Naty Parreiras

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“Clipes, eclipse, apocalipse e ouros fins”

“E como se nunca tivesse ido, ele voltou.
Rindo das próprias idas e vindas, passando por cima
das despedidas, melancolia ressentida, muito Rock´n´roll.
Fez dos próprios braços a foice e do passado sombrio,
Tez de olhos rasos, coice no pecado, consentiu.
Me envolveu com ternura digna do apocalipse,
E se eu não ouvisse a juá benigna frente ao eclipse,
Eclipse da tua ida com a tua vinda,
Veria novamente a dor da despedida,
Mais um dia de porta sem maçaneta no nada da vida,

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Verdes Olhos Vedes - A Garcia Lorca

Verdes caminhos
Vedes?
O ressoar do sino nas paredes
Blem blem por ninguém
O ressoar da saudade
Sem tua sede
- Redes -
Bem, porém
Ela não tem.

Rende-te
Minhas linhas já não sentem
Fúria e fogo rasgam rente
Mas não as correntes
Apenas eu,
Carente.

Entre!
Me tire desse aguardente
Sem entes,
Nem frentes
Doente
Enfrente!

Vedes verdes olhos
Verdes olhos, vedes?
Não vedes o verde
Nem verde tu vedes
Só preto e branco
Por dentro
Tormento
Aguento
E não vedes, olhos verdes
Não me vedes
Nem me viste
Mas em teus olhos verdes
Minha sombra existe
"Preta e branco"
Cor de pranto
E tão triste...

Verdes olhos, por que persistes?

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Devaneios

Me transporte para a sorte de desvendar os teus devaneios.
Ligeiro o toque,
Infinito o desejo,
Barata a morte,
Caros são teus beijos.
Morte sem o toque ligeiro do teu infinito desejo.
Sorte...não ter a morte para duelar com os devaneios.
Devaneios,
Desejos de morte,
De ser apanhada,
E com sorte,
Te desvendar primeiro.

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Eco do Adeus

É deserto...
Nada sinto
Nada penso
O fim está perto.

É deserto...
Um pouco de vinho tinto
Tantas lágrimas para um só lenço
Erros que no fundo estavam certos.

É deserto...
Foi-se o oásis de água
Tenho sede, tenho mágoa
Ouço no adeus o teu eco.

Nada sinto
Nada penso
Um pouco de vinho tinto
Tantas lágrimas para um só lenço
Foi-se o oásis de água
Tenho sede, tenho mágoa
É deserto...
O fim está perto
É deserto...
Erros que no fundo estavam certos
É deserto...
Ouço no adeus o teu eco.
O adeus...
O adeus...
É deserto...
É deserto.

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Amor que mata

O impacto de um pacto,
De fardo e pecado,
Pode ser a algema de almas gêmeas,
Sendo negado.

Que força tem o destino,
Quem ousa,
Quem bane,
Quem ama,
Quer sangue,
Cretino?

O deleite do amante,
Tão raro,
Tão caro,
É doce,
E Amargo,
Diamante.

O eco do teu grito,
Tão mudo,
Tão tudo,
É fato,
Relato,
Do mito.

Meus braços,
Soltos,
Nosso laço,
Morto.

Desejo de ser quista,
Tão sutil,
Juvenil,
Tão livre,
Como tive,
Masoquista.

Caminho que não sigo,
Que renego,
Que é cego,
De paixão,
Que levou um não,
Castigo.

Todos os restos e sobras,
Do teu horror,
Da tua obra.

Fardo...Pecado,
Pecado...Fardo.
Causa ou conseqüência,
Tudo vale pela sobrevivência,
De viver sem te ter ao meu lado.

Que derrame o sangue,
Que grites de pavor,
Não peço que me ames,
Mas te mato por amor.

Proposta Indecente

Desejo...
Palavra inexplorada,
Aflorada,
Fantasiosa,
Densa, temerosa.

Palpitante,
Desconcertante,
Risco assumido,
Perigo não corrido.

Porta entreaberta,
Instigante,
Idéia vaga,
Mas não errante.

O arrepio inoportuno,
O gosto do infortuno,
O mais bem aventurado,
Mesmo que nunca experimentado.

Poesia não rimada,
Noite não enluarada,
Já se foram as regras,
Pois ele corre às cegas.

Nas minhas veias,
No meu sangue,
Na minha alma que se esparrame.
Antes um ato descabido,
Do que um amor não sentido.

Sem palavras,
Sem tratos,
O código subentendido por fatos.

Sem sentido
Como amigo,
Delirante
Como amante.
A explosão da libido,
Meu corpo pelo teu aquecido,
Como jamais quisera antes.

