Eliane Azevedo

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Todas as nossas escolhas, em algum momento da vida, poderão nos parecer equivocadas! E somente uma resposta é capaz de aquietar-nos o coração: a certeza de que faríamos exatamente tudo igual outra vez...

Inserida por LiAzevedo

Liberdade é não ter limites para se fazer tudo o que não prejudique outras pessoas. Liberdade é ter respeito pelo espaço alheio. Liberdade é estar nos braços do meu amor, ainda que presa pelo seu abraço aconchegante. Liberdade é poder fazer o que se quer, no momento em que quiser, nos lugares e com as pessoas que se pode. Enfim, liberdade não é viver sem regras ou limites. Liberdade é saber conviver e não ser esmagado por elas…

O que fazer das sobras do amor?
O que fazer das lembranças do cheiro, da voz, do toque, dos olhos, das cócegas, dos risos, das viagens, das imagens?
O que fazer das lembranças do abraço, das mãos, do carinho sutil, do carinho voraz, do banho, do café à mesa, dos filmes vistos, criticados, admirados, inacabados?
O que fazer da música escolhida, do beijo prolongado, roubado, do amor no carro, na sala, no quarto?
O que fazer quando o telefone toca e do outro lado não se ouve mais a mesma voz?
O que fazer das mensagens gravadas, das cartas escritas, dos sentimentos impressos, dos presentes guardados?
Mas o que fazer também das ofensas do amor?
O que fazer das lembranças dos gritos, das afrontas, dos olhos marejados, decepcionados, das palavras cortantes, do filme repetido, dos sonhos ruídos, da sensação do desconhecido?
O que fazer com a sensação de culpa, fracasso, impotência, incoerência?
O que fazer dos sentimentos revirados, transformados, do ódio repentino, do amor estilhaçado, quebrado, tantas vezes remendado?
O que fazer da ausência que se sente? Ausência de paz, ausência da ausência, ausência de si mesmo?
O que fazer?
Talvez o tempo se encarregue de apagar as lembranças, de mudar o cenário, de reinventar o passado...Por hoje, não sei o que fazer com tudo isso...

Se quiseres chegar, chegue...Mas venha de mansinho, porque ando um tanto quanto machucada com essas coisas de amor, entende?

- Sabe que não dói mais como antes? – disse-me ela, fixando o olhar em um ponto oposto ao meu, na tentativa de não ter sua evasiva analisada por mim.
E continuou a se enganar.
Saiu com os amigos, dançou, pulou, sorriu, falou alto, exorcizou os demônios, se indispôs com alguns anjinhos, se sentiu livre, feliz... Feliz? Quase feliz...
O fato é que dali a alguns dias, o telefone começa a tocar... Opa! Admirador na área! A vida seguia seu rumo. Afinal, essa é a ordem natural das coisas, não é mesmo?
A palidez de seu olhar, entretanto, denunciava a ausência de emoção em sua voz, por mais que se esforçasse gentil...
Mais alguns dias, e um bouquet à porta...
- Puxa vida! Deve ter custado uma nota!
Ela não reparou na beleza das flores cuidadosamente escolhidas e arranjadas por debaixo de um belo cartão enviado... Rosas vermelhas! Mas rosas que não exalavam cheiro de amor, não lhe representavam nada, muito diferente daquele bouquet recebido meses atrás, no dia de seu aniversário...
Mesmo assim, recebeu, agradeceu e sorriu, com direito a sufocar toda dor que sentia naquele momento...
Foi aí que a realidade lhe caiu à cabeça...
Na verdade, ainda doía. Na verdade, ainda não tinha passado. Na verdade, ainda estava em carne viva!
Então ela percebeu que ele tinha mesmo ficado, ficara em forma de ferida, que com o tempo se tornaria uma cicatriz.
Por enquanto, ainda estava visível... E por isso, as pessoas se afastavam com medo de se machucarem também, e outras, queriam curá-la, algumas até mesmo escondendo a própria cicatriz, pequenina com o passar dos meses...
Ela sabia que um dia a sua cicatriz também se reduziria, seria levada para outra parte do corpo, talvez para um lugar que não mais lhe incomodasse ou pudesse ser vista à olho nu. Porém, ela continuaria ali, contornada pelas lembranças que se fixam à pele como se dela fosse parte... E ainda que outra pessoa a fizesse sorrir, vez ou outra, a cicatriz seria apontada, questionada, encontrada...
Mas ela sabia que ele também carregaria a mesma cicatriz... E mesmo que outra pessoa o fizesse sorrir, ela continuaria ali, marcada em seu corpo, tatuada à pele, fazendo parte dela... E se algum dia não fosse mais encontrada, ainda assim ela estaria ali, tatuada à alma, uma cicatriz na alma, completamente impassível e imune à qualquer tratamento de cura...

