Hebe marques

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Lembranças de São Pio


Quando o sol si levanta
Rezo minhas oração
Pidindo pra virge santa
Me dá sua proteção.


Trabaio o dia intero
Com muitas sastifação
Do mio ás criação, trago limpinho o terrero
Soco o arroz no pilão.

Eu gosto di trabaiá
inté o sol si iscondê, pru mode di agradá
O seu dotô, meu patrão
Mio ôme assim não se vê.

No meu carro tudo canta
os boi, as roda e antão prá companhá vô contando
No caminha matutando na cana que vô muê
E no puxa puxa gostoso que dispois eu vou cumê.

Nas festas daqui da roça
Tem caxambú no terrero, na sala tem sanfonero
Muié pra si namorá,
Cada cabroxa bunita, toda vistida de xita
Perfumada igual não á.

Tem véias umas porção
tem sá Carola e as afiada, e também sá Conceição
Que quando toma quentão é véia mais sanhada
De todas muié do salão.

Quando eu conheci sá Rita
De todas a mais bunita,fia do véio Tião
Foi só oiá pra ela, me istalô o coração
Antão pidi a mão dela e falei do meu amô
Cumo papola vermeia toda avexada ficô
E embaxo da bananeira nossa boca si bejô.

Que falá qui so pobre, fala a tôa sem sabê
Tenho sá Rita bunita e feijão pra nós cumê
E o tempo vai passando, a terra vô capinando
Arroz, mio e feijão pra nós dispos colhê.

E sá Rita vô amando i os fio vão chegando
Tem sempre argum prá nascê
Tenha também meu violão
Pras noites podê cantá
A lua do meu sertão.


Autora: Hebe da Costa Marques.

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Recordações

A rua clara,ás manhãs,tôda florida,
Cheia de vida, ao sol iluminada,
Acariciada palo ar de primavera,
Tõda amarela, de acácias enfeitada.

E essa rua risonha, pequenina,
me viu menina, correndo e brincando,
De pés desclços, à beira das calçadas,
despreocupada, a ciranda cantando.

Na casa branca, havia um portãozinho,
Todo verdinho, tal qual a esperança,
Onde, à terdinha, eu ficava a sonhar,
A imaginar histórias de crianças.

E eu cresci...aquêle mesmo portãozinho,
Ainda verdinho, viu me primeiro beijo,
Juras ardentes, repletas de carinho,
Bôcas medrosas, frementes de desejo....

Com que anseio, aguardava-lhe a chegada,
Apaixonada, sorrindo eternecida.
Quanta tristeza nas lágrimas de saudade
À claridade da lua, à despedida...

Foi numa tarde, abriu-se o portãozinho
Todo verdinho, da côr da esperança,
Vendo sair a noiva mais radiosa
A moça ditosa, que ele viu criança.

Foram-se os anos, o tempo foi passando
E desbotando o verde, a sua cor.
Outras meninas brincam na calçada...
Só continua igual, o meu amor...

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