Povoa meus devaneios,
E com seus olhares matreiros,
Me leva ao êxtase ligeiro,
Querendo seguir adiante.


Vontade de te sentir ao meu lado,
Tocando minha pele,
Meu corpo molhado.
De percorrer tua boca,
E ouvir tua voz rouca,
Dizendo que sou louca,
Por ter me entregado.

Todos os meus sentidos,
Bem como meu corpo aturdidos,
Nesse teu toque que embriaga,
Com exatidão tão vaga.
E prazer garantido.

Teu jeito, teu rosto,
Teus braços, meu encosto,
As estrelas como testemunha,
De um amor que ninguém supunha.

A mercê da tua paixão,
Assumida, desesperada,
Sem medo, sem razão,
Me declaro apaixonada.

Porta escancarada,
Insaciada,
Idéia certa.
Só mais um sonho,
Mas te proponho,
A descoberta.

Inserida por natyparreiras

Vidas Cruzadas

O que seria do mundo sem as cores,
Dos jardins sem as flores,
Do ser humano sem valores,
Da verdade se não houvesse mentira,
Da calma se não fosse a ira,
Do silêncio se não fosse a algazarra,
Do crente sem a fé em que se agarra?

O que seria da luz sem a escuridão,
Dos homens sem perdão,
Dos dedos sem as mãos,
Da água sem a sede,
Do pescador sem sua rede,
E dos pés sem o chão?

O que seria das palavras sem os gestos,
Dos pobres sem os restos,
E dos músicos sem os maestros?

O que seria do levante sem o tombo,
Do aflito sem um ombro,
Do alívio sem a agonia,
E da noite se não houvesse dia?

O que seria do livro sem quem o leu,
Do reencontro sem o adeus,
O que será dos versos meus,
E dos meus lábios sem os teus?

Entardecer sem sol poente,
Rio sem sua nascente,
Inocente que se rendeu?

O que restou da gente,
Foi esse vazio dormente,
Que de tão grande nem se sente,
O que se ganhou e se perdeu.

Eu sem ti não sou nada,
Sou pássaro sem alvorada,
Sou livre de mãos atadas,
E tenho minha vida cruzada,
Por esse amor que se escondeu.

Eu sem ti sou isso,
O inferno sem o paraíso,
O choro sem o riso,
Tudo o que não tenho e preciso,
Eu sem ti simplesmente não sou eu.

Inserida por natyparreiras

O Paradoxo do Silêncio

O silêncio traduz um tanto da incompreensão, um quê do pecado de se permitir elaborar uma linha ou duas de discórdia, destas que condenam nossos desejos e expõem nossas limitações.
O silêncio que irrompe na madrugada, difere do que se esgota no torpor do sonho, quando a imagem define “o tom” da fantasia. É persuasivo, quase que personificado no contorno de nossos dogmas existenciais, muitas vezes pouco pragmáticos.
O silêncio desenha em sua sinuosa ilusão de permissividade, o sedutor intervalo de sobriedade que irriga o sangue de nossas derrotas e o consolo de nossas mentes desertoras.
O silêncio golpeia a indiferença de faca em punho, ainda que esta possa esconder-se sob o artifício de belas palavras. Estas, ele habita, instiga, investiga e por que não, PALPITA, permite que tomem forma, cede generosamente seu lugar para que pulsem.
O silêncio é um espaço que converge para as rimas, que abriga um tanto do sorriso contido pela ânsia de seu preenchimento ou dispersão. É um antídoto contra a ansiedade.
O silêncio é o representante legal da criação, a gênese do saber, o marco zero de nossa sapiência tão relativamente dialógica. É pacifista, tolerante, conciliador. É o que pode diferir o esperto do sábio: "quem cala NEM sempre consente", ainda que se sinta que já não se pode sentir.
Há quem o veja paradoxalmente como agente perturbador, ou porta-voz (?) da indiferença. Mas o silêncio porta-se como o tempo, senhor de si e de tudo que rege, ponderado e cabível além de nossas falíveis tentativas de mesurá-lo ou de julgar sua legitimidade.
O silêncio ainda que subjetivamente reconfortante, inscreve-se no coincidente da alma humana – o pensamento – que assim como o tempo, é sempre um relevante aditivo em nossa frenética descoberta, ainda que esta só revele-se na inexistência das respostas que tanto racionalizamos, em intervalos de pouca (ou nenhuma) sobriedade de nosso ânimos.

Inserida por natyparreiras

“O concreto muro das ilusões”

Um muro alto,
É tudo o que vejo,
Eu corro, eu grito, eu salto,
Mas só ouço um relampejo.

Que me desperta da tentativa,
Dessa minha vida relativa,
De sufocado desejo,
E sufocante partida.

