Rayme Soares

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QUARTO BRANCO
(Rayme Soares)

O frio, o fel, a falsa verdade
Justo aqui neste branco quarto
É quando a mim vem a realidade
E eu que me julgava tão especial

Era meu olhar, minha filha
Creia, nunca me vi de perto
Eu queria ser o gigante que pensava
Mas não me sinto nem isso, nem nada

Os anos que cria ser imenso se foram...
(Queria o seu abraço carente de mim)
(Cadente não, cadente não, só estrela)
Traças no papel do meu livro.

Vivi tanta ilusão, tanta, tanta!
Não posso me abater, eu sei
Meu Deus, quantas vezes mais
Eu vou chorar neste quarto branco?

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A Peneira do Tempo

Agudas lembranças: cheiros de ruas, praças, marés, brinquedos.
Lembrança de ter sido herói, filho, menino-pai e pai-menino, é o que fica
Pra ter teu passo, pra andar junto e, sendo feliz, não pousar. Fortalecem-se as asas
O tempo não deixa esmaecer o que houve de significância, cravando nos atos
As nossas graças, a nossa infância e a nossa maturidade
Porque na peneira do tempo nem turvo, nem maldade
Revele-se infinitamente, resplandecentemente, felicidade

Sobre Juliana.

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Livro Fechado - Canção

Pelo chão roupas, versos, dias vãos
Cada passo de um caminhar
Que um dia eu não quis olhar

Era o céu: as estrelas nas minhas mãos
Nossa ida para o mar de amor
Minha boca silenciou

As palavras soltas dizem mais
Que as verdades mortas de um rapaz
Que cantava flores e jamais
Pensou no risco que é viver

Sobre a mesa nada que desperte um sorriso
Um livro fechado, um nó
Na lembrança, sua tez

Eu tinha o céu: mas eu nunca soube voar
Achava que da vida eu sabia
E eu só queria amar você

Na casa vazia muito mais
Que o coração cheio de uma paz
Que ficou no meio de um desejo de puro amor

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MARIANA
A gente brincou de céu
A nossa viagem, minha filha
Em uma nave de papel

A gente na beira do mar
Castelo de areia e certeza
De que nada iria findar

Agora meu canto no ar
Mas eu nunca perco a esperança
De te ver em algum lugar

Eu quero lembrar seu sorriso
Eu posso ouvir a sua voz
Ecoando no meu paraíso

De uma forma que ninguém ouviu
Se você seguiu seu destino em paz

Há de existir algo bem maior
E esse é o chão, minha luz, meu sol

Ah se eu soubesse como não parar
Ou como parar o tempo, pra você ficar

Eu faria

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Demência

Pedra estática, quando a terra treme
Pedra muda, quando o barco afunda
Pedra surda, quando da dissimulação aguda
Pedra nula, quando dela se quer um norte
Pedra-paisagem, inerte demência à mostra
Pedra abstrata, sem tom, sem forma, sem nada
Pedra inútil, se havia ou tinha é pedra velada.

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ALMA LEVE

Suave, voa linda ave leve
Quem sabe, a ela cabe e se revele
Leve, leve, leve, leve
O solo onde um encanto lhe reserve
Um voo novo, forte e sem fronteiras
Leve, leve, leve, leve
E o vento, as agruras e as barreiras
Pra longe da esperança verdadeira
Leve, leve, leve, leve
No passado, a tristeza derradeira
Uma maldade transformada em poeira
Breve, breve, breve, breve
Então, cante e voe a uma altura
Que te mantenha alma pura.
E te eleve ave leve.

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FINITO - À Mariana.

Da janela do meu quarto, entendo ser finito
Além do céu cinzento, um inerte monolito
E nada estanca a lágrima corrente no meu rosto
Tempo parado, pela dor que sinto e trago tão aflito

A vontade de esquecer, nunca esteve comigo
E se tentei estar atento, foi só pra ter contigo
Os bons intentos preservados nos momentos de um sonho
Mas da janela do meu quarto, um retrato do meu grito

Queria só te ver
Pra talvez compreender
O que não cabe mais em mim
Queria só viver
O tanto a mais pra ver
O que não cabe mais em mim
De amor

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SOBRE O PAI

Um dia, sob o seu olhar
A mim foi dado um caminho
Sem temores, sem penar
Meu andar em desalinho
E se eu fosse um passarinho
Em teus braços, melhor dos ninhos
E se eu fosse uma sementinha
Em tuas mãos a terra minha

E se um dia eu nada fosse
Por tua presença, então seria
Pois se tu és presença intensa
De uma força sem barreira
Uma força que não cessa
Que por nada se esgueira
Eu sou vida em pleno voo
Sou pro sol a terra inteira

Pois tu és o prumo mais certeiro
Tu és um astro que não cai
E no recanto dos meus versos
De onde o puro não se esvai
Eu encontro o que não meço:
Prece, abraço, laço, pai.

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NEM QUERERIA

Sim, eu supero o medo, a necessidade de acordar cedo
Sou notívago, venço a solidão. Sei andar na contramão
O azedume, a amargura, o travor do desdém, eu supero
O ardor da raiva, o fervor do ímpeto, até disso eu desvio
Mas se você pensa, ou alguém disse
Não está em mim, ter um feito, um calço, um jeito, pra sacanice
E a isso se eu superasse, então findo por todo o lado
Saberia de mim desatinado. E, assim, certamente, nem mais me visse.

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ITACIMIRIM

Talvez com o abraço teu
Meu mundo finalmente
Levite e encontre
Aquele rasgo azul no céu

Por sobre o mar

Inundar de ti
Esse sonho, enfim
E a paz de Itacimirim

Pois tu tens de mim
Mesmo tom que ali
Soou

Deixarem os grãos da areia, os pés
Sermos um mais, em cada um
Nós dois, na tez do céu azul, do mar

Rasgo na imensidão da voz
Que agora se eleva a permitir
Aquela imagem que fincou
Itacimirim.

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