiro, pode chamar de amor qualquer ausência ruidosa.
É por isso que o saber é poder — não um poder que oprime, mas o que liberta.
Liberta do olhar curto, da mente fechada, da vida pequena.
Amplia os sentidos, estica a alma, expande a fronteira do possível.
Aumenta o mapa do mundo interno e, com isso, transforma o mundo externo.
Ignorar é viver num cômodo escuro de uma casa imensa.
Conhecer é acender a luz, quarto por quarto, até fazer morada na totalidade do ser.
E, como nos lembra Einstein, a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original —
porque o verdadeiro crescimento não é apenas acumular informações,
mas imaginar novos mundos a partir delas.
Por isso, busque. Leia. Pergunte. Ouça. Experimente.
Pois cada nova ideia é uma janela aberta.
Cada livro é uma chave.
Cada conversa, uma estrada.
E cada saber conquistado é um pedaço do mundo que passa, finalmente, a existir para você.
Sinfonia de Tinta e Som
O silêncio abre a cortina com dedos de veludo,
e a tela vibra, branca, como um palco por nascer.
Surge a clave de sol —
pincel do maestro no ar.
Violinos riscam linhas finas de Van Gogh,
com traços febris e estrelados,
um allegro de girassóis que giram
em espirais de luz sobre o compasso.
Violões sussurram à la Matisse,
curvas leves, cortes de sombra azul,
tocando a alma em arpejos de recorte,
como quem dedilha o silêncio entre cores.
Cellos choram em tons de Rembrandt,
escuros, profundos, dramáticos,
traçando caminhos entre luz e sombra
como se cada nota fosse um rosto em claroscuro.
Pianos desenham Mondrian no silêncio:
geometrias exatas em preto e branco,
uma fuga de Bach em linhas retas,
com pausas vermelhas que pulsam como vida.
Saxofones sopram Dalí —
melodias que escorrem derretidas,
sonhos líquidos em forma de som,
onde o tempo dobra ao ritmo do jazz surreal.
Tímpanos e baterias explodem Pollock,
pingos e pancadas de cor
em ritmos livres, sem métrica nem medida,
onde o caos é a própria harmonia.
Trompetes brilham como Klimt,
dourados, exuberantes, cheios de ornamento,
onde cada nota é uma joia cintilante
em solo de paixão e mistério.
Violas, discretas, tocam Turner em siena,
horizontes de brumas, um adágio em dissolução,
onde a névoa dança com os graves
como se a cor tivesse eco.
Harpa, Debussy em pastel,
translúcida, etérea, quase ausente,
como a aquarela de Monet ao entardecer —
um lago onde o som pousa como uma libélula.
E assim entra toda a orquestra:
fagotes de Goya, flautas de Renoir,
contrabaixos de Caravaggio,
clarinetes de Cézanne, violas d'amore de Botticelli...
O maestro, agora metade músico, metade pintor,
com batuta de tinta e partitura em pergaminho antigo,
abre os braços para o gran finale:
um tutti de cor e som que arrebata o tempo.
E no último compasso,
quando o pincel repousa,
a música permanece no olhar —
como um quadro ainda molhado,
como um som que ainda ecoa.
Tamara T Guglielmi
Concert on a Grand Canvas
Mozart came in gleaming laughter,
like a stroke from Monet’s hand,
in the hall he shone thereafter
like the twilight on the land.
Beethoven made thunder roll,
dark as Caravaggio’s shade,
his fury shook the soul,
like a shipwreck’s cry conveyed.
Bach rose through soaring stairs,
with his hymns of crystal glow,
da Vinci in the airs,
made the sound a sacred show.
Debussy played ocean tides
in Turner’s hazy gleam,
his harp moved time’s strides
in a light-and-color dream.
Tchaikovsky, the sorrowed pace,
turned snowflakes into ballet.
Degas twirled with such grace,
as applause swept them away.
---
Van Gogh painted with flame
the stars in endless flight,
like Schubert, whose acclaim
is a silent, screaming light.
Frida, thorn and grace,
sang the woman’s aching tune;
was an aria with embrace,
like Puccini’s aching moon.
Dalí, the absurd crowned king,
with surreal mustache flair,
was a Liszt—bold, wavering,
vague and genius laid bare.
Picasso, in cold-cut strokes,
tore forms with burning flame,
like Stravinsky’s rhythmic yokes,
where no beat stayed the same.