De olhos fechados

Beijos, mas não era a boca dela!
Toque, mas não eram as mãos dela!
Cheiro, mas não era o perfume dela!
Aconchego, mas não era o corpo dela!
Sussurros, mas não era a voz dela!
Carinho, mas não era a pele dela...
Então, ele fechou os olhos.
De olhos fechados, a encontraria, a tocaria, a sentiria...
De olhos fechados, sairia dali, iria onde quisesse...
De olhos fechados, sentiria os seios fartos, a cintura fina, a voz dengosa, o corpo trêmulo, o sorriso fácil, lânguido...
De olhos fechados!
E assim teria que viver...
De olhos fechados!
Só assim teria a chance de sentir outra vez tudo o que havia perdido...

Disseram-na que ela é má!
Disseram tanto, que ela parou para pensar...
Se ela gosta, ela maltrata!
Se ela se apaixona, ela maltrata também!
Se ela ama, ela maltrata ainda mais!
Mas ela não sabe de onde vem tanto medo.
Se é dessa vida
Ou de outras já vividas...
O que não sabem
É que ela não é má!
E se algum dia ela pareceu má
Ela foi bem pior com ela mesma...

Seja feliz, mesmo que sua felicidade incomode aos outros! É melhor ser feliz e incomodar, que, covardemente, compactuar e compartilhar a infelicidade de quem, egoisticamente, não sabe ser feliz com as coisas que tem...

Hoje eu vi você.
Estava sozinha, distraída, ausente, mas quando você passou, eu o vi. Num ímpeto me levantei, gritei seu nome, acenei, mas você só passou!
Passou rápido! Deixou seu cheiro no ar...
Não me conformei. Estabanada, procurei a chave do carro, nem sequer coloquei o cinto de segurança, primeira marcha, e parti! Parti atrás de você...
Você já estava longe... Acelerei!
Meu coração disparado, meus pensamentos em desordem, só sabia que tinha visto você!
Nem sei se queria falar com você, ouvir sua voz, não sei se tinha alguma coisa a lhe dizer ou se você teria alguma coisa a me dizer! Mas eu o vi, e não resisti...
É sempre assim, não é mesmo? Na hora tudo se resolveria, pensei. Na hora, quando os olhos se encontrassem, as mãos se tocassem, o corpo falaria...
Você virou a esquina. Virei também... Você continuava de costas. Eu continuava a te seguir, agora devagarzinho...
Você parou. Eu estacionei.
Minha voz estava embargada. Não conseguia dizer seu nome. Então, te toquei... Um toque leve, sutil, carinhoso...
Você se virou para mim. Virou-se e não me reconheceu.
Continuei sem dizer seu nome. Se não saíra antes, muito menos sairia agora. Depois de tudo o que vivemos, você não sabia de quem eram aqueles olhos que insistiam em querer te levar a resposta à boca!
Era eu! Seu amor! Seu grande amor! Por que não me reconhecia?
Só que você continuava assustado, arredio, como se não entendesse absolutamente nada do que se passava ali...
Um outro homem passou à minha frente. Também vi você.
Olhei para o outro lado. Lá vinha você outra vez!
E lá dentro do carro, no semáforo, você sorria para mim!
Mais confusa ainda, dei meia volta, te deixei ali parado, atônito, e sem qualquer explicação, voltei para casa.
No caminho, encontrei outros de você, apressado, falando com outras pessoas, abastecendo o carro, comprando uma cerveja, ao telefone, questionando um auto de infração, sorrindo...
Mas hoje eu vi mesmo você!

Inserida por LiAzevedo

Saudade dos seus olhos
Saudade do seu olhar
Saudade da sua boca
Saudade do seu beijo
Saudade do seu gosto
Saudade da sua pele
Saudade das suas mãos
Saudade do seu toque
Saudade do seu cheiro
Saudade do seu abraço
Saudade dos seus braços
Saudade das suas veias
Saudade da sua cor
Saudade do seu jeito de fazer amor
Saudade do seu jeito de sorrir
Saudade do seu jeito de dormir
Saudade do seu jeito de acordar
Saudade do seu jeito de reclamar
Saudade do seu jeito de consolar
Saudade do seu jeito de aprender
Saudade do seu jeito de ensinar
Saudade do seu jeito
Saudade do seu corpo
Saudade da sua alma
Saudade de você
Saudade de mim em você
Saudade de você em mim
Saudade de mim...

