Daniel Brito
PREPOTÊNCIA
alguns com tom
imperativo
acham que detêm
a razão
transformam
ponto de vista
em ponto
de exclamação
DIÁLOGO
GOSTAVA MUITO
DE CONVERSAR COM TUDO:
PESSOAS, ANIMAIS, PLANTAS.
SÓ NÃO SE DAVA BEM
COM A CALADA DA NOITE.
O RAP É O HINO QUE NOS MANTÊM VIVOS (I)
OUVI JÁ DE MANHÃ
NA MINHA QUEBRADA
O SOM DE UM TIRO
NÃO MUITO DISTANTE.
E SEM PARAR
AS SIRENES TOCAVAM,
ROMPENDO A CALMA
D'UM SOL RADIANTE.
UM SENHOR
QUE CAMINHAVA
FOI FERIDO
E NÃO TEVE MUITA SORTE.
NO SEU PEITO,
BALA ALOJADA
QUE ACABOU LEVANDO ELE
PARA A MORTE.
ESCÓRIA ARMADA
E CRIMINOSA.
VAZE! VAZE!
COVIL DE COBRAS
NO LEGISLATIVO,
QUE NÃO AJUDA
AQUELE QUE PADECE.
PARA ELES FODA-SE O COLETIVO,
MAIS UM SALÁRIO
ACHAM QUE MERECEM.
DEMOCRACIA
REPRESENTATIVA
QUE NÃO OUVE A VOZ
DO NOSSO POVO,
NO TEU PRESENTE
SÓ VEJO AVAREZA.
QUE REFORMADA!
OUÇA O ÍNDIO
E A MULHER
QUE AQUI BATALHA.
FAVELAS, MORROS
GRITAM NO BRASIL
VAZA! VAZA!
SER VIL.
O RAP É O HINO QUE NOS MANTÊM VIVOS (II)
O POBRE CIDADÃO
NÃO TEM CONVÊNIO
E TEM QUE RECORRER
AO HOSPITAL PÚBLICO.
PRECÁRIO, POIS FALTOU INVESTIMENTO,
SUA QUALIDADE
É DO TERCEIRO MUNDO.
MAS IMPERA
A CORRIDA
PELO STATUS, GRANA,
JÓIAS COM FULGORES.
ENQUANTO EM PRATOS
FALTA COMIDA
E O DESCASO AUMENTA
JUNTO COM AS DORES.
ESCÓRIA ARMADA
E CRIMINOSA.
VAZE! VAZE!
HOMOFÓBICO,
RACISTA E CRETINO,
SENTADO NA CADEIRA DO SENADO,
QUE QUANDO FALA PROFERE A FÓRMULA
PARA QUEM QUISER
SE TORNAR UM OTÁRIO.
QUE OS QUE LUTAM
POR JUSTIÇA SEJAM FORTES,
NÃO PERCAM SUAS VIDAS
NA LABUTA,
NÃO ENTREGUEM O DESTINO
SÓ À SORTE.
REVOLUCIONÁRIA!
É A PERIFERIA
QUE TODO DIA
AQUI BATALHA.
FAVELAS, MORROS
GRITAM NO BRASIL
VAZA! VAZA!
SER VIL.
PROVOCANTE
ELA SUSSURRAVA INDECÊNCIAS
ENQUANTO EU LENTAMENTE
TIRAVA SUA CALCINHA.
E AGORA? ELA PERGUNTOU.
MINHA RESPOSTA JÁ ESTAVA
NA PONTA DA LÍNGUA.
DESEJO INCONTIDO
A CAMA GRITA RUÍDOS,
E SUAS PERNAS TREMEM.
NÃO SUPORTA TAMANHA LIBIDO:
AS ESTRUTURAS CEDEM.
INDIGESTÃO
há quem
come com os olhos
e digere com o intestino
que substitui o cérebro
pela boca
libera os dejetos
SER MARGINAL
NA POETIZAÇÃO:
A REALIDADE
EM EBULIÇÃO.
NO GRAFITE:
UMA AQUARELA
DE SUBVERSÃO.
SER MARGINAL
É GRITAR (COMO E) PELO OPRIMIDO
E INCITÁ-LO À AÇÃO.
ARTEANDO FOGO
MUROS COLORIDOS,
PREENCHIDOS COM ARTE:
REFLEXIVAS, DE COMBATE,
ILUSTRANDO A CIDADE.
GRAFITAR, SE ESGUEIRAR,
ARTEAR FOGO COM TINTA
NA POLUIÇÃO VISUAL
DA PAISAGEM PROPAGANDISTA.
gosto de me aventurar
mergulhando
em pessoas profundas
à procura de poesia.
boiando em superfícies
morro afogado
na monotonia.