Edgardo Xavier

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Não me olhes assim

Não me olhes assim
Não olhes
que fico trémula e temo
que os meus olhos ceguem
e apenas te sigam
em caminhos da noite
Tenho medo de ver-te
só pela rota dos dedos
na lisura do teu corpo apetecido
Não me olhes assim
Não olhes

Vilma Nunes- Edgardo Xavier

Inserida por solitaria543

"A música vem de ti"


A música vem de ti
promessa ainda demorada
na luz do tempo
no pó da estrada

A música vem
e chegam também
a urze e o azul
que te precedem

Serás flor na aurora branda
emoção de um lírio por dizer
pedra
corpo
verde e água
na tua boca calada
antes de acontecer

A música vem de ti

Conta-me


Conta-me
Do teu vestido verde
Seda pura
Corte liso
Conta-me
Do que é preciso
Para que vistas luar
E sombra
Pele e luz.

Em Silêncio

Amar-te em silêncio
E estar só
Não é ser forte,
É queimar a alma
Devagar
Como brasa sob cinza

Á revelia do olhar
O desejo queima
E acorda o corpo
Para um destino
De fogo
Ou de mar

E sou crista de onda
Ou céu de prata
E a lua é só uma lata
Sem valor
Sempre que estás comigo

Só então me reconheço
Como um pedaço de ti
Que recusa a independência

Sou livre sempre que voas!

Pausa

Vem e traz o ar de posse
As certezas e a intimidade
Sê a estátua de carne
Neste momento de silêncio
Muda e quieta
Como uma boca pousada
No meu sono


Traz-me de ti
O tudo e o nada
Do abandono
E acampa no trevo
Acre e macio
Deste corpo em festa

Depois, vê o que resta
Da minha fome e do cio
Retoma a tua gesta
Deixa-me vazio

Pelas Mãos te Sei


Pelas mãos te sei
pelos dedos te leio
formas e vazio
luz e esteio
corpo
sede
raiva
e os olhos magoados
de claridade agreste

Espessos os lábios
presas as palavras na garganta
e o teu olhar
a ditar estes silêncios de veludo
Mudo também é o som da noite
imenso jardim de estrelas
e passos sem destino

Basta saber que me esperas
à esquina de qualquer hora
Basta-me sentir a vida
como um sopro leve no rosto
e provar o mosto
do teu vinho
rubro e aceso
com sabor de vida
ao jeito da idade

Homem
menino
velho
destino
e o tempo a tecer rugas e mágoas
a gerar fontes
onde choramos
os amores perdidos
na calma podre das seivas
Petrificadas

Perto

Risco o teu nome na areia
Ao silêncio dos reflexos
Sais-me dos dedos
Mas é na boca que me deixas
O sabor a rosas que há em ti

Sei de caminhos e ruas
Sei de tempestades
Sei de corpos e cidades
Mas a ti amor
Só te adivinho

Contigo
As ausências
São a pausa desejada
Tu é que trazes
Estrelas e luar
À minha noite fechada

Amanhã quando vieres
A este pedaço de céu
Que iluminas
Estarei do outro lado
Da circunstância
Ao alcance do olhar

Se

Se corro
Cega-me a pressa
Para a verdade dos lírios
Se abrando
Fico-me pela delícia
Dos delírios
Em que morro
Nos teus braços
Devagar

"Tragédia"

Tragédia em todos os actos
é quando sem ver o azul
repetidas vezes
descreves negro
sentes noite
e não percebes o aroma
das camélias
que se escondem no breu
Como eu

"Lisboa"

Lisboa
Reflexo doce do Tejo
Caminho de luz coada
De encontros
Com água
Azul
E pedras da calçada
Gente e brumas
Cheiros e mágoas
Lágrimas de um tempo que se esgota
Penoso
Quando nos afastamos
E nos esquecemos
De amores
Barcos
E gaivotas