Desse tempo nauseante,
Querendo resgatar o antes,
Não podendo ir adiante,
Nem vendo qualquer saída.

Muro de três tempos,
Muro de sentimentos.
O esforço que esgota,
É o mesmo que me suporta.

O silêncio gritante,
Que me abate e me motiva,
É um sábio pedante,
Um adulto infante,
E uma dor gradativa.

Para onde quer que eu ande,
O muro se expande,
Junto com essa dor tão grande,
Que não deixa alternativa.

Muro sem fim,
O vazio em mim.
Ninguém ocupa este espaço,
Tão ávido e casto.

Me vejo solitária,
Nessa desgraça tão hilária,
De sofrimento não presumido,
E de amor pressentido.

Amor forte o suficiente,
Para me afastar de muita gente,
Mas que se torna inseguro,
Quando se trata de pular esse muro.

Muro de concreto,
Onde ninguém chega perto.
É todo meu o esforço,
E para quem me despreza eu torço.

Promessas jamais feitas,
Mas tão certas e aceitas,
Deixam minha alma emudecida,
Por que foram esquecidas.

O céu não clareia,
Meus olhos estão cheios de areia.
Por eles descem as lágrimas,
Com meu rancor e minhas lástimas.

Do mais profundo martírio,
Sou despertada por um cheiro de lírio,
Que vem do outro lado,
Daquele muro amaldiçoado.

Minha mente atordoada,
Ouve uma voz entrecortada,
Chamando pelo nome,
Que parece ser de um homem,
Em uma busca emocionada.

Querendo ir ao seu encontro,
Desesperada eu respondo,
Com incessantes batidas,
Que não sei se estão sendo ouvidas.

Meu semblante denuncia o medo,
De ser mais uma vez abandonada,
Não posso desistir nem tão cedo,
De finalmente ser resgatada.

Sem futuro no presente,
Mas com uma vida pela frente,
Tento seguir o caminho,
Onde não tenha que pular sozinha.

Só me resta este corpo,
Que de vida tem um sopro,
Mas preciso derrubar o concreto,
Para que eu possa vê-lo de perto.

Um olhar que não me é estranho,
A beleza ímpar daqueles olhos castanhos.
Uma lembrança intempestiva,
Me faz reconhecer aquela mão estendida.

O impacto do passado,
Tão presente e superado,
Me trouxe o amanhã.
Ao som de “Nem um dia”,
Na voz de Djavan.

Música de infinitos acordes,
Que faz com que desse pesadelo eu acorde,
É meu único apoio,
Para que eu possa novamente olhar no teu olho.

Muro da mesma rota,
Muro que te traz de volta.
Estou caminhando em círculos,
Hora no inferno, hora no paraíso.

De uma profunda reflexão,
Sou sorrateiramente despertada,
Não vejo mais sua mão,
Nem ouço sua voz emocionada.

Muro do arrependimento,
Da incapacidade,
Do nó por dentro.
Muro do orgulho ferido,
Da necessidade,
Do puro perigo.
Não importa quem duvida,
Para pular esse muro darei minha vida.

Um impulso,
Uma sequência,
Esse muro,
A resistência.
Pés e mãos corroídos,
Pelo tempo em que foram esquecidos.

O choque entre o que eu quero,
O que pode ser e o que espero,
A consequência em nada muda,
O querer sair dessa dor profunda.

Liberdade e o teu beijo,
Tudo isso em um só desejo,
Meu coração palpitando,
Enquanto vejo o concreto desabando.

Um forte pensamento,
E um chão cheio de cimento,
Dos escombros sou salva,
E reconheço aquela pele alva.

Tamanho sorriso,
Olhos castanhos dos quais preciso,
Teu beijo sela a vitória,
Nessa felicidade tão provisória,
De caráter indeciso.

Muro destruído,
Objetivo conseguido,
Meu corpo se entrega,
Estou fraca, estou cega,
Meu tempo já foi perdido.

Sinto meus pés do chão se desprendendo,
Sinto minha alma livre, estou morrendo.
Tenho que ir embora,
E não posso ouvir quem por mim chora.

Estou morta para a vida,
E viva para a metamorfose,
Não sou mais um barco a deriva,
Cansei dessa overdose.

Dessa droga que me alucina,
Que me inocenta e que me incrimina,
Que criou aquele muro de dependência,
De desconsolo e de “sub-vivência”.

Onde fui reduzida a lixo,
Absorvida pela minha condição,
E por crer num discurso prolixo,
Assinei minha própria condenação.

Reflexo do inconsciente,
Que insufla o ego e degrada a mente,
O livre arbítrio obrigado,
O som com os ouvidos tapados.

