Sebastião Santos Silva

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⁠URANDI
Urandi é uma terra rica:
Reses, água e produção!
Afresco da natureza,
Nosso oásis do Sertão!
De sina para o progresso,
Instiga brio e projeção!

⁠RETRATO DE URANDI

Esse retrato me retrata
com muita autenticidade,
porque revela a minha alma
e a urandiense identidade.

Olho-me no espelho
e vejo um rosto colorido;
tingido de preto, branco e mestiço,
herdado de “homem bom” ou sofrido.

Do mirante Alto do Cruzeiro
contemplo de lá toda a cidade.
Vejo também o Sol se pondo,
trazendo-me ufana felicidade.

Subindo a Serra dos Gerais,
descortina a Caatinga e vales
povoados de gente trabalhadora
confiada na fé contra os males.

⁠LAMENTO

Oh, Urandi, minha terra querida;
tão benevolente, mas ressentida;
tão acolhedora, mas agredida;
és uma sobrevivente enaltecida.

Esse Oásis do Sertão, já teve dia feliz!
com seus lagos e rios, inclusive o Raiz.
nada sobrou, nem mesmo a igreja matriz.
e as nossas nascentes estão por um triz.

Urandi era nosso orgulho, nos seus tempos de glória;
mas depredaram até o jardim, guardado na memória;
demoliram os patrimônios, que fizeram nossa história;
porque tem quem pensa, que o novo é que a faz notória.

Urandi sobreviveu da colônia até o momento.
quem viveu por aqui, é grato pelo acolhimento.
devemos tratá-lo melhor, porque tem sentimento
e no seu aniversário de 100 anos, não sei se digo:
meus parabéns ou meus sentimentos.

⁠OÁSIS DO SERTÃO

Urandi, oásis do Sertão,
Bem na divisa com Minas;
Tem indústria e irrigação
Com suas águas cristalinas.
Teve a primeira prefeita
E minério nas colinas.

⁠BEM-VINDO A URANDI

Urandi é o anfitrião
De quem vem à Bahia.
Recebe os visitantes
Desejando boa estadia.

A ponte do rio Verde
É o portal da alegria.
Bem-vindo a Urandi,
Ao Nordeste e à Bahia.

Nessa terra acolhedora,
De água doce que sacia,
Tem paisagem que encanta
Urandiense e quem aprecia.

Quando parte do Nordeste
Ou mesmo da Bahia,
A despedida é em Urandi:
Obrigado e volte outro dia.


HINO A URANDI

Somos gratos à sua índole, Criador,
Por terra fértil e com um céu anil,
Rios e cascatas de um excelso alvor
Ornados com belezas do Brasil!

Conquistada a terra do gentio,
A bravura lusa num mundo novo
E o labor afro no tempo hostil
Ergueram a grandeza deste povo.

Rincão baiano, oásis do meu Sertão,
Aflora água doce dos mananciais.
Rico em minérios, gado e irrigação;
Aerado pelas brisas das Gerais.
Amamos a ti
Urandi,
Amamos a ti!
Nosso cunho
É o pássaro
Gurandi.
No encontro dos rios nasceste Urandi,
Urbe pujante em vales verdejantes,
Nome vindo do tupi-guarani;
É genitora de filhos brilhantes.

A liberdade não era um sonho novo,
E a força ufana de um sábio intendente
Pra o triunfo soberano deste povo,
Propércio és Duas Barras independente.

Terra Mãe, devemos enobrecer;
Como bons filhos, não falta por quê.
E sendo urandienses até morrer,
Nós dedicamos este poema a você.

⁠CANÇÃO DO URANDIENSE

Meu Município tem umbuzeiro,
Onde cantava o cardeal;
Das espécies que têm aqui,
Só encontra por lá o pardal.

Nosso céu não tem fumaça,
Nossas roças têm menos odores,
Mas os matos têm poucos bichos,
Por conta da ação dos caçadores.

Ao andar sozinho, à noite,
Mais seguro eu sinto lá;
Minha terra tem algodão de seda,
Onde assombração gosta de assustar.

Minha terra é promissora,
O que quase não vejo por cá;
Em morar, sozinho, à noite,
Mais seguro eu sinto lá;
Minha terra tem umbuzeiro,
Onde cantava o carcará.

Tomara que logo chova,
Para que eu volte pra lá;
E que desfrute dos valores
Que não encontro mais por cá;
Por sorte ainda existe os umbuzeiros,
Onde cantava o Sabiá.

