Às Vezes
O hábito é que me faz suportar a vida. Às vezes acordo com este grito: - A morte! A morte! - e debalde arredo o estúpido aguilhão. Choro sobre mim mesmo como sobre um sepulcro vazio. Oh! Como a vida pesa, como este único minuto com a morte pela eternidade pesa! Como a vida esplêndida é aborrecida e inútil! Não se passa nada, não se passa nada. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. O tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas.
Ao analisar os fatos históricos, evita ser profundo, pois muitas vezes as causas são bastante superficiais.
É verdade que, por vezes, os militares, exagerando da impotência relativa da inteligência, descuram servir-se dela.
Os homens, para não desagradarem aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os bons, a quem respeitam.
Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.
Na maior parte das vezes, uma ideia nova não passa duma banalidade, velha como o mundo, de cuja realidade nos apercebemos subitamente.
As opiniões comuns passam sem exame. Na maioria das vezes não as admitiríamos se lhes prestássemos atenção.
Muitas vezes as objeções nascem do simples fato de que aqueles que as fazem não são os mesmos que tiveram a ideia que estão a atacar.
Se é difícil impedir de pensar os povos que se acostumaram a isso, é cem vezes mais difícil forçar a pensar os que o esqueceram ou desaprenderam.
Por vezes o entendimento descontrai-se para que a esperança se divirta com o que a imaginação sonha.
A existência é feita de tal maneira que, muitas vezes, os pequeninos acasos trazem as grandes catástrofes.