Muro que era de aparência,
Muro que crescia com a sua ausência,
Excesso da droga infinita,
Que rege o mundo e o limita.
Droga que criou esse muro,
Droga que o derrubou,
Só não conhece essa droga,
Quem nunca se apaixonou.

Inserida por natyparreiras

CHUVA DE DOMINGO

Chegou a chuva...
Cheia de charme
Chamando, chama queimando
Soando o alarme...


Sh! Sh!
Cala-te chuva grosseira!
Teu charme apagou a chama por inteira!
Sh! Sh!
Chama, inflama
Me tira da lama,
Da poça de lama,
Dessa chuva de cama,
Insana, fagueira.


Me inunda profunda
As gotas imundas
Tempestade de nunca
Nunca molhar-se
Mesmo sendo a face
Do que molha minha nuca.


Sh!Sh!
Cheiro de choro
Chão feito de choques
Tens o toque de ouro
Mas teu não é de morte.

Cabisbaixos os pingos dela
Molham-me dentro e minha janela
Me abrigo em meu desleixo
Mas ela vem quando não deixo
Tentar-me em meu leito de donzela.

Céu sísmico nos meus pés
Nuvem só de vento triste
O tempo nublado esconde o que és
Em meus olhos a chuva persiste.

ShShShShShShShShShShSh!
A chuva lá fora não caí tanto
Quanto os pingos brandos do meu pranto,
Pelos cantos
Pelos cantos.

As gotas que escorrem pelas veias,
Pingam-me no rosto salgadas de areia.
Ó céu clareia
Clareia!

ShShShShShShShShShShSh!
Em cada pingo um dia revivo.
Chuva que molha um céu só
Faça ela o que faz o sol
Vá inundar outro domingo!

Sh!
Chuva não chora
Chuva não chega
Chuva vai embora
Chuva chove lá fora
Chuva, chega!

Sh!
Silêncio para o sol para o sol sorrir.
Sh!
Salva-me da saudade de ti!

Me acolhe na tua aldeia,
Sem eira nem beira,
Me molha, me olha, me odeia,
Mas que venha a Segunda-feira.

Basta deste domingo
Choramingos
Chovem os pingos
A noite inteira.

...

A chuva se foi de meu céu revolto,
Para pingar sobre este papel de poema marcado,
Inundou este e afogou muitos outros,
Mas agora não é mais do que passado.

Mas espere!
Tempestade nunca vem só de um lado.
A chuva molha
E se não me olhas
É porque também tens o olhar marejado.

Inserida por natyparreiras

desORIENTE
CONTO DE VIDRO.

Depois de várias tentativas frustradas, na emergência de uma respeitada clínica carioca, uma médica de sobrenome Tagata (sim, oriental), dá o resultado de uma tomografia computadorizada e finalmente um diagnóstico para uma paciente um tanto atônita e desconcertada:

- Duas costelas fraturadas e você me diz que não houve trauma...

- Doutora... Não houve. Eu estava em um show, fui ao toillette, senti uma fisgada e a dor não parou mais.

- Nenhum esbarrão, nenhum beberrão folgado te puxando pela cintura ou pelo menos uma série mais puxada de malhação?

- Não, não... Passei a noite inteira com um grupo de amigos e todos são testemunha... Até sentada eu fiquei! Só pode ser obra de outro tipo de energia...

- Olha, vejo casos assim todos os dias... Esteja certa de que algo aconteceu e foi de grande impacto no seu corpo.

- Como isso poderia acontecer sem que eu me lembrasse? Duas costelas? Um hematoma daqueles? Impossível!

- Bom, eu sou médica, meu norte é a ciência. Pra mim, você certamente sofreu alguma tensão grave no local...

- O que eu sei é que quando cheguei em casa me contorcendo de dor, fui vestir algo mais leve e me deparei com a tal mancha... Olha aqui ó... Fiquei tão chocada que fotografei com o celular...
(Nesse instante a paciente exibe a foto que contém a imagem da escoriação)

- Nossa... É quase uma garra...

- Garra? Como assim? (a paciente franze a testa) Você acha, doutora? Não tinha pensado nisso...

- Como assim? Garra te diz alguma coisa? Andou com algum bichano indócil?

- Não, não... Quer dizer, quais são as chances de isso ser resultado de digamos, uma fusão explosiva?
- Seja mais específica...

- Coisa de uma semana antes do hematoma ser notado e...

- Ser notado? Como assim? Você não disse que tem certeza de que ele não estava lá antes?

- Ah, Doutora, a gente checa o decote, o bumbum, não as costelas no espelho, né?

