Felipe Alves de Souza
Como todos os outros povos no ocidente, os brasileiros seguiram a ideia de que não é o tempo presente que comprometemos para gerar o nosso futuro, mas é a penhora do tempo futuro que deve nos dar alguma sobrevivência no presente.
O trabalhador faz o que sobra para ele no mercado de trabalho, e não aquilo que melhor pode realizar as suas potencialidades.
Estamos enredados na complexidade de um capitalismo cuja lógica do mercado das finanças, e não mais a lógica do mercado em função da produção, dominou a sociedade.
Damos mais dinheiro aos monopólios (fornecendo dados que serão capitalizados) e mesmo assim não ganhamos nada por isso. É a extorsão máxima de mais-valia que temos hoje. Toda sua vida é capitalizada. Nossa vida é uma engrenagem. Mais um conjunto de dados para o capitalismo. Que nos faz pagar para acessar esses meios que nos espoliaram. Pagamos para trabalhar, pagamos para fazer cada atividade.
O Estado é privatizado para os bancos. No fim o que sobra é só a dívida da dívida. É como se começássemos a vida com o saldo negativo.
Convencem-se que toda a infosfera precisa ser utilizada por elas próprias para se projetarem e conseguirem trabalhar.
Acham-se na condição de dados e, mais ou menos conscientemente, se comportam como dados. São dados concorrenciais no mercado de trabalho que, enfim, se transforma em um mercado de dados, ou melhor, em uma nuvem de dados que, por mecanismos que estão muito além de mérito pessoal, as destacam no Youtube ou coisas semelhantes.
Todos precisam estar na internet oferecendo seus serviços, produtos, habilidades e, principalmente, falta de habilidades. Mas tudo na forma de dados.
O que é íntimo e o que poderia ser público se fundiram. Ninguém mais sabe o que é a privacidade ou intimidade. Todos, até em nome da ética, pedem transparência. Interessante: transparência. Seja um dado, mas seja visto tão rapidamente que vire algo transparente.
A padronização se acentua na infosfera, pois ela é um campo de mimetismo, de alta diversidade, porém padronizada.
A infosfera não é avessa à criação, mas a cada nova criação ela se satura pela repetição, pela mesmidade, pela velocidade do fluxo do mesmo. Talvez a pornografia seja o exemplo mais típico desse processo, mas todo e qualquer fluxo pode ser pornográfico, ou seja, explícito em demasia, repetido sem que o espírito possa ser chamado.
Cada eu que se apresenta na internet obedece, antes de tudo, a velocidade de uma capacidade perceptiva que impera o fugaz, a insaciabilidade, o que é viciante e sem qualquer reflexão.
O fluxo contínuo de imagens, dizem alguns psicólogos, tem função de dopamina.
No campo da política democrática, então, nasce a reclamação pela falta de propostas dos candidatos, mas se algum candidato não apresentar o comportamento pedido pela velocidade de fluxo e de imagens dos shorts do TikTok, e resolver realmente explicar uma proposta, não será ouvido.
Eles próprios, os que pensam comandar os investimentos e saber deles, os que operam as bolsas de valores, estão ali, feito idiotas, querendo nos convencer que sabem o que está ocorrendo. Acreditam que podem dar lição de economia financeira e investimentos. Não podem. Todos os cálculos e tendências são feitos por máquinas. E os algoritmos criam fluxos que escapam ao modo de entender humano. Esse modo de funcionar da máquina molda todos nós, e também o que esperamos da performance dos políticos. Não raro, os políticos se tornam caricaturas do que a internet fez deles naquilo que ela tornou o fixo, pela repetição. A função dos memes é exatamente essa.
