Biografia de Ferreira Gullar

Ferreira Gullar

Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (1930-2016), foi um poeta, ensaísta e crítico literário brasileiro. Recebeu o Prêmio Camões em 2010.

Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 10 de setembro de 1930. Com 19 anos publicou seu primeiro livro de poesias “Um Pouco Acima do Chão”. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como jornalista. Escreve “A Luta Corporal” (1954), abrindo caminho para a Poesia Concreta no Brasil. Nesse mesmo ano participou da Primeira Exposição de Poesia Concreta em São Paulo.

Pouco antes do golpe militar de 1964, o poeta rompeu com a poesia concreta e passou a abordar temas de interesse social. São desse período as obras “João Boa Morte, Cabra Marcado Para Morrer” (1962) e “Quem Matou Aparecida” (1962).

Com o Golpe militar de 1964, passou a empreender uma poesia de resistência. Escreveu o ensaio “Cultura Posta em Questão” (1964), e as peças “Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come” (1966) e “A Saída, Onde Fica a Saída” (1967). Em 1965 Ferreira Gullar foi preso e depois exilado em Paris e em seguida em Buenos Aires, onde escreveu “Poema Sujo” (1976). Em 1977 estava de volta ao Brasil.

Ferreira Gullar recebeu o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção de 2007, com “Resmungos”, o Prêmio Camões, em 2010, o título de Doutor Honoris Causa da UFRJ e o Prêmio Jabuti de Livro do Ano – Ficção de 2011, com a obra “Em Alguma Parte Alguma” (2010), o primeiro livro de poemas em mais de dez anos.

Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de dezembro de 2016.

Acervo: 85 frases e pensamentos de Ferreira Gullar.

Frases e Pensamentos de Ferreira Gullar

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar
Na Vertigem do Dia. 1980

Nota: A autoria do pensamento tem vindo a ser erroneamente atribuída a Oswaldo Montenegro.

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Estou na caridade da evolução do meu ser. Quero ser menina, encontro-me mulher. Quero ser mulher, vejo-me menina.

Dois e Dois são Quatro

Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

A arte existe porque a vida não basta.

Ferreira Gullar
TRIGO, Luciano. 'A arte existe porque a vida não basta', diz Ferreira Gullar. G1, 7 ago. 2010.
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