⁠URANDI - TERRA DO IMPOSSÍVEL

Tudo é possível...
Na terra do Impossível
É possível o Impossível,
Porque o Impossível é possível,
Pois é possível o Impossível!

Nada é impossível...
Como pode o impossível ser possível?
É possível porque existe o Impossível!
Ainda é possível ver o Impossível,
Porque não é impossível o Impossível!

⁠DR. PROPÉRCIO-PATRONO DE URANDI

Nessa terra de filho
ilustre e anônimo;
tu és nosso patrono,
idealizador do topônimo.

Pioneiro acadêmico
que estudou em Diamantina,
seguiu pra Rio de Janeiro
depois que concluiu em Minas.

Notável engenheiro civil
que à sua terra voltou;
conquistou nossa autonomia,
belo legado nos deixou.

Tinha amor por sua terra,
foi intendente ético;
estudou o filho Lauro
e nos deu o primeiro médico.

Urandi lhe pede desculpas
por tamanha ingratidão;
nunca homenageou você,
por lutar pela emancipação.

⁠RIOS DE LÁGRIMAS

Às vezes me deparo
numa grande melancolia,
lembrando de um passado
de tristeza e de alegria.

Quanta saudade
do meu tempo de criança,
os rios tinham muita água,
ainda guardo na lembrança.

Tomava banho no rio,
pescava na barraginha,
tinha tanta lavadeira
quarando roupa limpinha!

Ninguém imaginava
ver os rios maltratados,
transformados em esgotos,
sendo todos assassinados.

Em rios de lágrimas
eles foram transformados,
por conta do lixo e esgoto
que neles são lançados.

Cachoeira e Raiz
foram a razão da cidade;
deram o nome Duas Barras
e só receberam atrocidade.

Revitalizar nossos rios
é um processo lento,
mas a principal medida
é a estação de tratamento.

⁠URANDI BUCÓLICO

O povo urandiense
é forte e resistente
e, por ser sertanejo,
não teme Sol quente.

A maioria é camponês,
mas a vida hoje é diferente,
tem água encanada,
não tem mais rio corrente.

Não tem mais burro de carga,
nem pega água na cabaça,
não usa fogão à lenha,
nem acha mais uma boa cachaça.

Carro de boi é raridade,
não vê mais ele cantando;
tropa é coisa do passado,
nem vê mulher fiando.

Engenho é peça de museu,
casa de taipa é ficção,
candeeiro não usa mais,
não pisa mais nada no pilão.

Não escuta mais o rádio,
a moda agora é televisão;
ninguém passeia no jardim,
nem faz bandeira de São João.

Tinha também boate,
pra sociedade era perdição;
tinha o trem de passageiro
e o povo vendendo na estação.

A cidade era muito tranqüila,
pouco carro e sem poluição;
a feira livre era muito grande,
livre também de droga e ladrão.

⁠LAGOAS SECAS

Urandi era rico em água,
com fortes nascentes;
lagoas transbordando,
tinha grandes enchentes.

Elas todas secaram
causando impactos;
onde viviam os peixes,
hoje nascem cactos.

Tinha muito peixe,
também jacaré;
onde andava de canoa,
hoje andam a pé.

A lagoa da Capa
era de árvores ornada,
virou um deserto
e foi toda aterrada.

A lagoa da Tiririca
não foi diferente,
era grande e profunda,
lembrada por muita gente.

Drenar a lagoa Grande
foi um desastre ambiental,
causando aos quilombolas
e à natureza um grande mal.

A lagoa do Departamento
era lagoa artificial;
hoje tem Estreito e Cova de Mandioca,
mas não compensa a que era natural.

⁠VILLA URANDY

Saudoso era o tempo
do pequeno arraial,
com casarões e sobrados
no estilo colonial.

A praça era um largo
de terra arenosa e grama.
Só tinha um tamarindeiro,
quando chovia só virava lama.

As ruas eram poucas,
pareciam mais com vielas.
As pontes de madeira
pareciam mais com pinguelas.

As casas coladas nas outras
eram de influência portuguesa.
A pobreza morava no casebre;
os casarões eram da classe burguesa.

Pegavam água no rio
com lata ou com pote;
buscavam lenha no mato
e enchia de água o corote.

⁠O VALE DOS ENGENHOS

Urandi com muitos rios
é o Oásis do Sertão.
Imagina tudo preservado,
antes da depredação.

Tinha água o ano todo,
podia fazer irrigação.
Faziam muitos açudes
pra molhar a plantação.