-Hum... Prossiga... ( a médica já sinaliza um riso vitorioso no canto da boca)

- Então... Se isso não foi uma macumba braba, só pode ter sido uma coisa... Mas... Será? Não faz sentido... Eu teria sentido alguma dor...

- Não se estivesse sob efeito de álcool ou entorpecente... O pavio da lesão pode ter sido aceso no que você chamou de "explosão", mas a coisa pode ter acabado só explodindo mesmo quando fez qualquer esforço bobo, como por exemplo...

- O de agachar pra ir ao toillette!

- Elementar, minha cara! Mais uma vez a ciência prevaleceu!
(A paciente sorri maliciosamente com as sobrancelhas levemente erguidas. Em seguida fita a Dra. Tagata em tom de desafio. Percebendo seu ar provocativo, a médica prossegue)

- Mas, você me deixou intrigada... Porque essa expressão de triunfo?

- Sabe o que é, Doutora? Adoro ver provado o valor da ciência na nulidade da sua probabilidade indeterminada... Essa coisa de tentar justificar paredes de vento com vidros de janelas quebradas...

- Vidros? Janelas? Vento? Desculpe, não entendo...

- É elementar mesmo, estimada doutora... Quando explode dentro o que é vidro, de nada adianta a vidraça da janela estar fechada. É ciência pura, acredite. E a fissura do osso, só uma metáfora materializada.

Inserida por natyparreiras

10/10/10 - mas podia ser 2012.
Ah, tá. O amor é uma entidade (isso mesmo, entidade) que há de manifestar-se em uma bilateralidade (sei que é ruim até de pronunciar) simultânea, quase que de atuação filantrópica, uma vez que deve-se gostar de graça, guardados os usos indevidos do indivíduo.

Indivisível instante é aquele que há de preceder os enamorados: o sino! A badalar em meio ao paganismo em fuga das baladas - nem sempre tão badaladas - quanto os pardais que clamam nossos limites de velocidade e teor etílico.

É, eu sei, tem uns cínicos que desovam ilusões em limbos críticos.. Mas não critico a obra, apenas o teor não me cabe tão etéreo, nem tão típico.

Tipo assim: "Li um livro e revidei em um litro"... Encher a cara por vezes ocupa a sala anteposta ao sopro lírico...

Soprei um ritmo qualquer a desfalecer em logaritmos... Logrei-te um pífio fantasma tão cênico e apocalíptico...


Agora, vê se aproveita o fim dos tempos e me beija?

Inserida por natyparreiras

Caro céu

... Um círculo alegórico suprimia em seu suave movimento a acidez da dita realidade.
O vento beijava-lhe a maçã do rosto supondo-lhe ser o gesto indicador de sua afeição bem-aventurada.
Girava espetaculares faces de espontaneidade singela, era ali a própria metáfora do mundo: circunscrita no eixo de sua galáxia solitária, magnética, suprimida no segundo imaginado em que as cores são feitas de branco e a paz de um simples passeio pelo céu dos possíveis...

Inserida por natyparreiras

Auto-poema-resposta
Já perdi a conta de quantas vezes passeei os olhos pelas tuas palavras, violentei, violei e ainda mais, forjei tais vocábulos de despeito. Não compreendo como tuas pequenas mãos embalam tantos esbravejantes decretos de saliência, essa revolta ímpar, essa crua permissividade que não esmorece mesmo diante da minha persuasiva desistência!

Assim como esse teu curvilíneo corpo esguio que me deplora tantas proibições, mas que conheço tão displicente, tão involuntariamente despudorado...Que mente-me tua pouca habilidade, tua irrefletida sedução sublimada no orgulho que te estampa, arredia, quando te ponho inofensiva.

Queria te ofertar bem mais do que tais dimensões paralelas de sub-vivência, queria poder consentir tua destreza nessa conquista que me ilumina sob belas palavras, ainda que não consiga permiti-las em meu sentimento... Poder enxergar essa alegoria na qual nos transforma, com a devida imparcialidade crítica com que me roga, sem afetações de meu ego... Ser-te luz bem mais do que inspiração, te fornecer meu olhar sob tais versos e causar-te a fosforescência com a qual me convidam ao infinito.

Como resisto ao teu aprazível jogo de causa e efeito? Como posso negar-te o direito de perturbar-me, de deixar-me insone relembrando tuas vestimentas de pecado, a tua boca colorida de um tanto de ardor e audácia?! Como podes acusar-me de evadir-me de nossas instâncias, se as carrego com a mesma urgência de cada pulsar irrefletido?
Injustas palavras, Menina. Injustas.

Inserida por natyparreiras

Distorção Célebre
Uma data como esta e você tão longe... Tava pensando em enrolar uns brigadeiros, talvez encomendar as empadas da dona Mafalda. É! Aquelas que você adora... Um bolo cítrico para ajudar na digestão e um bom Cabernet.

