Affonso Romano de SantAnna

Encontrados 3 pensamentos de Affonso Romano de SantAnna

Deixa que eu te ame em silêncio.

Não pergunte, não se explique, deixe

que nossas línguas se toquem, e as bocas

e a pele

falem seus líquidos desejos.

Deixa que eu te ame sem palavras

a não ser aquelas que na lembrança ficarão

pulsando para sempre

como se amor e vida

fossem um discurso

de impronunciáveis emoções.

"Sei que a verdade é difícil, e para alguns é cara e escura. Mas não se chega à verdade pela mentira, nem à Democracia pela ditadura" ("A Implosão de Mentir")

Catar os cacos do caos, como quem cata no deserto
o cacto - como se fosse flor.
Catar os restos e ossos da utopia, como de porta em porta
o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo se aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.

Catar a verdade contida em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas, no pêlo - do dia cão.

Recortar o sentido, como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionisio e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido, pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer o fígado - como era antes.

Catar palavras cortantes no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça? Então de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada deixar gravada a emoção

Cacos de mim, Cacos do não, Cacos do sim, Cacos do antes
Cacos do fim

Não é dentro nem fora, embora seja dentro e fora
no nunca e a toda hora, que violento o sentido nos deflora.

Catar os cacos do presente e outrora e enfrentar a noite
com o vitral da aurora

Inserida por Marialins