Maryse Condé

A verdade sempre chega tarde demais porque anda mais devagar que as mentiras. A verdade rasteja no ritmo de um caracol.

A vida é bondosa demais com os homens, independentemente de sua cor.

Bendito seja o amor que derrama sobre o homem o esquecimento. Que o faz esquecer sua condição de escravo. Que faz recuar a angústia e o medo!

Não se preocupariam nem com meu nome, nem com minha idade, nem com minha personalidade. Ignorariam-me (...) nenhuma biografia atenciosa e inspirada recriando a minha vida e seus tormentos! E essa futura injustiça me revoltava! Mais cruel que a morte!

Refugiada sob a saia de uma mulher, senti se solidificar em mim, como uma lava, um sentimento que deveria nunca mais me deixar, mescla de terror e luto.

Elas me riscaram do mapa dos humanos. Eu era um não ser. Um invisível. Mais invisível que os invisíveis, pois eles, ao menos, detinham um poder que todos temiam.

Eis a história da minha vida. Amarga. Tão amarga. Minha verdadeira história começa quando esta termina e não terá fim.

Porque tanto viva quanto morta, visível quanto invisível, eu continuo tratando e curando. Mas, sobretudo, eu me atribuí outra tarefa (...) fortalecer o coração dos homens. Alimentar sonhos de liberdade. De vitória. Não tendo uma revolta que eu não tenha feito nascer.