Patrícia Vicensotti

Encontrados 7 pensamentos de Patrícia Vicensotti

"E tenho assim te amado:
descompassado e exagerado.
E porque á mim assim tem sido,
gosto então só sinto ao que te sou.
Meu mundo,menino,
por vós tomei e te dou."

Nada mais me faria tão feliz.

De contrário a minha dor,veio de um sorriso solto como as coisas que nascem para ser encanto.
Veio abrindo as cortinas,pondo quentura de sol,azul de céu,cheirando erva-doce.Veio algodão-doce,beijo na mão,nuvem a me levar.Veio dos papéis amassados e encharcados de segredos.Veio de um passado,de um tempo demorado que pensei não mais haver.Veio como que das preces antigas,das cantigas ao pé do ouvido.Veio dos velhos livros,dos sonhos,devolvido,tocando mansinho como a alma quando sente o amor.Mesmo desacreditado,veio...fez-se a graça que tua pureza desenhou.

Eu estou te vendo chegar,mas tardio vem vindo...
Em encontro,o desencontro,o proibido.
Gosto doído de ter que deixar passar.

Inserida por PatriciaVicensotti

Mulher aos trinta

Nem verde, nem tão madura, aos trinta anos o gosto, a forma, a temperatura ideal. Nem precoce, nem tardia, é ao ponto; é um quê de vinho do porto que se aprecia. É o andar seguro e envolvente de quem faz que desentende o que causa. Não preza mais só largura dos ombros; aos trinta anos, o olhar é mais profundo e veem na inteligência um alto ponto de partida. Se excitam por ideias interessantes.

Ela se faz de desentendida, bebe sozinha, desce do carro com ar de quem é independente. Tão mais mulher, tem tom esnobe, segura de tua capacidade. Gosta de atrair olhares, mais do que beijos. Gosta de despertar desejos e é vício de quem a tem. Ela seduz nos trejeitos e é veneno lento: enlouquece com teu modo de firmar os olhos envoltos, aqueles cílios que como trilhos mostram o caminho - dos vinte, o que aos trinta aperfeiçoou.

Ela joga o cabelo e abre um sorriso, como se nem notasse o desconcerto dos teus vestígios. Aos trinta anos, não quer perguntas, nem se importa tanto com o passado. Ela espera, ela também demora. Sabe que um "agora" perfeito precisa de jeito e não combina com pressa. Surpreendentemente atraente, a junção inocente com maturidade.

A mulher se descobre aos trinta anos. Inteligente e mais audaciosa, é o tempo em se entende e se desprende de fatos, alguns passados, para ser de si. Tempo em que reconstrói decepções, amansa as ilusões e se quebra tabus. Tempo entre as quedas e voos. Tempo de balanço sobre as grandes loucuras ou escassez de coragem. Uma mente mais leve e focada ao que realmente lhe interessa. Não há de tê-la como meio-termo, mas está ao centro do melhor tempo: é a deusa das décadas. Modéstia a parte, quando ela se ama, é um fascínio uma mulher de trinta anos. Nesse equilíbrio dócil entre o frágil e o forte, ela é grave: ela provoca, ela consegue, ela arrebata - passa, escapa pelos dedos, faz arrombos por dentro e sai intacta.

NOTURNO

A saudade
inspira essa noite.

Véu nebuloso da noite,
que envolve a dança fria:
Mão na palma da minha,
ouvido ao som do teu respiro.

És distante,meu amor.
Mas és tu neste noturno,
a estrela maior.

Tão solitário.
Eu só.
A canção que te aproxima
curva meu dorso crú.

Acendestes as luzes desta noite...

És distante,meu amor.
Mas és tu neste noturno,
a estrela maior.

És meu neste noturno.
Eu tua por deslumbro,
feito anéis de Saturno
a nos casar.

Inserida por PatriciaVicensotti

De um sonho,quem sabe a sorte de seguir voando...
Ter mais graça nos dias;mais doçura nas horas.
Alongar a esperança e invadindo a distancia - tocar você.

Inserida por PatriciaVicensotti

Que o que sou caminhe simples;
que toque com a sutileza
das coisas livres.

ÂNSIA DE MARIA

Vivia de conter-se,pobre alma; afligia-se por desprovida do mundo.Traços de Maria,como destino das marias,benzia na fronte um repelir ingênuo,quase santificado.Tinha na vida um bem :a mente.Uma única estrada,a qual lhe trazia e a levava ao silêncio das respostas: era por dentro,onde ela mais andava.E nessas voltas,quase sem voltas,definhava em teu rosto a imagem que lhe dera,e como máscara,deixava-se cair.Desnudava as vestes de linho,amarelada e sem vida,e punha sutilmente um olhar,parado,fatalmente destinado,como a gota de lavanda,que (profana),pingara na nuca.Era Maria que vivia calada, nas manhãs e nas tardes; que tecia as lástimas e engomava o pouco de sorte,resignando-as pois, a um fim bem breve.Maria,criava noites que não tinha,e vestida de baile,era tão forte quanto ao batom escarlate.Na meia seda cor da pele,a sobre-pele da menina de chita.Tão fraca e tão viva,tinha cor,agora não mais a de Maria.E era bonita nesses dias...

Inserida por PatriciaVicensotti