Avante
Andei mais de 1500km,
e ainda continuo no mesmo lugar.
Não sei se é porque não reparei no percurso e me enganaram fazendo a volta,
ou se não importa aonde custo desejar chegar, sempre acabo no mesmo lugar.
Certas pessoas não valem a pena serem lembradas,
nem para dizer em uma conversa atoa
que elas mal são lembradas.
Se você não ama aquilo que você chama de defeito,
então você não ama na realidade, na realidade.
Você ama esta imagem idealizada
do que pode vir a ser,
desenvolvida em sua cabeça.
E isso,
meu caro,
é deveras triste;
para você,
para o objeto ou pessoa em questão
e para seu presente.
Pare, panela boba, não faça isso. Essa ausência que tu sentes já não pode ser completada com qualquer tampa que queiras.
E quem sou eu pra desafiar a gravidade?
Sempre que pode me passa a perna, me leva ao chão,
assim, de sopetão.
E me dizem que não é por maldade.
E o tempo não lembrou que hoje fazia aniversário.
Vítima de si mesmo, sua vida acabou caída no esquecimento.
O carrosel vomitou após tanto andar em círculos,
A roda gigante já não funciona com medo de um dia cair.
E brincando de ser feliz, a baleia se encantava com o cavalo-marinho.
De fato, curioso casal, de semelhança só a solidão
E entre ostras e corais, mostravam o quão estavam maravilhados.
Porém, com a vinda de uma fria corrente d'água, escolheram o nada pertinente
mas de longe a decisão mais célere e trivial de cada mente:
Deixaram que as ondas os afastassem, aceitaram viver separados.
Bem dizem que o oceano antepõe se alimentar de escuridão.
E as águas lavaram o pequeno conto, coisa frequente no mundo submarino.
Desde a origem de nossa existência estamos conectados a um ser que nos nutre, protege, zela e trás animosidade, que é a nossa mãe.
Ali, dentro, no útero, somos Uno com ela, com a vida que nos trás vida e ali não há dúvidas que Somos.
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Porém, com o nascimento e o desprendimento de nossa conexão umbilical materna, nos separamos, nos dividimos em dois seres distinto, e sentimos aquela ausência, um vazio, uma urgência em buscar algo além de nós. Essa passagem se faz necessária para a entrada nesse plano terrestre e é o que dá início a nossa constante busca por coisas, pessoas e filosofias que preencham a conexão que foi perdida com o nascimento.
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A maioria de nós tenta substituir essa ausência dentro de relacionamentos românticos, já que as projeções que idealizamos de um parceire ideal acabam suprindo temporariamente as necessidades emocionais e físicas. E essa pessoa, humana, comum, acaba se tornando um ser incrível, capaz de nos salvar de nosso vazio existencial.
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E, embebidos pelo amor, não mais vemos o outro como alguém passível a erros, um ser individualizado, que pensa, age e sente com base em sua própria vontade e liberdade. Não, ele deve corresponder às minhas exigências, a minha Alma Gêmea tem que me trazer felicidade. E com isso, geram-se as DR's, desencantos, mágoas e separações. E vamos mais uma vez na busca do ser amado, várias e várias vezes.
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Mas, essa conexão que tanto buscamos no outro só podemos encontrar quando direcionamos essa busca a Deus. Somente quando depositamos a nossa existência, a nossa devoção e gratidão a esse Ser Supremo, é que voltamos a nos sentir conectados com Ele e toda a vida.
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Muitas pessoas esquecem ou mesmo negam a existência de Deus. E essas passam a vida procurando essa conexão por meio de coisas materiais, como dinheiro, posses, postos ambiciosos, sexo, drogas, família, dentre outros vícios. E, inconscientemente, fazem dessa busca incessante a sua obsessão diária de desejo, apego e necessidade de "arrumar" algo/alguém. A busca se torna um ritual voltado saciar a vontade de conexão com esse deus-matéria, até o momento que não consegue o que se quer e cai em sofrimento.
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Existem outros que reconhecem que é necessário buscar essa espiritualidade que tanto se fala nas religiões, centros e comunidades holísticas. Mas, acabam esquecendo que não nos aproximamos mais de Deus só porque fazemos determinada coisa tida como espiritual, ou porque estamos em determinado ambiente e doutrina.