Estás enganado se pensas que sei lidar com a dor...
Quem a suporta não sou eu!
Quem a suporta é outra de mim, que surge dos escombros de não sei onde, nem de quê, e se esconde da vida que pulsa para continuar respirando...
Esta tem ombros de aço
Olhos de águia
Mãos que transformam
É invencível na solidão de seu sofrimento
Às vezes incompreendida em seu silêncio, mas quando intui o seu próprio fim, se incendeia e renasce das cinzas, cedendo lugar à outra parte de mim, àquela que realmente sou, que aparece para vida que pulsa, para também continuar respirando...
Esta, sim, tem magia no olhar
Alegria contagiante
Mãos que acariciam
Olhos apaixonados
Sorriso fácil
Não aprecia a solidão, e se perde na simples leveza das asas de uma borboleta a transportar o recente cinza da vida para um passado tão distante, que de tão distante, não existe mais...

Há amores que se vão com o tempo
Há amores que não toleram a ausência
Há amores que não suportam a distância
Há amores que se desencantam com a rotina
Há amores envenenados por intrigas
Há amores que são feridos por palavras
Há amores que não alcançam a maturidade
Há amores que são trocados por interesse
Há amores destroçados pela desconfiança
Há amores machucados pela instabilidade
Há amores que não se encontram com a estabilidade
Há amores eternamente solitários
Há amores que se perdem por medo...
Apesar de tudo, apesar do amor, apesar do querer, por medo.
Há amores que se perdem até mesmo por excesso de amor!
Mas não ser feliz por medo de amar, mesmo que ainda doa, essa sim, é a forma mais covarde de se perder um grande amor!

E depois de tantas dúvidas, tantas idas e vindas, tantas reviravoltas, ela não poderia começar o ano novo sem a presença de quem lhe ocupara o coração há algum tempo atrás. Sem o corpo daquele que tomou todos os seus espaços vazios, espaço que ela pensara ser não mais possível preencher, que ela pensara estar ainda travado, trancado, inacessível. Espaço que ele, sem cerimônia, invadiu, sem sequer obedecer a qualquer uma das regras que o amor realmente é incapaz de respeitar!
E foi assim seu primeiro dia do ano! Sem tempo para as regras, sem tempo para as convenções!
Foi ali, à luz da lua, que sem qualquer arrependimento, não fora apreciada! Afinal, ela tinha ali, na primeira noite do ano, o homem que deixara para trás todos os outros! E também a lua!
Ali, assim, nua, na rua, à luz da lua!

Completamente nua...

Partidas

Tão estranha essa sensação de vazio, de se sentir perdida em algum lugar no meio desse mundo todo, que agora me parece infinitamente maior e sem sentido. Tão difícil não ter mais para onde voltar, onde fugir, onde me esconder, onde me encolher. Tão angustiante saber que não terei mais o colinho que me acolhia mesmo quando eu fazia as maiores besteiras na vida. Tão ultrajante aceitar a derrota, quando tanto se lutou durante anos. Tão doloroso ter a certeza que não irei mais encontrá-lo a me esperar altas horas da noite, como se eu fosse uma adolescente inconseqüente que ainda necessitasse de mínimos cuidados e proteção. Tão ironia do destino sentir na pele o mesmo que o senhor deve ter sentido todas as vezes em que me vira partir... Quantas vezes, pai? Quantas vezes o senhor ficou com o coração tão massacrado como está o meu agora? Quantas vezes as lágrimas que corriam de seus olhos o impediram de ver a sua menininha partir para longe, sem data para voltar, ou mesmo sem saber se iria voltar? Mas eu voltei, pai... Eu voltei para sentir na pele tudo o que o senhor sentiu. Eu voltei para estar a seu lado quando Deus decidisse que fosse a sua vez de viajar! E Ele decidiu a hora. Foi com muita dor que o vi embarcar e partir, em meio a tanto sofrimento e desespero. Doeu mais ainda ser capaz de entender que seu avião não teria mais qualquer possibilidade de voltar... E a sua garotinha ficou aqui. E vai continuar aqui, à janela do aeroporto. Mas não posso prometer não crescer! Sem o senhor, talvez a vida me tire dos olhos a fragilidade da menininha que só encontrava conforto em seu abraço de pai. Somente em seu abraço, meu querido e tão amado pai.

