O mundo do sonho é silencioso como o mundo submarino. Por isso é que faz bem sonhar.
Quem é que pode parar os caminhos? E os rios cantando e correndo? E as folhas ao vento? E os ninhos... E a poesia... A poesia como um seio nascendo...
Se nunca nasceste de ti mesmo, dolorosamente, na concepção de um poema... estás enganado: para os poetas não existe parto sem dor.
Repara como o poeta humaniza as coisas: dá hesitação às folhas, anseios ao vento. Talvez seja assim que Deus dá alma aos homens.
Pergunto-me por que o uivar de lobos, os trovões, os raios constituem o pano de fundo para as cenas de horror. Pois, quando o medo é muito, faz-se um silêncio na alma. E nada mais existe.
Esse estranho que mora no espelho (e é tão mais velho do que eu) olha-me de um jeito de quem procura adivinhar quem sou.
O que têm de bom as nossas mais caras recordações é que elas geralmente são falsas.
No fim a gente acaba descobrindo que até a imaginação tem um teto. E muito baixo até.
Não, a pior tragédia não é a que tomba inesperada, rápida, definitiva e única como um raio e que pode ser atribuída a castigo divino...Mas a que se arrasta quotidianamente, surdamente, monótona como chuva miudinha.
Há ilusões perdidas mas tão lindas que a gente as vê partir como esses balõezinhos de cor que nos escapam das mãos e desaparecem no céu...