Fico imaginando toda a tua movimentação eufórica, aquele teu ar de menino em banho de chuva com direito a trilha sonora das boas... Daquelas que embalavam meu choro histérico quando te ouvia bater a porta dos fundos e que me faziam Audrey Hepburn por alguns instantes.

Difícil conceber nosso afastamento, doloroso catalogar teus vinis de Billie Holiday e proteger-me do vazio daquela tua voz, categórica e segura, que como quem “não queria nada”, foi me ditando brandamente uma ida sem volta... A tua segunda opção cabisbaixa de abandono, que fica nas fotos agora itinerantes que tiramos, mas que nos tiraram...

Um medo absurdo de te projetar nesse nosso mesmo espaço de sempre... De forjar a bagunça da tua mesa de escritório – um instrumento – que agora apenas veste o canto da sala de meu luto. Nos móveis aquela sensação de saciedade, como se já não pudessem se mover pra não desmanchar teus vestígios... Na cadeira de pano a mancha das tuas voltas às sextas do teu “sagrado” mergulho matinal.... Ali, só pra me lembrar de quando ria da minha implicância com a tua maldita sunga de “estimação”.

Mas, enfim, é dia de festa... E eu aqui às voltas com essa celebração funesta de todo mês de Agosto.

Inserida por natyparreiras

Sub-não-sei-o-quê
Queria criar um poema que expressasse meu nada - sinto... Que te provocasse cismas das mais irrefutáveis, que te fizesse sentir como dói estar fora de tempo, como é ser corroído pela ânsia de contas e hipóteses que justifiquem o destrato, ainda que minimamente.

A temática amorosa esgotou-se, a extensão de meu vocabulário não dá conta de meus ouvidos... Não faz a vez de meus tantos “eus” contidos e desesperados.

Vago entre o fascínio íngreme pelo ardor que me desperta e o medo de decretar tua ausência múltipla, cada vez mais translúcida aos meus olhos, irrequieta, odiosa! Entre a pretensa dádiva de esbaforir-te e o deplorável equívoco de te ser arrependimento, oferta cativa em liquidação. Quem sou o “eu”? Uma típica overdose de sensações táteis e voláteis em análise? Quem ti sou? Um pérfido equívoco moral, um atravessado e latente engasgo eventual, que ti sou eu, afinal?! Um todo para magoar, encantar, elevar, trucidar, inebriar, pisotear, viver ou deixar que se vá?

Me explica esse todo teu que me abocanha, que me suplica, que grita e acompanha toda uma rítmica assiduidade relativa, mas tão bonita! Me pronuncia então o ócio de tanto engodo, me olha nos olhos e me despromete tudo de novo! Mas não me ignora, não alimenta minha veia masoquista! Não deixa a tua poetisa exaurir-se nos outros suprimida!

Apenas peço que me ressoe em tais versos, que em teus olhos me tenha... Não te rogo milagres, não te roubo lugares, não te quero sem meias... Meias - palavras que emergem plenas num silêncio estrondoso, ainda que alheias...

Não quero crer que seja apenas um apanhado meticuloso de fazes-de-conta, que tua arte não te arde e a minha não te incendeia! Não quero crer estar diante de meros termos coincidentes, ser um erro recorrente, insistente, ambulante... Não quero crer na tua audácia em me ser lástima e lágrima, quando me devias se não teu mundo, tuas estrelas, se não todas, apenas as que me pudesse irradiar sinceramente.

Inserida por natyparreiras

Poema do que não posso poetizar
Ó, mas que belas tardes resplandecem no Rio de Janeiro!
E as cortinas de fumaça que embaçam a vista da Cidade Maravilhosa?!
Os edifícios tão premeditados, tão exatos, a extorquir melancolias... Melodramáticas, fugidias, o Banzo...
Mas há o que se destituir de vida tão praieira! Teus coqueiros, teus fúlgidos palmares e palmeiras, hei de rezar uma noite inteira por teus oceanos!

Tuas vistas, teus espetáculos desordeiros! Teus acessos ribeiros, maremotos e frios serenos! Eras tu, ó Rio de Janeiro!

Teus ensaios de despedida a arrefecer tuas avenidas, tuas recaídas, tuas desunidas brechas a velar o sono de uma vida!
Quero mais veias aguerridas!
Quero mais de ti, atrevida metrópole, a quem de mim duvida, a quem hei de reivindicar tuas luas ferinas, feridas!

Laudas da paz que desemboca em teus verdes vestígios de primitivas matas, evasivas!
Permissivas pautas a desmerecer tuas bravas eras de bravata, abrasivas!
Meses e mais vezes, estupefata, a encarar tua negativa... E tão idílica ilha...