O rio Raiz era o mais forte,
molhava muita roça de cana;
movia até engenho de ferro,
uma das maiores fontes de grana.

Eram muitos engenhos
rodando ao longo do rio.
No tempo da moagem
podia estar quente ou estar frio.

Quando os bois puxavam
o engenho rodava;
jorrando garapa
quando a cana esmagava.

Tinha muitos alambiques
de cachaça de qualidade.
Tinha muitos acidentes
mutilando com fatalidade.

Produzia também rapadura
e mel com total perfeição;
além do tijolo e da puxa,
tinha o bagaço pra criação.

O rio agora está seco,
não tem mais plantação.
Do engenho pode ter ruína;
o que resta é só a recordação.

⁠URANDI-PIONEIRO EM EDUCAÇÃO

Estudar antigamente
era uma dificuldade;
não tinha ensino público
e professor era raridade.

Quem tinha condição
contratava professor
pra ensinar dentro de casa
e ainda pagava baixo valor.

A mulher urandiense
foi vítima do machismo.
Escola era só pra homem;
mulher aprendia catecismo.

Quando surgiu escola pública,
a mulher teve inclusão;
estudando na mesma escola,
mas mantinha a separação.

Quando criaram o Ginásio
foi uma grande revolução.
Urandi foi pioneiro
nesse nível de educação.

Era escola particular,
continuava elitista.
Pouca gente estudava,
mas era uma conquista.

A cantina de D. Edith e Anita
vale muito a pena lembrar,
mas D. Odília, Edson e Edi
também não pode apagar.

O acesso à educação básica
foi no fim do século passado.
Agora todo mundo estuda,
só basta estar interessado.

Urandi tem filho famoso,
tem muito filho graduado.
São frutos que colhemos
com nosso ensino ofertado.

⁠VANDALISMO LEGAL

Destruir patrimônio público
é crime na constituição,
mas quando o governo faz,
diz ser dentro da legislação.

A memória de um povo
deve ser preservada,
pois é fonte de pesquisa
e história a ser lembrada.

Urandi é uma cidade antiga;
eu falo e ninguém acredita.
Demoliram os patrimônios,
querendo deixá-la bonita.

O cemitério do bairro Vermelho
era cheio de túmulo barroco;
passaram o trator por cima
e fizeram um jardim tosco.

O sobrado de Zé Novato
foi atacado sem piedade.
O local não serve pra nada,
podia ser o museu da cidade.

Na reforma do jardim,
nem a placa escapou;
na pracinha da Matriz,
pelo menos a placa deixou.

A praça do coreto
ficou na boca do povo;
derrubou sem motivo
e não fez outro novo.

O que resta de antigo
está pedindo socorro:
o cemitério,o sobrado,
cruzeiros; um é o do morro.

⁠URANDI ANTIGA

No encontro dos rios
nasceu a cidade;
ainda tinha a lagoa
que deixou saudade.

Tinha os casarões
cheios de janelas,
comércio com portas
e fachadas muito belas.

As casas eram artes
de platibanda portuguesa;
símbolo de riqueza,
pois a família era burguesa.

As casas eram geminadas
sem janelas dos lados,
com quartos interligados
pra serem ventilados.

Não tinha casa recuada,
usava grade na porta
para barrar cachorro
ou gente que não suporta.

Tinha casas muito bonitas
construídas na praça,
de incomparável beleza,
enfeitadas com vidraça.

Tinha suntuosos sobrados,
sinônimo de muita riqueza.
O mercado era um barracão
com maior feira da redondeza.

⁠O RIO RAIZ

Esse presente da natureza
Que nos deu em pleno Sertão,
Jorra água milagrosamente
E só pede em troca preservação.

O rio Raiz é a nossa maior riqueza
E sua nascente é na serra dos Gerais.
Ele Jorra a melhor água do mundo
Pra matar a sede do homem e animais.

Irriga lavoura e abastece a cidade.
Ele á a razão da nossa existência,
Mas o urandiense não agradece
E maltrata por não ter consciência.

Sua força moveu engenho,
Roda-d’água também moveu,
Fez monjolo funcionar
E a lagoa de Urandi encheu.

Serviu água pra maria fumaça,
Gerou energia elétrica.
Urandi foi pioneiro
Em instalação de hidrelétrica.

A energia era fraca;
Não tinha tecnologia,
Mas dava pra iluminar,
Só não era igual hoje em dia.

