Machado de Assis

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A bebedice parece desenvolver-se entre nós, já em tal escala que a taberna é o pórtico da sepultura.

Machado de Assis
Machado de Assis: Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2021.

Nota: Escrito em 1 de setembro de 1877.

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A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes inexcedível.

Machado de Assis
A semana, 14 abr. 1895.

Eu podia comparar a ambição às flores que primeiro abotoam e depois desabrocham.

Machado de Assis
Balas de estalo. Rio de Janeiro: Vermelho Marinho, 2019.

Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer.

Machado de Assis
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881).

Muitas vezes quis dizer-lhe o que sentia, mas as palavras tinham medo e ficavam no coração.

Machado de Assis
Obra Completa, Machado de Assis, vol. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Nota: Trecho do conto A desejada das gentes.

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Gosto dos algarismos, porque não são de meias medidas nem de metáforas. Eles dizem as coisas pelo seu nome, às vezes um nome feio, mas não havendo outro, não o escolhem. São sinceros, francos, ingênuos. As letras fizeram-se para frases; o algarismo não tem frases, nem retórica.

Assim, por exemplo, um homem, o leitor ou eu, querendo falar do nosso país, dirá:

– Quando uma Constituição livre pôs nas mãos de um povo o seu destino, força é que este povo caminhe para o futuro com as bandeiras do progresso desfraldadas. A soberania nacional reside nas Câmaras; as Câmaras são a representação nacional. A opinião pública deste país é o magistrado último, o supremo tribunal dos homens e das coisas. Peço à nação que decida entre mim e o Sr. Fidélis Teles de Meireles Queles; ela possui nas mãos o direito superior a todos os direitos.

A isto responderá o algarismo com a maior simplicidade:

– A nação não sabe ler. Há só 30% dos indivíduos residentes neste país que podem ler; desses uns 9% não lêem letra de mão. 70% jazem em profunda ignorância. Não saber ler é ignorar o Sr. Meireles Queles; é não saber o que ele vale, o que ele pensa, o que ele quer; nem se realmente pode querer ou pensar. 70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber porque nem o quê. Votam como vão à festa da Penha, — por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado.

Replico eu:

– Mas, Sr. Algarismo, creio que as instituições...

– As instituições existem, mas por e para 30% dos cidadãos. Proponho uma reforma no estilo político. Não se deve dizer: "consultar a nação, representantes da nação, os poderes da nação"; mas — "consultar os 30%, representantes dos 30%, poderes dos 30%". A opinião pública é uma metáfora sem base; há só a opinião dos 30%. Um deputado que disser na Câmara: "Sr. Presidente, falo deste modo porque os 30% nos ouvem..." dirá uma coisa extremamente sensata.

E eu não sei que se possa dizer ao algarismo, se ele falar desse modo, porque nós não temos base segura para os nossos discursos e ele tem o recenseamento.

Machado de Assis
Ilustração Brasileira, 15 ago. 1876.

Amai, rapazes! e, principalmente, amai moças lindas e graciosas; elas dão remédio ao mal, aroma ao infecto, trocam a morte pela vida... Amai, rapazes!

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

Quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa, prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia.

Machado de Assis
Ressurreição (1872).

Não é em terra que se fazem os marinheiros, mas no oceano, encarando a tempestade.

Machado de Assis
Ressurreição (1872).

Tantas vezes apagada no céu, reaparecia enfim a estrela da felicidade, e para sempre?

Machado de Assis
Ressurreição (1872).
Inserida por heriksgomes

A vida não é fábrica de sentimentos, não se vive como se romanceia.

Machado de Assis
Ressurreição (1872).

Recorreu aos livros, mas não lhe aproveitou o recurso, porque se os olhos corriam no papel, o espírito estava ausente, no tempo e no espaço.

Machado de Assis
Ressurreição (1872).
Inserida por heriksgomes

Engana-se, senhor, trago essa máscara risonha, mas sou triste. Sou um arquiteto de ruínas.

Machado de Assis
Quincas Borba (1891).

Cada homem vê as coisas com os olhos da sua idade.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Tenha ânimo, e tudo se há de arranjar.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Com alguma paciência tudo se alcançará.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Havia talvez debaixo da cinza uma faísca, uma só, e essa bastava a repetir o incêndio.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Curiosidade e gratidão; – veja se há duas asas mais próprias para arrojar uma alma no seio de outra alma, – ou de um abismo, que é às vezes a mesma coisa.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Caso sinta em si algum afeto, não o sufoque; deixe-se ir com ele.

Machado de Assis
Helena (1876).

A asa do tempo leva tudo.

Machado de Assis
Helena (1876).

Que são minutos e que são meses? Paixões de largos anos, chegando ao casamento, acabam muitas vezes pela separação ou pelo ódio, quando menos pela indiferença. O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corrompe-se.

Machado de Assis
Helena (1876).

Quando a suspeita germina na alma, o menor incidente assume um aspecto decisivo.

Machado de Assis
Helena (1876).

Há sonhos que deviam acabar na realidade do outro século.

Machado de Assis
Helena (1876).

Demais, a que viria o arrependimento, se era tarde?

Machado de Assis
Iaiá Garcia (1878).
Inserida por heriksgomes

Os corações discretos são raros; a maioria não é de gaviões brancos que, ainda feridos, voam calados, como diz a trova; a maioria é das pegas, que contam tudo ou quase tudo.

Machado de Assis
Iaiá Garcia (1878).