Tão bela... Paradisíaca, de olhares faceiros, ó meu, só meu, tão meu Rio de Janeiro,
Porque fostes me lançar teu olhar maré – cheio,
Ó breve
E não menos célebre,
Ó Rio de Janeiro?

Inserida por natyparreiras

Transgressão
Quisera a memória de o corpo elucidar os devaneios da alma...
Quisera...
O ínfimo toque te merece a abstração
Ainda que pagão
Crê com usura, na doçura, em ser canção
E cansa diante do inefável sonho de outrora... Pálido... Túrgido
Teimando em resplandecer no fugidio, no púlpito, dimensão...

Em anos são...
Espera

A quê creditar a crença de inocentar-se
Ou culpar-se
Se usurpa-se a dor ao ganhar teus beijos
Ainda que na face?

Inserida por natyparreiras

Singelo
Te ouvir me inspira
Ainda que sentir, cardia
O ar da tua brisa
Vicia.

Tem dias
Que chuva de sol... Havia
Ainda que houvesse de ser nada
Seria
Como de fato foi
De dia.

E olhar teu rosto
Alivia
Quão lívido é teu céu, ardia
Adia tua partida e fica
Num semblante sutil de maresia

Ainda que “no Rio” eu ria
E a falta que agora me faz
Tardia.
Ainda que não sei
Sabia
Foi como haveria de ser
Magia.

Inserida por natyparreiras

Prelúdio
A sincronia dos meus sonetos é perturbadora
Sonolenta
Me assusta em sua ânsia de afligir-se pelo inusitado
Na busca incansável pelo NOVO?!

O Neo é mero suplício ao engano
Redundância nata ao insucesso
Alívio efervescente ao tempo, intempestivo.
Talento para dissipar-se no intervalo lúcido de um desabafo
Ainda que se desloque
Enlouquece no passado estático, impávido de retrocesso.

A empáfia da mesmice forja novos (?!) dilemas
Ainda que teatral, a realidade emerge
Nos mesmos vultos de insanidade
Outrora decrépitos, que transformam-se em re-formas
Ainda que deformadas pelo conforto de suas escolhas
Estas são obrigações.

Dicotomia pré-estabelecida pela neura de não sucumbir ao conveniente .
Não há o que surgir
Nada além de prefixos fixados sob a farsa da diferenciação.
A exceção é o caos humano.

Nada sou além de funestos repetecos,
Com variantes aqui e acolá,
Temperados pelo equívoco do ser eu
O NEO EU
NEM EU,
NEM NINGUÉM,
É capaz de remover as sombras de tantos outros,
Hora envoltos em mantos de passividade e demência.

A genética previne-nos do engano
“Quem sai aos seus não degenera”
Nem gera
Apenas abriga uma nova seqüência de desejos esgoelados
Por velhos hábitos de festa.

Deformado pelas frestas da hereditariedade
Ergue-se um país, um conceito, uma fábula.
É bem verdade
Não há novidade, nem mesmo na idade
A bula da vaidade, diz “validade”, na invalidez.
Ainda que se desloquem
Repetem-se de três em três... Segundos?!

Enlouquecem os números
Seqüenciados, seqüelados pelo previsível
Quem inventará o inventável?
Eis o inevitável ideograma de coexistir,
À imagem, semelhança e discrepância de sobreviver à rotina
À rotina de ser o que se é,
Em si.

Inserida por natyparreiras

Esgota
I
Foi-se a era de interjeições bombásticas, rejeitadas de revolta, complacentes de perdão. Foi-se o freio brusco de surto torpe, insano, sem seio à sorte, sem delírio, sem unção.
Espíritos voláteis em almas são, agruras pélvicas caindo ao chão. Poções encharcadas de lirismo e abstinência, puros porcos de demência e decoro nas prisões.Solte a algema, alma ingênua que incendeia o cemitério de ilusões.
Pega fogo na areia, áridos raios, não que creia, pulsos secos de dragões. E depõe teu crime pálido – cálido de sublime – sedimentado feito vime nas frestas secas de menções (dimensões).

II
Capciosas lágrimas me abalam frias no contorno lungebre dos teus ternos olhos... Tão secos. Descascam minha sutil efêmera realeza em ser simplesmente só, vento e corpo ungido de pó.
As abominadas vozes que abalam meu medo desejo repleto de mim, se mistificam perante minha dó do eu.
Eu fui apenas a plácida trêmula tristeza primitiva de agourar meu sossego.
Eu fui o tormento de me perceber no centro de eu mesma, quaresma presa nos braços azuis.
Eu fui a empírica luta de resguardar o sopro alucinado, de resguardar meus pródigos apelos por ti: apenas porque quis bem a mim.