⁠ A MORTE DAS LENDAS

Todo povo tem sua história,
Seu conhecimento popular,
Suas crendices manifestadas
Nos costumes ou no pensar.

O povo urandiense
Tem mentes fertilizadas,
Criaram muitas lendas
E vou deixar imortalizadas.

Quando tinha muita mata,
Muitos rios pra pescar;
Ainda andava a pé,
Aparecia coisa pra assustar.

Quando pescava à noite
E não soubesse agradar,
Não pegava nenhum peixe
Porque a sereia ia atrapalhar.

Em tempo de quaresma
Aparecia lobisomem
Ou bruxa cavalgava;
Trançava crina igual homem.

Passava bicho correndo,
Só escutava a pisada.
Era mula sem cabeça;
Tinha medo da patada.

Ninguém matava nada
Se não agradasse a caipora;
Levava pinga e fumo
E deixava em cima da tora.

Aparecia muita alma
Dando pote de ouro.
Tinha muita assombração
Que fazia medo e puxava couro.

Acabaram todos os encantos,
Até a rama que fazia perder.
Quando destruíram a natureza,
Os encantos vieram a falecer.

⁠INCELENÇAS NA SENTINELA

Muita cultura nordestina
A Bahia está incluída.
Urandi também faz parte,
Pois sua terra está inserida.

Todo povo tem a cultura
De como enterrar defunto.
Urandi também tinha a sua,
Veja como era o assunto.

Velório antigamente
Era muito traumático,
Porque ficava angustiante
Com o ritual dramático.

Bebia muita cachaça
E cantava o tempo inteiro.
Batucava fazendo caixão
E o povo era um desespero.

Na hora que morria
Colocava vela na mão;
Abria porta e janela,
Ainda fazia muita oração.

Dava banho dentro de casa,
Enchia boca e nariz de algodão,
Estendia o corpo no banco
E atava a cara e pés com cordão.

Cobria o corpo com lençol,
Acendia do lado um candeeiro.
Até a mortalha ser costurada,
Saia a procura de um coveiro.

Só enterrava com 24 horas,
Não preocupava se ia feder.
Se o caixão ficasse pesado,
Caçava uma vara pra bater.

Muitas vezes transportava na rede,
Atava cordão de São Francisco,
Carregava também em escada
Embrulhado com pano de risco.

Só enterrava com sete palmos
E a família toda vestia luto;
Chamava quem morreu de finado
E hoje esse nome nem mais escuto.

⁠O TOMBO DA IGREJA

A Igreja Matriz de Urandi
era uma obra muito antiga.
Era o marco da fundação,
mas pra isso ninguém liga.
Se falasse em tombamento,
você comprava muita briga.

A igreja era peculiar,
valia a pena manter.
A torre era no fundo,
tinha uma data pra ler.
Era a marca da fundação,
mas ninguém queria saber.

Ela sofreu muitos ataques,
desde quando era capela.
Derrubaram até o coro
e o sino ficava na janela.
Arrancaram todas as lápides
de quem foi sepultado nela.

A cidade quebrava o silêncio
no tempo que tocava o sino,
mas há muito tempo ele calou;
já era o começo do seu destino.
Nossa praça também alegrava
quando Dona Zelita tocava violino.

Nem o Cristo Redentor escapou,
teve que procurar outro lugar.
A esplanada invadiu a praça,
dificultando carro estacionar.
Fez um mercado debaixo do Cristo,
com barracas servindo de altar.

O altar era uma relíquia,
no Brasil não tinha igual.
Do tempo da colonização,
tinha o brasão de Portugal.
Era o nosso mais valioso
patrimônio material.

Tinha lustres, confessionário
e nichos de madeira entalhada.
Tudo precisava ser preservado,
mas era preciso ser tombada.
Como não quiseram fazer isso,
preferiram que fosse derrubada.

⁠CULTURA EXTINTA

Durante a escravidão
fazia cerca de pedra;
carregava pedra pesada
que nem trator arreda.
Fazia cerca de madeira,
tão junta, que chega veda.

Fazia casa de enchimento,
dormia em cama de jirau,
cobria casa com palha
ou com casca de pau,
fechava porta com vara,
rezava pra livrar do mau.

Dormia em couro de boi
ou em colchão de palha,
bebia água de cabaça
ou de pote numa galha,
cozinhava em panela de barro
e fazia renda sem uma falha.

Antigamente não tinha carro,
Iam pra São Paulo a pé.
Iam à Lapa de pau de arara
ou caminhando pela fé.
Comia farinha com rapadura,
pagava promessa e cheirava rapé.

