Cesare Pavese

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O que conta para um artista não é a «experiência», é a experiência interior.

Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar uma compensação. É tudo uma questão de mercado.

Não é bom ser criança: bom é, quando somos velhos, pensar em quando éramos crianças.

A ofensa mais atroz que se pode fazer a um homem é negar-lhe que sofra.

É estupidez entristecermo-nos pela perda de uma companhia: podíamos nunca ter encontrado essa pessoa, portanto, podemos dispensá-la.

O louco tem inimigos. O sonhador tem-se apenas a si próprio.

Uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Porém, uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um homem são e reduze-o a um farrapo. Sempre consegue.

Sofrer não serve para nada / Sofrer limita a eficiência espiritual / Sofrer é sempre culpa nossa / Sofrer é uma fraqueza.

Porque é desaconselhável perder a cabeça? Porque, então, se é sincero.

Uma só criatura ensina mais do que cem.

A morte é o repouso, mas o pensamento da morte é o perturbador de todo o repouso.

Deem uma companhia ao solitário e ele falará mais do que qualquer pessoa.

Odeiam-se os outros porque se odeia a si mesmo.

O ócio torna as horas lentas e os anos velozes. A atividade torna as horas rápidas e os anos lentos.

Os suicídios são homicídios tímidos. Masoquismo em vez de sadismo.

Existe algo mais triste do que envelhecer: permanecer criança.

Toda a arte é um problema de equilíbrio entre dois opostos.

Aquele que não tem ciúmes, até mesmo das calcinhas da bem-amada, não está apaixonado.

A verdadeira solidão, isto é, aquela que faz sofrer, traz consigo o desejo de matar.

Os lugares onde foste feliz, tornam-se inabitáveis

Esperar é ainda uma ocupação.
Terrível é não ter nada que esperar.

Disciplina Antiga

Os que bebem não sabem falar às mulheres,se perderam de tudo, e ninguém os aceita.
Andam lentos na rua, e as ruas e postes não têm fim.
Alguns deles dão giros mais longos, mas não há o que temer:amanhã eles voltam para casa.
O que bebe imagina que está com mulheres-como postes à noite são sempre os mesmos, assim as mulheres são sempre as mesmas-; nenhuma o escuta.
Mas o bêbado tenta, e as mulheres não o querem.
As mulheres, que riem, conhecem de cor suas palavras.
Por que riem assim as mulheres ou gritam, se choram?
O homem bêbado quer e deseja uma bêbada que o ouvisse calada. Mas elas o atiçam:"Para ter esse filho, é preciso contar com a gente."
O homem bêbado abraça-se ao bêbado amigo que esta noite é seu filho, nascido sem elas.
Como pode umazinha que chora e que grita dar-lhe um filho amigo? Se aquele é um bêbado, não recorda as mulheres no andar inseguro, e esses dois perambulam em paz. O filhinho que conta não nasceu de mulher- pois seria mulher também ele. Caminha com o pai e conversa:toda a noite iluminam-lhe os passos os postes.

Não nos lembramos de dias, lembramo-nos de momentos.

Il est beau d'écrire parce que cela réunit les deux joies: parler seul et parler à une foule.

Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De fato, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuoso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um filme que parasse de repente, estupefata, mas não emocionada.

Cesare Pavese, in O ofício de viver