Douglas Trindade
SUMA NOTURNA
Repousa no vidro frontal
a noite enigmática
agora negra e vazia
apática e horizontal;
Inicia o sereno final
quando encontra um nó do mundo
que desata precoce e profundo
no carro, em sono, na vertical;
Antes sozinho no arcado metal
nó do homem, nó do destino
fundido e imerso
na teia do inverso irreal;
Claro ponto polido e dual
no abraço do banco que o segura
dorme a figura já combalida
e em vida flutua na noite fatal.
O GRITO
No caminho que passo
ouço um grito mecânico
dum anônimo percalço
metálico ato anímico
das cordas vocais de aço
daquele outro Eu andante
no morno dia terroso
ante aquela semana ambígua
do mesmo mês afoito
havia uma pedra no meio do caminho
e tantos outros sólidos
que descalço percorria
o outro Eu errante
nesse universo interior
que transpasso todo dia
MONÓTONO
Viajava a lembrança
naquela dança leve
o espaço abraçava a dama
e a dama saía alla breve;
O resto é irrelevante
Nada no todo que sinto
A luz da dança da dama
no opaco labirinto do instinto;
Aqui há tudo que lembro
No fundo é menos que digo
Habita no tolo um poema
das cinzas de um sonho antigo.