Eugénia Tabosa

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Ai como grita
ao pisar o gato
a velha aflita

Sobre o varal
A cerejeira prepara
O amanhecer

negro e revolto
o mar de inverno
pressagía desgosto

no céu de Alexandria
as estrelas falam
mitologia

Olhar felino
perfil egípcio
apanha sol

o rio ao lado da estrada
corre
ri à gargalhada

longe noite escura
uma viola
amor murmura

Um homem caminha
cabisbaixo e só:
perdeu o que não tinha

Abrindo uma fresta
do carro de luxo
ele atira a meleca

Na noite em silêncio
o relógio presente
marca o passado

palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso

Praia deserta
no rebentar da onda
a moça espera

O gato tigreiro
olha o sabiá
que voa ligueiro

O gato no cio
mia e remia
canta ao desafio

O senhor narigudo
tinha um olho torto
e no pé um fungo

Na noite escura
um mar de espuma
chama pela lua

no parque vazio
duas árvores abraçam-se
em prantos de chuva

Olhando nos olhos
que o lago reflete
Narciso se esquece

meus dedos-olhos
desvendam sem pressa
doces mistérios

a chuva no charco
traça círculos
sem compasso

Um cão sonolento
esticou as patas
e soltou um vento

No prato com leite
a língua rosada
faz chap chap

seus olhos felinos
horizontais oblíquos
olham parados

Sentadas num fio
estão cinco andorinhas
fugidas do frio

na cama de nuvens
o sol espreguiça-se
oblongo