Rubem Alves
O ser humano se vê em um
mundo que não lhe pertence e, para tentar escapar deste, cria para si um outro, em que o "princípio
de prazer" se sobrepõe ao "princípio de realidade".
Os universos simbólicos, a religião, a história são expressões do esforço
humano no sentido de tornar a natureza, o tempo e o espaço em função de si
mesmo. Esforço titânico para antropologizar o universo todo, transformando-o
numa extensão do corpo.
Dessa forma, o Reino de Deus é um grande projeto utópico, e a religião é o grito da
criatura oprimida que não aceita o mundo como ele é, que quer fazer com que o reino de Deus se
faça presente na terra. Nesse sentido, a religião não mais corresponde à busca de um ser
transcendente, mas a uma ação efetiva, buscando alcançar um mundo que faça sentido para o
homem.
"No paraíso não havia templos. Deus andava pelo jardim, extasiado, dizendo: 'Como é belo! Como é belo!'. A beleza é a face visível de Deus". (Em Se eu pudesse viver minha vida de novo)
PSICANÁLISE: Conversa na recepção: Conversa vai, conversa vem, digo que sou psicanalista. A moça entra em pânico, temerosa de que eu tivesse poderes para ver a sua alma. “Eu já fiz terapia”, ela disse. “Mas agora estou resolvida.” Pergunto: “Quando se deu o óbito?”. Ela me olha sem entender. Óbito? Explico: as únicas pessoas resolvidas que conheço estão no cemitério.
Os flamboyants
A manhã estava linda: céu azul, ventinho fresco. Infelizmente, muitas obrigações me aguardavam. Coisas que eu tinha de fazer. Aí, lembrei-me do menino-filósofo chamado Nietzsche que dizia que ficar em casa estudando, quando tudo é lindo lá fora, é uma evidência de estupidez.
(Trecho extraído de texto do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), Fonte: Projeto Releitura)
Sobre a morte e o morrer
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...
(Trecho do Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3. Fonte: Projeto Releitura)
Houve tempo em que era mais fácil acreditar em Deus. Hoje está mais difícil. Até o Papa, na sua visita ao campo de concentração de Treblinka, fez a pergunta que não deveria ter feito: “Onde estava Deus quando esse horror aconteceu ?
(Trecho extraído da crônica PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS… Crônica – Instituto Rubem Alves – Website)
Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...
(Em "Estórias de quem gosta de ensinar: o fim dos vestibulares". Campinas/SP: Papirus Editora, 2000, p. 166. – Fonte: Templo Cultural Delfos)
“Onde está a minha esperança? Numa multidão de indivíduos, independentemente do seu lugar social ou econômico, que vivem possuídos pelo sonho da vida, da beleza e da bondade. A esperança de Camus estava no mesmo lugar que a minha”.
(Extraído do livro "Pimentas" - de Rubem Alves. Página 136 - Editora Planeta, São Paulo, 2014.)
“O amor se realiza quando recebemos de volta as coisas que amamos e perdemos”.
(Extraído do livro Pensamentos que Penso Quando não Estou Pensando, Editora Papirus, 3ª Edição, página 64).
"Eu pedia às pessoas mais do que elas me podiam dar: uma amizade contínua, uma emoção permanente. Hoje sei pedir-lhes menos do que podem dar: uma companhia sem palavras".
(Em “pensamentos que penso quando não estou pensando” - Página 47)
“Os antigos filósofos pensavam muito mais que liam. A invenção da imprensa modificou as coisas. Lê-se mais do que pensa”.
(Em "Pensamentos que penso quando não estou pensando" Página 46 - 3a edição - Papirus – 2012)
APRENDER A SER CRIANÇA
São muitos os estudos da psicologia das crianças. Estudamos as crianças para ensiná-las a maneira adulta de ser. Não conheço estudos que tenham por objetivo o contrário: ensinar aos adultos a maneira de voltar a ser criança.
(do livro em PDF: do universo à jabuticaba)
SOCIEDADE
Há muitos anos - mais de trinta – que me recuso a pertencer a qualquer sociedade. Groucho Marx disse certa vez. “Eu nunca aceitaria ser sócio de um clube que me aceitasse como sócio...”. De acordo.
(do livro em PDF: do universo à jabuticaba)
FUMAR...
Parar de fumar aos poucos é o mesmo que parar de ser infiel à esposa aos poucos...
(do livro em PDF: do universo à jabuticaba)
“Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria: "tempus fugit..."
Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será”...
(em 'Tempus Fugit'. São Paulo: Edições Paulus, 1990.)
“A imaginação é a artista que transforma o sofrimento em beleza. E beleza torna a dor suportável. Por isso escrevo estórias: para realizar a alquimia de transformar dor em flor. Minhas estórias são as minhas porções mágicas... Não há contraindicações nem é preciso receitas”.
(Trecho em “Se eu pudesse viver minha vida novamente...”. [Organização Raissa Castro Oliveira]. 21ª ed., Campinas/SP: Editora Verus, 2010, p. 147.)
"As memórias com vida própria, ao contrário, não ficam quietas dentro de uma caixa. São como pássaros em voo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que elas não vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós, mas não nos pertencem”.
(Trecho de "O velho que acordou o menino" [infância]. São Paulo: Planeta do Brasil, 2005, 14.)
"Penso que borboletas, seres alados, diáfanos e coloridos, devem ser emissários dos deuses, anjos que anunciam coisas do amor. Imaginei então que aquela borboleta era um anjo disfarçado que os deuses me enviavam com uma promessa de felicidade”.
-(em "Na companhia de Rubem Alves: livro de anotações para mulheres". Editora Best Seller ltda, 2010.)
"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. E neste espaço o amor só sobrevive graças a algo que se chama fidelidade: a espera do regresso. De alguma forma a gota da chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora”.
(Trecho de "Onde mora o Amor", do livro 'Tempus Fugit'. São Paulo: Edições Paulus, 1990. )
“A sugestão que nos vem da Psicanálise é de que o homem faz cultura a fim de criar os objetos do seu desejo. O projeto inconsciente do ego, não importa o seu tempo e o seu lugar é encontrar um mundo que possa ser amado”.
( em "O que é religião?".)
No silêncio das crianças há um programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar para que a inteligência desabroche.
"Uma lagarta vira borboleta, um velho transforma-se em criança... O tempo completa o seu ciclo, volta aos começos. Assim é o tempo da alma, um carrossel, girando, voltando sempre ao início, o “eterno retorno”. T. S. Eliot estava certo quando disse que “o fim de todas as nossas explorações será chegar ao lugar de onde partimos e o conhecer, então, pela primeira vez”.
(em “O retorno e terno”. 8ª ed., Campinas/SP: Papirus-Speculum, 1996, p. 158.)
"A vida me ensinou que a realidade é como uma piada e que não existe nada mais inútil que nossas projeções futurológicas: o final é sempre inesperado”...
( em "Na companhia de Rubem Alves: livro de anotações para mulheres”. Editora Best Seller ltda, 2010.)