É curioso pensar em quantos lugares incríveis existem no mundo, aqueles cantinhos que a gente nunca vai ver nem mesmo ouvir falar. Lugares que estão ali, silenciosos, vivendo suas próprias histórias. Existem praias isoladas, templos antigos esquecidos, florestas que abrigam segredos que nem a ciência ainda compreende. Lugares que guardam histórias que nunca serão contadas, belezas que nunca serão vistas e detalhes que permanecerão eternamente desconhecidos. Às vezes penso nisso e me perco por alguns minutos
Frendship with Amanda
Dizem que amor é sempre brando, macio como nuvem ao amanhecer. Mas o que temos é trovão trocando farpas, é tempestade que insiste em não ceder. Dizem que amor é feito de calmaria,
mas o nosso laço é furacão. Não tem flores na varanda, mas tem raízes fincadas no chão. Elas são a prova de que, mesmo em solo instável, pode emergir uma relação incomparável. Gritamos, não por raiva, mas por querer ser ouvido, ferimos, não por mal, mas para proteger o que é vivido. E no fim, cansados da guerra travada, voltamos ao riso, prontos pra renascer. Não somos perfeitos, nem queremos ser, só sabemos que aqui é o nosso lugar. Entre gritos, risos e tempestades, sempre voltamos a nos encontrar. O amor por uma pessoa também é isso: encontrar beleza nas rachaduras, e ainda assim chamar de lar. Aos outros, a nossa relação parece estranha, um labirinto ou um enigma, sem razão ou caminho, quem observa de longe não enxerga a montanha que construímos juntos, no silêncio e no destino. Pemanecemos, não porque é fácil, mas porque sabemos, no fundo do peito, que o telhado pode vazar, as paredes podem rachar, mas a casa que temos ainda é lar. E assim seguimos, com baldes e panos, consertando o que dá, deixando o resto pra depois. Porque o amor por uma pessoa também deve incluir isso: aceitar as goteiras de seu telhado, e ainda assim escolher ficar, debaixo do mesmo teto. Brigamos, nos distanciamos, mas sem querer. Cada batalha é um lembrete do quanto ainda queremos entender. No caos, em meio ao grito e ao rancor, escolhemos seguir, mesmo sem saber onde dói a dor. Brigamos, nos afastamos, mas sempre voltamos, porque é no caos que nos encontramos. Nossos corações, que se chocam e se quebram, se refazem, se curam, e se entregam. Nos tornamos mais fortes, mais próximos, e mais íntimos, laços que a alma tece em ritmos. Um amor que não se ressente, que se acolhe, se escolhe, que se compreende, que juntos um alicerce. E o que sentimos, mesmo sem palavras, é o reflexo de algo mais profundo, que não se vê, mas se sente, um amor que se faz forte no meio do descompasso, no que é imperfeito, mas é eternamente presente. E mesmo nos momentos mais escuros, nos encontramos, iluminados pela certeza de que juntos, somos inteiros. Mesmo nas tempestades, sempre há a promessa do sol, e a certeza de que juntos podemos enfrentar qualquer clima, qualquer adversidade. Justamente nesse mistério que encontramos nossa magia, no jeito único que só nós dois entendemos, forte o suficiente para resistir ao tempo, essa é a nossa verdade. A vontade de cuidar permanece, e nos move, mesmo nas horas de dor, como um farol que nos guia ao amor. Mesmo quando o mundo ao nosso redor treme, sabemos que temos um ao outro para nos sustentar, porque é no perdão, nas pequenas reconciliações, que o nosso amor se renova e cresce, sem parar. Mesmo nos dias mais difíceis, sem desanimar, o amor nos leva a seguir, sempre a caminhar. E o que nos torna indestrutíveis, na verdade, não é a ausência de dificuldades, mas a lealdade. A nossa capacidade de nos curar e abraçar, independente do que aconteça, um ao outro amparar. Não se trata de corações em chama, nem de juras ditas ao luar. É o falar suave que acalma, um olhar que sempre vai se encontrar da maneira mais bela. O tipo de amor que é para sempre, sem cautela. Sentimentos se entrelaçam sem fim, é amizade que faz o mundo, e transforma cada momento em jardim. Perguntam, mas não entendem o segredo, é o carinho que vai além do amor, o medo de perder algo de imensurável valor. Seus pensamentos, sua dor, seus medos e risos não estão à vista, mas são meus quando você escolhe os pronunciar. Presença não é só corpo, é o eco que fica no ar, é a lembrança que acende quando o outro está a milhas a mar. Há outras formas de tocar: um verso, um riso, um suspiro. Há outras formas de amar: um nome escrito no mar, um suspiro compartilhado em segredo, um sorriso que brilha mesmo no medo. Em um falatório que organiza a mente, em um silêncio que cria ambiente, em um gesto simples e a alma a tocar, tudo que se forma um lar, aquela pausa que você pode descansar. Intimidade é isso: um fio invisível que tece, ligando almas, corações, onde o tempo se esquece. E assim, mesmo longe, extremamente presente: na palavra que acolhe,no afeto que aquece a gente. Qualquer um pode dizer que te ama, mas eu? Aaah, eu te poesio!
