Davi Roballo
Amar é, sobretudo, não desistir quando o encanto se dissipa. É aí que o amor começa — quando o espelho da idealização se parte, e restam dois humanos, nus de mitos, mas dispostos à verdade.
Escrevo como quem desossa a própria alma diante do espelho —
e oferece cada osso como uma forma de renascimento.
Há dores que não gritam: se disfarçam em gentileza, se escondem no riso. A alma, como a pele, aprende a cicatrizar por camadas — mas nunca deixa de lembrar onde foi ferida.
A vida não pede que você a entenda — apenas que a escute nos intervalos do barulho. O sentido, se houver, talvez more nos sussurros.
Colecionar é brincar de controlar o incontrolável: um teatro silencioso onde o eu fragmentado tenta organizar seus fantasmas em prateleiras.
Somos o que o silêncio revela quando caem as máscaras — e representamos, quase sempre, apenas aquilo que aprendemos a performar para não assustar os outros com nossa verdade.
O ciúme é o espelho cruel da nossa própria incompletude — não tememos perder o outro, mas descobrir que jamais nos possuímos. Cada crise é uma sessão de análise selvagem onde o inconsciente confessa: não é dele que tenho medo, é de mim.
A velhice é o primeiro encontro verdadeiro com o próprio rosto — não aquele que inventamos no espelho da juventude, mas o que sempre esteve ali, esperando. O envelhecimento é a mais cruel das terapias: obriga-nos a elaborar, enfim, a fantasia de nossa eternidade. O idoso não teme morrer — teme reconhecer que nunca nasceu completamente.