Cláudio Cordeiro
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A verdade é uma dívida da luz para com o amor.
Daria os olhos ao mundo 
se me fosse dado a beber da realidade.
Sou filho da minha própria atmosfera.
Hei de descobrir se
nos teus olhos moram 
todas as borboletas do mundo.
O que é o mar?
O mar é olhar para ti
como se toda a água 
descendesse dos teus olhos
Sou de um tempo em que nem as palavras tinham nome.
Para todas as palavras, tenho dois beijos de letras.
A escuridão é a luz da tristeza.
PÁGINA DE SEDE
Cavo nesta página de sede
o grito de um corpo em sedenta fúria.
A página branca produz um ruído branco
com a palavra nada.
O meu lugar no mundo
é um templo nulo.
Por vezes a minha boca
é uma palavra oca.
Sou a página fria
de um vasto deserto: a Vida!
Tenho medo de ter a sede 
do mundo nos meus braços.
A vida dos 
meus sonhos encontra-se 
no coração dos meus olhos.
A vida é 
apenas um momento, 
de terra e esperança.
A verdade é a feliz coincidência 
entre o ser humano e a existência.
A espuma da eternidade
é uma gaivota perdida
num mundo de esquecimento.
Ah,
tão perfeita és,
a mais flor do mundo.
Sou o nada anónimo de ninguém.
PALAVRAS DE SILÊNCIO 
Digamos que é admirável
o silêncio das pedras extintas.
Digamos que a lama 
é uma chuva de palavras irreprimíveis.
Estas são as águas correntes na nebulosa
da vida. Rios nocturnos que morrem
eternamente na secreta sombra.
Já sei que vou morrer mesmo.
O meu corpo absorve o silêncio
celeste de uma memória de flores
que vagueiam as ruínas da alma.
Vou morrer! Paciência...
Alguém me traga um cavalo.
Quero sair daqui a galope.
Quando te olho nos olhos
afundo-me nos meus sonhos.
Não duvides da palavra!
Viver é um verbo divino.
Para ser feliz
é preciso morrer
todas as noites e
renascer todos os dias.
Sou filho de deus, 
mas vivo no inferno.
Morrer é indispensável à vida.
O Homem é um ser impensável.
Nada do que é pode perecer.
O meu coração é um verbo que arde sem pensar.