Inserida por LiAzevedo

Desalmada

Eu só quero que você me beije.
Que você me toque até descobrir a minha alma.
Deixe-a encontrar a sua por alguns instantes.
Acaricie-a.
Afague-a.
Faça-me flutuar, gemer, gritar, sorrir.
Faça meu corpo tremer.
Abrace-me.
Sinta meu coração descompassado, minha respiração acelerada, minha pele suada, mas devolva-me a alma.
Ela não pertence sequer a mim mesma!
Feche a porta.
Siga em frente.
E tente não sofrer.

Dias de Sol

Bom dia, dia!
Bom dia, amanhecer!
Bom dia, céu!
Bom dia, eu!
Bom dia, você!
Bom dia, felicidade!
Que o hoje não se apague jamais.
Se apagar, que venham outros dias como hoje.
Porque eu quero o mesmo cheiro dessa manhã!
Eu quero o mesmo gosto desse café!
Eu quero esse mesmo olhar ao espelho!
Eu quero esse mesmo banho quente, demorado!
Eu quero minha alma lavada!
Eu quero tudo que eu tenho direito!
Então, seja muito bem-vindo, sol!
Tens meu aval para dourar meus dias de luz.
Porque todo novo começo é mágico!
Todo recomeço é aposta!
Todo amor é único!
E a vida é surpreendentemente linda!

And the oscars goes to

Protagonista. Antagonista. Figurante. Platéia. Coadjuvante. Júri. Ela já foi tudo na película que tentava exibir o que ela é. Ledo engano. Qualquer semelhança à realidade era mera coincidência. E se não fosse, convencia-se de que era. Nada tirava-lhe o gosto por personagens. Viver do nada, do tudo, do vento, dos atos, das cenas. E ela vivia. Não um dia de cada vez. Todos os dias de uma só vez. Era livre. Era leve. Não dava explicações. Não se auto explicava. Assim era bem mais fácil. E agora? Agora que ela aprendeu a se sentir? Agora que ela decidira se experimentar, se tocar, se saborear? Como voltar a representar se tudo que fala alcança-lhe as impressões digitais? Se tudo que olha rouba-lhe a essência, despe-lhe a alma, invade-lhe o palco? É isso que ela não suporta. Ela não suporta ser medida da cabeça aos pés. Ela não suporta ser um turbilhão de emoções, mas sem uma armadura que lhe dissimule o rubor do rosto e o coração em frangalhos. Ela não suporta mais sentir o gosto dela mesma. É intenso demais. É cruel demais. Ela precisa urgentemente de um novo roteiro. De um personagem que a salve de seus próprios sentimentos. De sua própria desordem.

Xeque-Mate

A meia luz e a fumaça do cigarro deixavam à mostra apenas o contorno de seu rosto bonito. Do outro lado, alguém tentava decifrá-la, com o olhar fixo, insistente. Estava há poucos metros de suas pernas despudoramente cruzadas em um mini-vestido escolhido a dedo para aquela noite. Embora fingisse indiferença, ela sabia que cada gesto seu era analisado por ele. O movimento do corpo, o toque aos cabelos, a carícia à borda da taça, o jogo insinuante de cruzar e descruzar as pernas, o cigarro aceso, a fumaça que lhe saía da boca, o olhar malicioso...
Ele apenas a olhava, extasiado, deslumbrado.
Vez ou outra tomava ares de que se aproximaria, mas ela o mantinha inerte com um olhar insensível e, ao mesmo tempo, desafiador. Era excitante torturá-lo com aquele jogo de esconde-esconde.
De repente, em questão de segundos, ela não estava mais ali. Desaparecera.
Ele ainda a procurava quando sentiu o gosto gelado da bebida de uma boca quente a devorar-lhe os lábios, a língua, o corpo, a alma, a vida, a calma.
- E se eu me apaixonar?
Ela nada respondeu. Apenas continuou a consumi-lo, parte a parte, em carinhos, carícias, toques, beijos, gemidos, êxtase. Seria inútil explicar-lhe que ela somente aprendera a procurar. Que ela trazia na alma a eterna insatisfação de quem não sabia encontrar. Seria inútil dizer-lhe para não se apaixonar...

Doutes

Sabe, cansei-me da minha roupagem velha. Cansei-me dos meus vestidos, dos meus sapatos, das minhas nuances, das minhas emoções, das minhas dores, dos meus amores. Preciso de outros ares, alcançar outras estrelas, navegar outros mares. Mas, na verdade, ainda não sei onde quero ancorar. Aliás, também não sei se quero mesmo ficar. Então, ficarei em preto em branco. Por enquanto não correrei o risco de me entediar com outras cores...

A minha loucura tem nome. Um nome próprio.