III
Não sou digna de respaldar-me em teus assombrosos palcos de asno-em-pé. Não me reconforto nos céticos pleonasmos do teu querer insólito de moldes adormecidos de ti. Não ando na tua sintonia alegórica de me querer a teu tempo e gosto, desgostosa do que acredito ao que impera o pleno rubor de mim.

Parece pancada
Teu anseio viril, vinil rabiscada
Parece indiferença
O teu abraço pertinente de penitência.
Parece rancoroso o meu bocejar pasmo por meu não importar-me contigo
Pois me deste o abrigo para as frias noites que encontrei em ti
Em tua não presença
De simplesmente não poder estar.
Me deste o sonho libertino, estupefata, recobrindo o solo mendigoso mastigado de mágoas no qual me redescobri
Para simplesmente estar ali...
Pena que eu me vi
Pena que não mais me pude te mentir.

IV
A exposta bosta me desgosta das respostas de algodão.
Me esgota
Meu Esôfago
Se esgoto
Se desbota
Corroí-se à púrpura do chão.
Inda bem que não
Quem dera-me as portas (porcas)
Fossem (Tossem) feito inspiração.

Inserida por natyparreiras

A ver navios
Eis que se instala a híbrida espera
De encanto e “paúra”
A deriva do imprevisível
Além mar...

Eis que vislumbra-se a essência
Esta tão “continente” quanto contingente de vícios terrenos
A deslocar desventuras...
De suor e suplício

A menos que a contenhas...
A tempo.

Inserida por natyparreiras

Vagamundo
E num segundo fez-se o mundo,
Munido de todo sentido do mundo.
Tão profundo era o fim do forasteiro segundo,
Que o mundo esqueceu-se de ser tão imundo.
Se o fundo era mundo oriundo do imundo,
Me inundo-segundo em que fui vagamundo.

Inserida por natyparreiras

Jazz – o poema que jaz
Tá ficando distante aquela seqüela dos teus olhos... É tudo uma questão de tempo pra sumir... O que mais dói aqui é ver que você tá deixando mingüar, que essa é a tua maior pretensão.

Toda noite uma luta pra inspirar e expirar você... Pra sentir um alívio... Aquele arzinho no pulmão, aquele de antes, de antes “da gente”.
Não que eu tire sua razão, seus argumentos são genuínos – ainda que um tanto ingênuos – “como assim argumentos, Poeta? Nada tens além de silêncio, e dos convictos...” - pera... Então me deixa reformular... – Posso teorizar acerca de teus motivos ... Pronto! Um tanto melhor! Continuando: mas tantas teorias pouco me servem nessa PRÁTICA TORTUOSA DE VERSOS SENIS!

Taí meu “resumé”, minha biografia esdrúxula e compactada... Uns tantos versos e pensei que era poeta... E isso serve pra você: uns tantos poemas e pensou que fosse amor?! Imagina! Logo eu que consigo manipular os vocábulos, pressenti-los? Sinto em informar-te de minha falácia, de meus vis movimentos, de todos que foram friamente calculados, bem como meus beijos, desejo e todo o resto!
Descarta minha espontaneidade; ela inexiste, assim como minha doçura e ingenuidade... Faz-me rir a tua, Tolinho! Recolhe essa massagem no ego à tua prepotência burra. Desacredite-me – esqueça-me – arrependa-se – certifique-se do engano. Pois já era, de fato, como bem queria; aliás como nunca foi! Um conselho: fica sim bem longe de mim e de minha poesia mesquinha, de minha pele e efeitos, de meus truques dramáticos e desassociados de padecimento.

Pare-me de ler por aqui. Não insista teus olhos sob tais escolhas vocabulares desafortunadas e maniqueístas. Exorcisa-me – odeia-me – descarta-me – desola-me, mas não me leia... Sou capaz de convencer-te de meu amor e ainda mais: do teu que tanto inexiste, que tanto insiste em representar alegorias! Fecha este instrumento vil de minha (e tua) comoção, queima-o, assegura-te de que a mais ninguém chegará e enquanto há tempo, fuja...

Efêmero Esmero Feminino
Te amei
No curto-circuito tempo-espaço
Imensidão
Amar-te-ia se não
Houvesse o amor cegado ao são.

Sangue bêbado de licores azul-gregos
Crepitados no porão
Amar-me-ias então,
Se não sugasse minha cripta
Criptonita atônita
Afeição.

Amar-te-fui
Não mais voltei
Pisei ao chão
Se amar-me-ias
Não mais me rias
Amar-me eis quão!

Inserida por natyparreiras