Daniel Brito

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Poliamor

Se a química
É perfeita,
Não importa
Quantas ligações
Nós fazemos.

PREPOTÊNCIA

alguns com tom
imperativo
acham que detêm
a razão

transformam
ponto de vista
em ponto
de exclamação

ADAM SMITH

culto ao privado
divina mão invisível
deus é o mercado

Um tonis,um porre e um novo amor.

quando
olhares

sempre
se t(r)ocam

num afago
visual

os lábios
sentem

um ciúme

de tamanho
colossal

coração:
lutador.

bate forte,
mas também apanha
quando enfrenta
o amor.

se me ama
eu aceito

se me cama
eu deito

se me chama
eu queimo

toda beleza
engolida

pelo centro
da minha

visão

libera
(ir)radiação

CA(MI)SINHA

BEM-VINDO AO LAR.
POR FAVOR, APENAS VISTA-SE
ANTES DE ENTRAR.

DIÁLOGO

GOSTAVA MUITO
DE CONVERSAR COM TUDO:

PESSOAS, ANIMAIS, PLANTAS.

SÓ NÃO SE DAVA BEM
COM A CALADA DA NOITE.

DEPRESSÃO

ERA TANTA MELANCOLIA,
QUE ELA SENTIA
QUE NEM A SOLIDÃO
LHE FAZIA COMPANHIA.

FICAR

MESMO QUE NÃO
NAMOREMOS
OU CASEMOS,
ESPERO SER
SIGNI
FICANTE
PELO MENOS.

O RAP É O HINO QUE NOS MANTÊM VIVOS (I)

OUVI JÁ DE MANHÃ
NA MINHA QUEBRADA
O SOM DE UM TIRO
NÃO MUITO DISTANTE.
E SEM PARAR
AS SIRENES TOCAVAM,
ROMPENDO A CALMA
D'UM SOL RADIANTE.

UM SENHOR
QUE CAMINHAVA
FOI FERIDO
E NÃO TEVE MUITA SORTE.
NO SEU PEITO,
BALA ALOJADA
QUE ACABOU LEVANDO ELE
PARA A MORTE.

ESCÓRIA ARMADA
E CRIMINOSA.
VAZE! VAZE!

COVIL DE COBRAS
NO LEGISLATIVO,
QUE NÃO AJUDA
AQUELE QUE PADECE.
PARA ELES FODA-SE O COLETIVO,
MAIS UM SALÁRIO
ACHAM QUE MERECEM.

DEMOCRACIA
REPRESENTATIVA
QUE NÃO OUVE A VOZ
DO NOSSO POVO,
NO TEU PRESENTE
SÓ VEJO AVAREZA.

QUE REFORMADA!
OUÇA O ÍNDIO
E A MULHER
QUE AQUI BATALHA.
FAVELAS, MORROS
GRITAM NO BRASIL
VAZA! VAZA!
SER VIL.

O RAP É O HINO QUE NOS MANTÊM VIVOS (II)

O POBRE CIDADÃO
NÃO TEM CONVÊNIO
E TEM QUE RECORRER
AO HOSPITAL PÚBLICO.
PRECÁRIO, POIS FALTOU INVESTIMENTO,
SUA QUALIDADE
É DO TERCEIRO MUNDO.

MAS IMPERA
A CORRIDA
PELO STATUS, GRANA,
JÓIAS COM FULGORES.
ENQUANTO EM PRATOS
FALTA COMIDA
E O DESCASO AUMENTA
JUNTO COM AS DORES.

ESCÓRIA ARMADA
E CRIMINOSA.
VAZE! VAZE!

HOMOFÓBICO,
RACISTA E CRETINO,
SENTADO NA CADEIRA DO SENADO,
QUE QUANDO FALA PROFERE A FÓRMULA
PARA QUEM QUISER
SE TORNAR UM OTÁRIO.

QUE OS QUE LUTAM
POR JUSTIÇA SEJAM FORTES,
NÃO PERCAM SUAS VIDAS
NA LABUTA,
NÃO ENTREGUEM O DESTINO
SÓ À SORTE.

REVOLUCIONÁRIA!
É A PERIFERIA
QUE TODO DIA
AQUI BATALHA.
FAVELAS, MORROS
GRITAM NO BRASIL
VAZA! VAZA!
SER VIL.

PROVOCANTE

ELA SUSSURRAVA INDECÊNCIAS
ENQUANTO EU LENTAMENTE
TIRAVA SUA CALCINHA.

E AGORA? ELA PERGUNTOU.

MINHA RESPOSTA JÁ ESTAVA
NA PONTA DA LÍNGUA.

SE

SE OLHAR
SE ENCANTAR
SE CONVERSAR
SE BEIJAR
SE EXCITAR
SE APAIXONAR
SE AMOR
SE XO

Meu sonho é ser eu se eu nao fosse eu.

o medo de dar
o primeiro passo
me impede de tentar.

se eu cair
nos teus lábios
você vai me segurar?

nos grandes
lábios

o brilho

sabor
libido

DESEJO INCONTIDO

A CAMA GRITA RUÍDOS,
E SUAS PERNAS TREMEM.
NÃO SUPORTA TAMANHA LIBIDO:
AS ESTRUTURAS CEDEM.

OUTONO ELEITORAL

O VENTO SOPRA FRIO
E AS FOLHAS CAEM
NA RUA E NO MEIO-FIO,
O CHÃO CINZA SE ESVAI.

INDIGESTÃO

há quem
come com os olhos

e digere com o intestino
que substitui o cérebro

pela boca
libera os dejetos

SER MARGINAL

NA POETIZAÇÃO:
A REALIDADE
EM EBULIÇÃO.

NO GRAFITE:
UMA AQUARELA
DE SUBVERSÃO.

SER MARGINAL
É GRITAR (COMO E) PELO OPRIMIDO
E INCITÁ-LO À AÇÃO.

ARTEANDO FOGO

MUROS COLORIDOS,
PREENCHIDOS COM ARTE:
REFLEXIVAS, DE COMBATE,
ILUSTRANDO A CIDADE.

GRAFITAR, SE ESGUEIRAR,
ARTEAR FOGO COM TINTA
NA POLUIÇÃO VISUAL
DA PAISAGEM PROPAGANDISTA.

óleo sobre
(t)ela

pintura
a dedo

entre
as pernas

gosto de me aventurar
mergulhando
em pessoas profundas

à procura de poesia.

boiando em superfícies
morro afogado
na monotonia.