Malditas lembranças que ainda teimam em me fazer prisioneira da tua imagem.
Malditas!

Eu sempre soube que príncipe encantado não existia. Não, sempre não. Na verdade, sou obrigada a confessar que já acreditei em contos de fadas. Principalmente, aqueles que minha mãe lia ao pé da minha cama, que hoje percebo, eram interpretados sem que ela me fitasse os olhos. Ela lia, e eu ali, ficava tentando imaginar as cenas, fantasiava, viajava, recriava, questionava, mas adormecia em paz. Afinal, sempre tinham finais felizes.

Pensando bem, acho que aquele momento também era muito importante para ela. Era o momento em que ela resgatava e fazia alguém acreditar no que ela acreditara um dia. Mas, se nossos olhos se cruzassem, eu, mesmo em minha pouca idade, perceberia o apelo em seu olhar pra que não levasse tudo aquilo tão a sério.

Não. Eu não estou desiludida. O tempo foi passando, e eu mesma pude criar, recriar e desmitificar meus próprios contos de fadas. Hoje, eu não espero mais um príncipe montado em seu cavalo branco, ou que me beije os lábios depois da bruxa má ter me feito comer uma maçã envenenada. Hoje não perco mais horas de sono a imaginar castelos, jardins suspensos, magias e encantamentos.

Hoje eu apenas quero alguém que me cale a boca com um beijo quando meu silêncio grita e se torna um abismo intransponível entre dois seres que se amam. Eu só quero alguém que compartilhe da minha vida, tente entender a minha alma inquieta, que sacie meu fogo quando estiver aceso, que o acenda quando estiver em brasa, que se deixe acender quando meu corpo se torna incendiário, e que fique assim, agarradinho a mim, até que meu coração volte ao compasso, e a minha respiração desacelere em um sono profundo, protegido pelo aconchego de um abraço que continua ali, bem ao alcance das minhas mãos.

Não precisa ser alguém que goste de tudo que eu gosto. Eu só quero alguém que sinta prazer em estar ao meu lado, simplesmente por estar ao meu lado. Seja na praia ou em uma cidade do interior, seja em uma boate ou em uma estrada deserta, seja no futebol ou naquele almoço de domingo na casa da avó. Porque amar é isso. É troca. E troca é renúncia. Não uma renúncia sofrida ou nociva, mas uma renúncia consciente e tranqüila, unicamente por saber que a pessoa amada está feliz. É isso aí. É isso que eu quero. Alguém que brinque, que vibre, que sorri da vida, que brigue, que perdoa, que me faça perdoar, que desorganize o meu mundo, mas não volte a reorganizá-lo somente no dia seguinte. É isso que eu quero. Alguém que não tenha medo de se apaixonar e que não se intimide com os ridículos do amor.

Não sou perfeita. Não tenho pretensão de o ser. Tenho em mim quase todas as qualidades do mundo, assim como quase todos os defeitos também, inclusive, a ingenuidade de querer ainda imaginar que tudo isso não se trata, da mesma forma, de um conto de fadas. É que de vez em quando eu me recuso a crescer, e está me fazendo falta aquela época em que eu acreditava que "eles se casaram e viveram felizes para sempre"!

De volta!
De volta porque preciso gritar ao mundo que tudo que eu queria sempre esteve aqui. Aqui bem pertinho de mim. Aqui, bem à minha frente, bem ao alcance das minhas mãos.
De volta porque preciso confessar minha cegueira, minha ignorância, minha teimosia.
De volta porque só assim consigo ser completa, compreendida, ouvida.
De volta porque palavras me sufocam, me queimam, me aprisionam, mas também são elas que me alforriam, me devolvem o ar, e me curam.
De volta porque não percebia que ainda estava em você. Em seus olhos, sua boca, seu corpo, seu abraço, seus sonhos, seus desejos, sua corrente sanguínea.
Mas, sabe aquela história de que só quem conhece o veneno, conhece o antídoto?
Por isso voltei.
E voltei curada. Voltei ao cubo pelas palavras que me libertam! Curada tão somente para também levar-te à cura!

Inserida por LiAzevedo

E assim, não mais que de repente, ela descobriu que a felicidade não se curvava às suas auto-sabotagens. Então, ela seria mesmo obrigada a ser feliz!

Não me culpe se meu corpo tem vontade própria,
se meu desejo desconhece o “dever ser” ou “deveria ser”!
O desejo não tem regras.
O corpo não tem regras.
O amor não tem regras.
A vida não tem regras.
O que eu tiro disso tudo?
Que não há nada mais urgente que viver!
E, sinceramente, eu tenho pressa!