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E com isso, a busca pela conexão por Deus acaba sendo depositada nessas práticas espirituais, como se uma prática de Yoga o aproximasse mais d'Ele, ou o ato de rezar horas a fios por perdão, ou receber seus guias numa gira, ou consagrar Daime e rapé dentro de um ritual xamânico. E, sutilmente, a prática espiritual que deveria ser uma ferramenta que auxilia na caminhada do homem rumo ao seu divino, acaba se tornando a sua vaidade, o seu vício, o seu consumo e a sua obsessão. E quando chegar o dia em que o centro, a religião ou a prática não mais trazer os prazeres ao ego, é o momento de abandonar tudo, entrar em crise e desacreditar de tudo o que foi desenvolvido até ali.
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Há muitas armadilhas dentro desse mundo, pois a partir do momento em que nos desconectamos de nossas mães, procuramos essa conexão com tudo aquilo que traga um sentimento próximo ao original, mas que quase nunca é depositado no lugar certo, da forma correta.
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Primeiramente devemos entender que Deus é a existência que permeia a tudo e a todos. É a vida que pulsa em nossas veias, que cresce nas florestas e que hidrata a todos os seres que habitam a terra. É a grande consciência que arquiteta a realidade e permite que a modificamos. Para uns, esse ser divino e supremo é o Pai, a origem, o início do Big Bang. Para mim, prefiro pensar que se trata da energia de Amor. Mas não esse amor romântico, condicional e egoísta no qual reproduzimos e vemos nos filmes. É o amor que une as coisas, interconecta histórias, seres e faz com que todos tenham seu lugar dentro da Teia da Vida. Esse é o Amor, esse é Deus.
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E, por mais que estamos viciados a buscar essa conexão com esse Amor olhando para o exterior, devemos primeiro olhar pra dentro e perceber Ele em nossa consciência, o amor dele por nós a partir de nosso coração pulsando, a partir de nossa vida.
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Isso não impede ou se opõe à ideia de irmos em busca de relacionamentos, de dinheiro e posses que sustentam a nossa vida em sociedade, de cedermos vez ou outra a prazeres materiais, de construirmos uma família ou nos dedicarmos à práticas de religação com a espiritualidade. A diferença é que, conscientes que toda a vida só existe por que Deus é a vida, esse amor que vos descrevi, não depositaremos mais a nossa devoção em nada que não seja o próprio Deus, à própria vida e o próprio Amor.
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Assim, mesmo quando algo não está sendo atendido como queríamos (ego), mesmo tendo um dia ruim, mesmo sofrendo com algum término, falecimento ou doença, passamos a agradecer. Pois, ainda que em nossa pequenina percepção da realidade terrena e humana, reconhecemos que ainda estamos aqui, vivos, num dia com infinitas possibilidades. E que isso tudo só é possível por causa dele.
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E, nas palavras do Caboclo Treme Terra, encerro esse texto:
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"O pouco com Deus é muito,
mas o muito sem Deus não é nada."
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Por isso, apesar de tudo, agradeça e volte a se reconectar ao seu útero interior. Volte a sentir e perceber o Amor de Deus.
Ainda que o dia amanheça
Entre nuvens e na incerteza,
Permaneça em sua beleza
É difícil criar forças
A partir de um solo árido e escasso.
(Torças que a chuva apresse seu passo)
Mas não depende tanto do ambiente
Para que a gente ganhe ciência.
A semente deve mostrar sempre a sua potência.
Não importa se está em boa companhia
Ou ao lado de urubus e hienas.
Noite após dia, cresça as suas penas.
A maldade e a ignorância só dá passagem
Quando ignoramos nossa intuição
Mensagem que alerta medo, dor e poluição.
Dê tempo para se recuperar
Mesmo que pareça ir contra seus apoiadores
Superar seus obstáculos para lidar com bajuladores
A verdade é amarga,
Mas se puder engolir, é medicina.
Larga o medo de desagradar e assuma sua sina.
O inverno só dura o tempo necessário.
Quantas vezes insistimos em permanecer no erro, já que o erro é o único referencial cômodo que temos.
