Davi Roballo
As flores são apenas pedidos de desculpas da Terra por ter gerado essa criatura prepotente e destrutiva que é o homem.
A religião é aquele antolho disposto na lateral de cada olho, para que não vejas que, na vida, caminhas sozinho sobre um fio estendido entre um abismo.
De que serve amar os livros, se o amor não te move à leitura? De que serve ler, se da leitura não extraíres o sumo da ideia? E de que serve abstrair, se não fores capaz de decantar a essência silenciosa que a mensagem, velada, te oferece?
A educação que adestra a memória e esquece a alma é apenas um adorno para o ego.Instruir sem despertar é como acender uma vela sob um balde virado. O saber que não conduz à liberdade é apenas outra forma de cativeiro com diploma.
Amigo é aquele que caminha ao teu lado sem desejar ser teu destino. A verdadeira amizade não exige espelhos, mas presença. Entre os que riem contigo, poucos te verão quando estiveres invisível ao mundo — esses são os amigos.
O amor que espera retorno é comércio; o que permanece, mesmo em silêncio, é semente de eternidade. Só ama incondicionalmente quem já morreu para o orgulho. O amor sem condições não busca se completar no outro, mas transbordar dele.
Um dia compreenderás que a luz mais verdadeira não ilumina, mas vela; que a presença mais poderosa não se impõe, mas sussurra por dentro; e que há mais eternidade no silêncio de um homem esquecido do que nos discursos que se pretendem eternos.
O homem moderno não carrega um relógio no pulso — carrega um espelho onde enxerga o seu pavor de morrer. Quanto mais caro o relógio, mais profunda a ilusão: ele não deseja marcar as horas, mas esquecer que está sendo marcado por elas.
A vida não exige certezas, apenas coragem: cada escolha é um passo no escuro que revela a luz que tu és ou a sombra que te habita.
A vida não é uma linha entre dois pontos, mas um círculo que se fecha quando o espírito compreende o porquê do primeiro passo.
Morrer não é o fim: é apenas o regresso ao silêncio, com as pegadas do mundo ainda gravadas na alma.
Nascer é ser lançado ao deserto da vida. Viver é aprender a ouvir o vento que embala a dança do viver. Morrer é tornar-se o próprio vento.
A alma desce ao corpo como um viajante a um porto estranho, sem mapa nem idioma. Viver é decifrar esse enigma com os olhos fechados.
A história não é uma linha reta, nem sequer uma espiral — é uma doença que se alastra pelas frestas da consciência.
Eu jamais critico ou sou duro com um fanático; apenas escuto, pois o fanatismo, muitas vezes, é a única coisa capaz de se fixar na mente de algumas pessoas — e isso é tudo o que elas possuem.
O verdadeiro silêncio não é a ausência de som, mas a presença devastadora de tudo aquilo que jamais ousamos dizer.
A fé é a loucura mais íntima: uma aposta silenciosa de que o abismo guarda, no fundo, um berço e não apenas a queda.
Ser livre é arcar com a culpa de cada escolha, mesmo quando o universo inteiro se cala diante da nossa queda.