O gado era criado solto,
vaqueiro tocava boiada,
passar perto de arco-íris
tinha sexualidade trocada,
acreditava em superstição,
a mulher vivia confinada.

Dançava forró de sanfona,
fiava linha pra tecer,
cantava cantiga de roda,
fazia penitência pra chover,
jejuava na Sexta-Feira Santa
e dava da comida pra peixe comer.

Moça tinha que casar virgem,
senão ninguém queria ela.
Se galo cantasse fora de hora,
tinha rapaz raptando donzela.
O pai escolhia o noivo da filha,
e na última, quebrava a panela.

No outro dia da fogueira,
rodava a cinza com coroa.
Fazia simpatia pra saber
se as águas seria boa.
Fazia compadre e batizado;
e apagava o fogo com garoa.

Usava pedir a benção,
tinha confissão de pecado,
fazia muito benzimento,
mulher quebrava resguardo,
mascava fumo e pitava cachimbo,
havia arataca e mundéu armado.

A cultura mudou muito
com a chegada da televisão.
Em Urandi começou na praça
com Diógenes, na sua gestão.
Ficava na parede da prefeitura
e o povo sentava até no chão.

⁠A FESTA DE SANTO ANTÔNIO

A festa do padroeiro
é a mais antiga de Urandi;
começou nos primeiros anos
que a capela passou a existir.
Todo fazendeiro vinha ao festejo
e, pra alojar, começaram construir.

Era a festa mais esperada:
vinha padre fazer celebração,
contratava filarmônica de fora
e faziam um grande leilão,
tinha levantada de mastro
e encerrava com a procissão.

Armava muita barraca,
fazia muita iluminação,
trazia até nega de fogo
e banda pra animação.
Ainda faziam roupa nova,
casavam e batizava pagão.

Quando vinham casar na cidade,
causava muita mobilização.
Procurava casa para arrumar,
vinha a pé,cavalo ou caminhão.
Soltava foguete, carregava mala
e fazia latada com trempe no chão.

Na novena soltava foguete,
durante toda comemoração.
Crianças de anjo e do Santo
acompanhavam a procissão,
até que chegou o padre Paulo
e acabou com toda tradição.

⁠ADEUS AO MISTO

O trem chegou a Urandi,
Fazendo grande revolução;
Era a Segunda Guerra
E a cidade viveu a explosão.

A cidade viu o progresso,
Muita gente casou aqui;
Deixou grande legado
Ou radicaram em Urandi.

A estação do trem
Era muito peculiar;
Ficou longe da cidade,
Era difícil pra acessar.

A estação era bonita,
Valia a pena preservar.
Tinha um curral de trilho
Para o gado embarcar.

Muita gente trabalhou lá:
Abelardo, Antenor, Valtinho.
Recebia muita mercadoria
E tinha produto pra exportar.

De Urandi levava minério,
Mamona, ovo e frango.
Trazia cimento, sal e grãos.
O misto lotava de candango.

O trem de passageiro
Fez história no nosso lugar.
Começou com maria fumaça,
Depois veio o misto até acabar.

Ele descia pra Minas na sexta,
Dia de sábado ele retornava.
Vendia muita coisa no trem
Porque a parada demorava.

Era um transporte barato,
Favorecia muito a pobreza.
Fernando Henrique acabou,
Dando adeus essa riqueza.

⁠LAPINHA DE URANDI

A arte de fazer presépio
é uma cultura popular.
Imitar o morro da Lapa
é uma inspiração secular.
Narra o nascimento de Cristo,
fazendo a maquete do lugar.

Faz morro de papel
com pintura artesanal.
Essa tradição católica
comemora o Natal.
Coloca areia, enfeites
e planta pequeno arrozal.

Tem o tempo de armar
e o tempo de desmanchar,
mas o Dia dos Santos Reis
sempre precisa esperar.
Recebe muita visita,
até reiseiro pode chegar.

Tem gente que solta foguete,
um sinal de lapinha no lugar.
Acende vela toda noite
e até reúne pra rezar.
Coloca imagem pra frente
e depois vira para voltar.

O reisado de antigamente
cantava na porta ao chegar;
fazia ritual ao Menino Jesus,
o dono da casa mandava entrar;
oferecia bebida e comida
e uma prenda tinha que dar.

Essa cultura está acabando,
ninguém quer continuar.
Está ameaçada pelos jovens
que não gostam de apreciar.
Os idosos vão todos embora
e a cultura gosta de acompanhar.