O quanto ser vulnerável é dolorido, descabido.
Ao invés da exposição e da expressão, preferimos dizer "agora não" e nunca tocar no profundo do que precisa ser dito, revisitado e amado.
É no isolamento que nos consertamos individualmente, mas é somente em conjunto que construímos algo totalmente novo, que não é nem meu, nem seu.
Formamos o nosso, laço dado, remendado, que nenhum ego sai sobreposto.
Até quando iremos nos separar para sentirmo-nos completos?
Quantos de nós já confundimos desejo com conexão?
Já parou para refletir as vezes que conversou com alguém, trocou umas figurinhas e achou que somente isso os faziam estar conectados?
Com a vinda da Internet, utilizamos cada vez mais a palavra CONEXÃO para se referir somente a estar trocando informação de forma virtual, mas está longe disso ser a conexão que de fato compreendemos e buscamos.
Para haver uma conexão é preciso que haja dois indivíduos interessados, sensíveis e abertos a dar e receber do outro. Ou seja, um COM-PARTILHAR.
É um processo de retroalimentação quase que diário, onde mesmo que de forma silenciosa e indireta, um acaba nutrindo o outro.
Até aí tudo bem, compreendemos que são essas conexões que formam as amizades, os relacionamentos e laços profundos, e percebemos que o compartir não é somente uma vontade, mas uma necessidade de todo ser social.
Mas o bicho pega quando somente um dos lados é o interessado em trocar e dar, esperando ansiosamente em receber do outro. Mas nos meios virtuais é comum confundir atenção e educação com conexão.
Ou pior, trocar o amor próprio por migalhas alheias.
Mas entendam: quando o outro não está a fim de receber o que temos a oferecer, precisamos aceitar, focar no amor e seguir. A empatia, que é o estado de estar sensível ao outro, tem que vir de ambos os lados. E está tudo bem se um sente e outro não. Só não podemos esquecer que conexão demanda mais tempo que um like e uma carinha amorosa 🥰
Conexão demanda cor-ação, manutenção e retorno com intenção em querer continuar envolvido com o outro.
Conexão nunca dependerá de UM forçando, mas de DOIS seres permissíveis e abertos a existirem e se ajudarem a evoluir, na forma suave ou intensa que tem que ser.
Então, bora oferecer o nosso melhor mamão pro amiguinho sem esperar que ele dê a mão em troca. O estar aberto já está aí na sua intenção, só é preciso esperar que o outro deseje e se abra para te receber também.
Amar é isso, ser porta aberta, ser convite, ser tapete de boas vindas, mesmo que não venha ninguém naquele dia.
E conexão tem tudo haver com a paixão, aquela fantasia que jogamos em cima do amor sereno, mas isso é papo pra outra história.
Nem tudo é sobre nós.
Aliás, as coisas que pensamos ser de grande importância não é menos do que um grão de areia no deserto alheio.
A gente que é acumulador de problemas, de traumas, de ambições, decepções e síndromes de grandeza.
Não somos mais que uma foto, uma memória de um momento feliz ou descabido.
Nunca saímos por detrás das lentes do julgamento, e por isso, não somos realmente vistos.
E ainda sim, continuamos buscando por aprovação, compreensão e compartilhamento.
Mas também não enxergamos o outro, porque criamos no decorrer do tempo nossas próprias lentes também, que nos protegem e nos contam belas mentiras através de filtros coloridos e sorrisos.
Mas e a verdade, onde mora?
Mora no que sinto, no que pressinto? Mora no dia-a-dia, no simples e comum a todo ser humano? Ou a verdade é aquilo que pega as minhas certezas e destrói com um simples toque?
Não importa, amanhã já estarei com outros devaneios, anseios e urgências que me farão acreditar mais uma vez que o mundo a mim pertence, e o que acredito é o que de mais real possuo.
A vida é um pouco disso eu acho, de se encontrar e se perder a todo momento, pois é nesses períodos "entre" alguma e outra que nos conectamos com o que é real. Que é, simplesmente. Mesmo que dure pouquíssimo tempo, é o tipo de lugar que sempre gostaria de me reencontrar.