priscila paulino
aos amigos minhas eternas condolências,
sei que árdua fora a tarefa de vocês,
mas a executaram com tanta leveza que
pareceu-me ser do amado a facilidade para que o amor acontecesse.
aos meus inimigos meu eterno muito obrigado,
combatemos,
torna-mo-nos mais fortes naquilo que se propôs e fora proposto – mesmo sem o querer.
diariamente às noites esqueço
ao todo praticamente desconheço
às vezes sempre percebo
contradizendo desfaço toda ciência das certezas.
(certa filosofia).
posso esperar o tempo que for,
mas o teu silêncio me desespera;
ansiosa aguardo uma comunicação
pois sei que aos amigos Tu falas abertamente.
e com desespero, em todo o tempo,
estarei a esperar em meio ao Teu silêncio.
(quase sem palavras – à repeti-las).
colocar fechaduras é muito desconcertante pra mim.
vivi, por anos, numa casa onde nenhuma porta as tinha, em um dos banheiros havia apenas um trinco frouxo que, por força do hábito, ninguém usava.
não abríamos as portas fechadas.
não havia necessidade de trincos.
para todos tudo estava perfeitamente bem dito
e os termos circunscreviam as relações.
(cronicidade quotidiana).
zombaram do meu louvor,
escarneceram das minhas preces,
atentaram contra o meu jejum.
– caia! gritaram ferozmente;
o seu riso só lhes diz respeito.
porque o primeiro pecado persiste no mundo:
– matar o irmão é melhor que ser descente.
mas as condições são diferentes;
justificativas, têm todas
e as apresentam continuamente.
justificado serei por Ele.
(o maior de todos: o Ente).
não é tudo sobre sentir: é palavra revelada.
– abaixo os apologetas!
é Jesus Cristo.
– abaixo os puritanos!
– EU!
[vida longa ao rei
morte breve aos súditos].
(coortem a cabeça dele).
berro, s.m.
sílabas juntadas sem coesão e,
consequentemente, coerência.
ouvido — apelo, aproximação-não-próxima e insistência
: "— segue o fio."...
... saída pomposa, empanturrado de razões ilógicas,
dois monólogos,
dispendiosos,
desperdício.
planejo o futuro:
as férias de verão –
traço rotas para caminhos por essa terra de meu Deus.
cálculo minuciosamente os próximos gastos,
aguardo promessas;
o amanhã grita
e eu não sou surda
e ali sussurrarei todo o meu hoje passado.
(sem título, só enredo)
as palavras me fascinam.
queria poder dize-las todas,
mas, às vezes, se perdem:
imensidões de pensamentos, de vazios e de alguns espaços muito, muito cheios.
(sobre-loquos).
ouça o que se vê,
veja o que lhe cheira,
ao cheiro das palavras
fale do que o toca.
(se) faz sentido saber escutar.
(alucinanão)
adultos brincam
brincam de ser deuses
observam, refutam, condicionam e limitam
para atribuir sentido.
e é aí que a falibilidade de sua brincadeira reside
se fossem, de fato, deuses
não precisariam de aplicar sentido às circunstâncias, objeto-alvo e agentes
o sentido está em quem faz todas as coisas
a quem: circunstâncias, objeto-alvo e agentes estão sujeitos.
o sentido está no serviço que antes É.
(qual a sua divindade?)
imparável? (em discordância)
insaciável:
o desejo de vingança,
o raquítico consolo,
a vaga amizade,
– inteligível – e
as palavras jogadas por todos e para todos os lados...
... maçante.
interminável:
cair máscaras?
ruir vidas?
um ponto final.
vejo silêncios,
sinto o vazio...
... corpos inteiros.
não vejo o que contemplam,
não ouço o que se dizem,
não posso:
são alguns de seus sentimentos.
comunico a mim e assim posso compreender, em partes, o tanto que existe neste tempo.
(muito obrigada).
não tomo partido,
que parte por conveniência ou complacência,
tomo postura não póstuma –
e este registro se faz proposital, deixo, portanto, anotado –
isto posto...
... também prostro-me diante da Parte que postulou o todo.
(sem lados, o mundo é uma esfera).
os momentos não exigem variantes de mim
é preciso instar
me é exigido que derive
assim tanjo o plano do agora
segundo as ordenadas:
do que tenho e
do que sou,
tal qual na matemática.
(matematiquês ii).
existem o bem e o mal
Deus existe e
eu existo.
Deus é sempre bem, indubitavelmente e
eu sou mal, demasiado mal.
(raciocínio dedutivo).
usa-se o nome de Deus,
exclui-se Deus,
endeusa-se,
a humanidade matou Deus,
prazer, adeus,
Deus é tudo, portanto, tudo é Deus,
Deus sendo nulo: sido zero: era um: foi dois: fora três: é quatro: seja cinco: fosse seis: quando for sete: será oito: se(r) nove e seria dez e
deus.
e assim, para alguns, Deus permanece questionado e fora do seu devido lugar.
(a poética das cosmovisões).
é sobre a vida.
a submergir as vivências...
vivaz! conviva, quotidiano.
é vivificada.
... convivência.
(vixit bula).
lê-se: não viva do passado.
ouve-se: – vivamos de futuro!
alguém pergunta: – como fazemos isso?
a quem é dito: – vivendo no presente.
(dia-logos).
poesia é o jeito que as palavras encontram de se organizar para comunicar aos nossos sentimentos: – eu te entendo.
(acomodação linguística).