Sebastião Salgado
Minha maior esperança é provocar um debate sobre a condição humana do ponto de vista dos povos em êxodo de todo o mundo.
Minhas fotografias são um vetor entre o que acontece no mundo e as pessoas que não têm como presenciar o que acontece. Espero que a pessoa que entrar numa exposição minha não saia a mesma.
É preciso ter paciência para esperar o que vai acontecer. Pois algo vai acontecer, necessariamente. Na maioria dos casos, não há como acelerar os fatos. É preciso descobrir o prazer da paciência.
Com o preto e branco e todas as gamas de cinza, porém, posso me concentrar na densidade das pessoas, suas atitudes, seus olhares, sem que estes sejam parasitados pela cor.
Constatamos que o mundo está dividido em duas partes: de um lado a liberdade para aqueles que têm tudo, do outro a privação de tudo para aqueles que não têm nada.
O fotógrafo, para ser fotógrafo, precisa de uma grande quantidade de humildade e a cada manhã dizer que ele não compreendeu, que ele não é nada, que ele ainda não é fotógrafo, que ele tem de compreender a sociedade, que há muita coisa para aprender, e que tem de refazer tudo que fez.
Fotografia é a minha vida, o que penso, acredito, amo. Está tudo dentro dela.
Não tenho nenhuma preocupação nem nenhuma pretensão de como serei lembrado. É minha vida que está nas fotos e nada mais.
Um fotógrafo tem o privilégio de estar onde as coisas acontecem.
Só os fotógrafos têm o direito de duvidar. Quando vamos a todas essas regiões do mundo, enfrentando todos os problemas e desafios que você pode imaginar, nos perguntamos: sobre ética, legitimidade, segurança. E cabe a nós encontrar a resposta, sozinhos.
Quantas vezes na minha vida eu pus a câmera de lado e sentei para chorar? Porque era dramático demais, e eu estava sozinho. Esse é o poder do fotógrafo: poder estar lá.
Eu descobri que as maiores viagens que fiz na vida foram dentro de mim mesmo.
É uma pena vivermos apenas 80 ou 90 anos no máximo. Se pudéssemos viver mil anos, seríamos capazes de entender nosso planeta mil vezes melhor, e viver de outra forma.
Sei que não viverei muito mais. Mas não quero isso. Já vivi tanto e vi tantas coisas.
A vida dos fotógrafos é assim: ir, descobrir, conhecer e transmitir.
A fotografia que faço é o espelho da sociedade.
Por que o mundo pobre deveria ser mais feio do que o mundo rico? A luz aqui é a mesma que lá. A dignidade aqui é a mesma que lá.
Minha visão é pessimista em relação à minha espécie, o ser humano, que não evoluiu em nada. Nossa espécie se isolou.
Sou pessimista em relação à humanidade, mas otimista em relação ao planeta. O planeta vai se recuperar. Está cada vez mais fácil para o planeta nos eliminar.
Os arquitetos são os primos mais próximos dos fotógrafos.
Justiça ecológica é responsabilizar nossa sociedade consumista pela destruição do planeta e de seu patrimônio ambiental. Nosso consumo está destruindo tudo. Conhecimento ecológico é reconhecer que somos feitos de uma mesma natureza, que somos parte da biodiversidade. Este é o entendimento mais importante da ecologia.