Vivemos sob a sombra de uma vida que nunca chega a começar, perseguindo um ainda não que se desloca infinitamente. A sensação de estar atrasado não é fruto da escassez de tempo, mas da impossibilidade de habitar o presente, sequestrado pelo fantasma das possibilidades não realizadas. A gente vive com a impressão de que está sempre correndo atrás de algo que sequer começou direito. Um atraso crônico para uma vida que nunca nos foi entregue por completo, apenas esboçada, nunca habitada. O sujeito contemporâneo não sofre por falta de liberdade, mas por seu excesso, uma liberdade que se transformou em obrigação de otimizar, experimentar, abraçar infinitos eus potenciais. O problema não é a quantidade de opções, mas a crença de que precisamos experimentar todas elas para ser felizes. Essa exigência nos fragmenta. Cada possibilidade que se abre exige um eu que se adapte, que performe, que justifique. Estamos esgotados não pela escassez, mas pela abundância. A ilusão da autonomia absoluta esconde uma verdade mais cruel: escolher não é sobre ganhar, mas sobre perder. Cada decisão é um luto pelas vidas alternativas que não serão vividas. Escolher não é decidir o que se quer, é aceitar o que se vai deixar para trás. É reconhecer que cada caminho traçado é um adeus silencioso às paisagens não percorridas. Mas estamos nos tornando incapazes de dizer esse adeus. Temos medo de fechar portas. Só que quem vive tentando manter tudo aberto, não entra de verdade em lugar nenhum. A multiplicidade de opções não nos liberta; nos paralisa. O menu infinito não amplia a existência, mas a esvazia. Por trás do fetiche pela experimentação total, há um pavor mudo ao compromisso, à irreversibilidade da escolha. Tem algo em nós que desejaria não decidir, como se a não-escolha nos protegesse da dor do arrependimento. Mas isso vai nos matando aos poucos, com uma overdose silenciosa de tudo. Porque, no fim, o excesso não nutre; entorpece. O neoliberalismo nos vendeu a ficção de que podemos (e devemos) ter tudo, mas a realidade é que a felicidade só emerge quando aceitamos os limites, quando nos permitimos ser finitos. Essa sociedade produz não vencedores, mas perdedores glorificados, indivíduos que interpretam a hesitação como sabedoria e a acumulação de possibilidades como libertação. Mas estamos criando, na verdade, uma geração de perdedores, de pessoas para quem a vida é uma porta fechada. Não por falta de chaves, mas por excesso de entradas possíveis. A overdose de opções é um sintoma da miséria espiritual de nossa época. O arroz com feijão do cotidiano, o ordinário, o repetitivo, nos apavora porque exige entrega, exige que paremos de correr atrás do próximo estímulo. Feche o outro cardápio. É só outra versão do mesmo prato, apresentado com verniz gourmet. No fundo, é a vida pedindo presença. Mas estamos ausentes, de nós, dos outros, do mundo. Quem insiste em manter todas as portas abertas condena-se a ser eterno espectador de si mesmo, um turista da própria existência. Uma vida cheia de possibilidades, mas sem entrega, acaba rasa. A verdadeira liberdade não está em ter infinitos caminhos, mas em caminhar por um deles, e pagar o preço. No fim, quem vence não é quem tem mais opções, mas quem consegue escolher... e bancar essa escolha.
