Às Vezes
A memória é muitas vezes a qualidade da estupidez; ela caracteriza geralmente os espíritos pesados, os quais torna ainda mais pesados, mercê da bagagem com que os sobrecarrega.
Não há homem, por santo e virtuoso que seja, que não se sinta por vezes cocegado pelos atractivos do pecado.
Às vezes desperdiçamo-nos: o nosso verdadeiro desejo é deixar de viver exclusivamente para nós próprios.
Muitas vezes as objeções nascem do simples fato de que aqueles que as fazem não são os mesmos que tiveram a ideia que estão a atacar.
Se é difícil impedir de pensar os povos que se acostumaram a isso, é cem vezes mais difícil forçar a pensar os que o esqueceram ou desaprenderam.
Por vezes o entendimento descontrai-se para que a esperança se divirta com o que a imaginação sonha.
A existência é feita de tal maneira que, muitas vezes, os pequeninos acasos trazem as grandes catástrofes.
Na maior parte das vezes, uma ideia nova não passa duma banalidade, velha como o mundo, de cuja realidade nos apercebemos subitamente.
As opiniões comuns passam sem exame. Na maioria das vezes não as admitiríamos se lhes prestássemos atenção.
Há certas horas, em que não precisamos de um amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijo na boca...
E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...
Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado...
Sem nada dizer...
Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...
Alguém que ria de nossas piadas sem graça...
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...
E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade
inquestionável...
Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:
Acho que você está errado, mas estou do seu lado...
Ou alguém que apenas diga:
Sou seu amor! E estou aqui!
Mesmo quando você não sabe para onde vai, ajuda saber que você não está indo sozinha. Ninguém tem todas as respostas. Às vezes, o melhor que podemos fazer é pedir desculpas, e deixar o passado no passado. Outras vezes, precisamos olhar para o futuro e saber que, mesmo quando achamos que vimos de tudo, a vida ainda pode nos surpreender, e ainda podemos surpreender a nós mesmos.