Basquiat, of concrete sound,
scratched jazz in paint and wall,
a subtler Parker found,
in a fury future-call.
---
Warhol echoed in a choir
the banal as prayer's tone,
like a dreaming Satie’s lyre
in the bare repeat alone.
Banksy, shadow on the street,
speaks through walls with no word said,
like Cage, his silent beat
is what happens in its stead.
---
🎵 Final Coda
In the rhythm or the painting,
there’s a gesture that conveys
the pain, the dream, the aching,
shades and light in quiet ways.
For art — sound or line —
is the language of the unseen,
crossing time and space in sign,
with a silence so serene.
Vozes que me escreveram
(um testamento íntimo de quem cresceu lendo)
Cresci entre prateleiras como quem cresce entre árvores:
cada livro era uma raiz,
cada autor, uma seiva que me invadia devagar,
silenciosamente.
Enquanto outras crianças sabiam nomes de bonecas ou heróis,
eu sabia os nomes das sombras,
dos sonhos,
dos espelhos quebrados das palavras.
Os autores não foram só companhia —
foram minhas primeiras perguntas.
Foram costureiros da minha alma dispersa.
Monteiro Lobato me deu chão com cheiro de terra,
mas também me apontou estrelas escondidas nas caixinhas do impossível.
Foi com ele que aprendi a discutir com o mundo
sem deixar de brincar com ele.
Machado de Assis ensinou-me a ironia como espada —
e como espelho.
Com ele, percebi cedo que os silêncios entre as frases
gritam mais do que os gritos ditos.
E que o olhar pode ser faca,
mas também cura.
Clarice Lispector me desfez para depois me reinventar.
Eu lia sem entender, mas algo em mim tremia,
como se ela falasse com uma parte minha
ainda por nascer.
Foi ela quem me ensinou
que o mistério não se resolve —
se contempla.
Fernando Pessoa, com seus outros eus,
me permitiu viver entre máscaras sinceras.
Cada heterônimo era uma chave:
um modo diferente de olhar o mesmo céu.
Com ele, compreendi que o mundo cabe
em quem aceita não caber nele.
Cecília Meireles me ensinou a flutuar entre as dores,
a escrever sem peso e com ternura.
Ela cantava tristezas com mãos de seda,
e com ela entendi
que ser frágil não é ser fraco —
é ser afiado de dentro.
José Saramago me deu o labirinto da linguagem.
Com ele aprendi a perder o fôlego em frases longas,
a duvidar da pontuação do mundo.
Ele me ensinou que a fé pode ser cética,
e que a lucidez é, por vezes, heresia.
Franz Kafka me assombrou com seus corredores sem portas.
Era como se ele tivesse lido meus medos antes de mim.
Com ele, vi que a angústia tem nome,
mas às vezes não tem saída.
E ainda assim: escreve-se.
Virginia Woolf, vapor de pensamento,
ensinou-me a nadar na corrente do sentir contínuo.
Com ela, entendi que o tempo interno
desfaz relógios,
e que a mulher que escreve
precisa de um quarto —
e de um universo.
Emily Dickinson, tão calada e infinita,
sussurrou-me versos como orações.
Com ela, aprendi que há um universo
que vive apenas entre quatro paredes
e uma janela.
Hermann Hesse me falou em voz de monge e de menino.
Ele disse que a alma é rio,
que o espírito busca retorno,
e que às vezes a paz só vem
quando a solidão é aceita como irmã.
Dostoiévski rasgou em mim um buraco necessário.
Ele não me confortou: me despiu.
Com ele, aprendi que amar é sangrar,
e que o abismo não se vence —
se reconhece.
Italo Calvino, leve como o pensamento sonhador,
ensinou-me que a leveza pode ser mais difícil que o peso,
e que às vezes a melhor resposta
é uma história contada de lado,
como quem dança e não explica.
---
Coda da Leitura
Hoje, sou uma colcha de vozes.
Nenhuma só. Nenhuma inteira.
Mas todas verdadeiras.
Carrego Austen nas entrelinhas da minha coragem,
Rilke nos espaços onde me pergunto em silêncio,
Kafka nos dias em que a existência parece absurda,
e Woolf nas marés do meu pensamento líquido.
E se amo tanto o que não sei,
se permaneço inteira mesmo despedaçada,
é porque cresci lendo —
e os livros, em silêncio,
me ensinaram a habitar o mundo
com perguntas,
com beleza,
com espanto.