Há uma certa grandiosidade trágica em declarar que se morreria por alguém. É uma afirmação que soa a sacrifício final, a coragem absoluta. No entanto, a verdadeira prova do amor talvez não esteja no gesto extremo da morte, mas nos atos modestos e repetidos da vida: Você viveria por mim? Cuidaria de si por mim? Faria as pazes com a existência por minha causa? Destruir é fácil. Qualquer um pode arruinar, abandonar, ferir. A verdadeira arte está na reparação, na paciência, na insistência em permanecer quando tudo em nós pede fuga. O amor, em sua essência, é um convite à vulnerabilidade. Ele nos tira do centro de nosso próprio universo e nos coloca diante de um paradoxo: só encontramos a nós mesmos quando nos esquecemos de nós. As visões narcisistas do amor, aquelas que buscam no outro apenas um espelho, um confirmador de nossas fantasias, são, no fundo, formas sofisticadas de solidão. Quem ama de verdade não está à procura de um admirador, mas de um ser humano completo, com suas falhas e suas dores. Amar é aceitar o risco de ser transformado, de sair do controle. E talvez sejam os solitários os que melhor compreendam isso. Eles passaram tanto tempo observando o amor à distância, estudando seus movimentos como um astrônomo estuda as estrelas, que, quando finalmente amam, o fazem com uma intensidade que os mais sociáveis mal compreendem. Eles sabem que amar é um ato de coragem, não a coragem do heroísmo vazio, mas a coragem de acordar todos os dias e escolher, outra vez, permanecer. No fim, a pergunta que define o amor não é "Você morreria por mim?", mas sim "Você viveria, pacientemente, imperfeitamente, ao meu lado?". E essa é uma pergunta muito mais difícil de responder.
É uma alegria ler um poema, sim, mas quem o lê com verdade sabe que por trás de cada verso há um abismo. O poeta canta porque não pode calar a dor; ri, porque não suporta chorar sempre. A sua alma criativa é um reflexo da crise, um espelho partido que devolve a luz em estilhaços de beleza. Que importa que o poema brilhe, se foi forjado nas trevas? Que importa que a palavra dance, se quem a escreveu mal se sustenta em pé? A obra é a fuga, o grito abafado, o sorriso que se desfaz no rosto antes de chegar aos olhos. Lemos e sentimos o êxtase da criação, mas esquecemos que o criador muitas vezes se consumia na chama que nos aquece. A arte é o suicídio adiado, o último suspiro antes do naufrágio. E, no entanto, quanta luz brota dessa escuridão! O poema é alegre porque a tristeza, quando pura, já não sabe nomear-se. E nós, leitores ingênuos, bebemos do veneno como se fosse mel, sem perceber que a doçura vem do mesmo fruto que envenenou o poeta. Mas não importa. A obra está acima do autor, e a beleza sobrevive ao caos que a gerou. Ler um poema é conversar com um fantasma que ainda não sabe que está morto, e, nesse diálogo, ambos, vivo e espectro, encontram uma paz que a vida lhes negou.
Há uma ternura triste, quase imperceptível, que habita os corações dos apaixonados. É a crença silenciosa de que, para merecer o amor, é preciso ser menos. Menos ruidoso, menos estranho, menos intenso. Como se amar fosse passear por um salão de porcelanas impecáveis, e não andar descalço num jardim onde brotam flores selvagens. Quantas vezes você já se olhou no espelho e, em silêncio, declarou guerra a si mesmo? Quantas vezes domou sua risada por achá-la alta demais, podou suas ideias por parecerem estranhas demais, engoliu sua verdade por medo de que fosse demais para o outro? Ah, meu caro... o amor de verdade não é um molde no qual devemos caber. É um lugar onde cabemos inteiros. Há quem se apaixone justamente pelo que você esconde. Pelo seu jeito estabanado de contar histórias, pelas paixões excêntricas que ninguém mais compreende, por aquele detalhe que você julga imperdoável. O amor é distraído das lógicas, surdo às conveniências. Ele gosta de vozes desafinadas, de risos fora de hora, de olhares tortos. Ele gosta do que é seu, e só seu. Não se torture tentando caber em formas que não foram feitas para você. Não há vitória alguma em ser amado pelo que você finge ser. Seja quem é, com todas as suas delicadezas e desatinos, e espere. Porque o amor que vale a pena não exige máscaras nem reformas. Ele reconhece a alma pelo avesso, e ali se aconchega. Ele não chega exigindo silêncio: chega com ouvidos abertos para a música que é só sua. E quando ele vier, não pedirá que você se esconda. Vai sentar ao seu lado, sorrir, e dizer com simplicidade comovente: Gosto de ti assim, exatamente assim, com tudo que o mundo não soube entender. Seja raro. Seja inteiro. Seja você. Porque o mundo está cansado de cópias bem-comportadas. Mas há uma beleza revolucionária em ser verdade.