Charles Bukowski

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Estava deprimido, bem, deprimido não, mas estava desanimado com a estrutura toda, o jogo todo, a vida toda.

A dor chega, BANG, e eis que ela te atinge. É real. E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido. Como se te tornasses, de repente, num idiota.

Eu estava instalado no vazio.

Os dois principais objetivos da vida, afinal, eram evitar a dor e dormir bem, estou certo?

Agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona

enquanto as sombras assumem
formas

combato retirando-me
lentamente

agora
minha antiga promessa
definha
definha

agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas

tem sido um belo
combate

ainda
é!

Deitei na cama, abri a garrafa, dobrei o travesseiro nas costas para ter um bom apoio, respirei fundo e sentei na escuridão olhado a janela. Era a primeira vez que eu estava sozinho em cinco dias. Eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia. A escuridão do quarto era como um dia ensolarado pra mim.

Às vezes você só precisa mijar na pia.

Já se deu conta
de que se eu fosse uma calculadora
eu poderia entrar em pane
registrando
as infinitas vezes que você usou
esse olhar castanho-claro?

Eu não gostava de festas. Eu não sabia dançar, e as pessoas me assustavam, especialmente as pessoas em festas. Elas tentavam ser atraentes e alegres e espirituosas e, embora esperassem exercer bem todas essas funções, fracassavam. Elas não eram boas nisso. O fato de tentarem com tamanho afinco só piorava as coisas.

Era um homem feio, com cicatrizes no rosto, mas lindo se você olhasse pra ele tempo suficiente - alguma coisa em seus olhos, no seu estilo, sua coragem, sua obstinada solidão.

As festas me deixavam doente. Detestava as falsas aparências, os jogos sujos, os namoricos, os bêbados amadores e os chatos. Como solitário, eu não suportava invasões. Isto não tinha nada a ver com ciúmes, simplesmente não gostava de pessoas, multidões, onde quer que fosse, exceto nas minhas leituras. As pessoas diminuíam-me e deixavam-me sem ar.

Às vezes você vive e fica com uma mulher e não tem ideia real do porquê.
Com ela eu sabia: era o simples, fascinante,
inexorável mistério e terror
de ela ser assim

É nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa.

Eu tinha talento, tenho talento. Às vezes olhava minhas mãos e compreendia que podia ter sido um grande pianista. Mas o que tinham feito minhas mãos? Coçado o saco, preenchido cheques, amarrado cadarços, puxado descargas de banheiro etc. Desperdicei minhas mãos. E minha mente.

moças
por favor doem
seus corpos e suas
vidas
para os jovens homens
que as merecem

além disso
não haveria jeito
de eu ser capaz de
dar boas vindas
ao intolerável

tedioso e
sem sentido INFERNO
que vocês trariam
pra minha vida.

E
eu vos desejo
sorte na cama
e fora
dela.

Mas não
na
minha.

Obrigado.

Não deixe as pessoas serem seu alicerce, elas são uma aposta ruim, a pior aposta que você pode fazer.

E você me inventou e eu inventei você e é por isso que nós não damos mais certo.

Enquanto víamos os combates, fizeram uma ligação direta.Eu costumava dizer: "Leva a minha mulher, mas deixa o meu carro em paz". Não mataria nunca um homem que me levasse a mulher, mas talvez matasse o homem que me levasse o carro.

Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la.

Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.

Tenho lido os filósofos. São uns caras realmente estranhos, engraçados e loucos. Jogadores. Descartes veio e disse: é pura bobagem o que esses caras estão falando. Disse que a matemática era o modelo da verdade absoluta e óbvia. Mecanismo. Então, Hume veio com seu ataque à validade do conhecimento cientifico causal. E depois veio Kierkegaard: ‘Enfio meu dedo na existência – não tem cheiro de nada. Onde estou?’. E depois veio Sartre, que sustentava que a existência é absurda. Adoro esses caras. Embalam o mundo. Será que tinham dor de cabeça por pensar dessa forma? será que uma torrente de escuridão rugia entre seus dentes? Quando você pega homens como esses e os compara aos homens que vejo caminhando nas ruas ou comendo em cafés ou aparecendo na tela da TV, a diferença é tão grande que alguma coisa se contorce dentro de mim, me chutando as tripas.

Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada.

Charles Bukowski
O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio. Porto Alegre: L&PM, 2003.

Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente. Mas a maioria das pessoas fica paralisada de medo. Elas tem tanto medo do fracasso que acabam fracassando. Estão condicionadas demais, acostumadas demais que digam o que devem fazer. Começa com a família, passa pela escola e entra no mundo dos negócios.

Às vezes, não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos. Tudo muda. Você está vivo. Você está morto. E as coisas continuam.
Somos finos como papel. Existimos por acaso entre as percentagens, temporariamente. E está é a melhor e a pior parte, o fator temporal. E não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a si mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado. Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos.

Inserida por misaelmissao

“Eu quero estar com você, é tão simples e tão complicado assim."