Amor, Edgar Allan Poe
Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.
Alguma coisa no amor sem egoísmo e abnegado de um animal atinge a alma dos que já experimentaram o erro, a fragilidade, a fidelidade de afeição do simples homem.
Existe algo no amor desinteressado e abnegado de um animal que chega diretamente ao coração daquele que já teve ocasiões frequentes de testar a amizade mesquinha e a fidelidade frágil do simples Homem.
Fantasias como essas que se apresentavam à noite prolongavam sua terrível influência sobre muitas das minhas horas de vigília.
Há um momento que, mesmo aos olhos sóbrios da Razão, o mundo de nossa triste Humanidade pode assumir a aparência de um inferno.
Pintávamos e líamos juntos, ou eu escutava, como em um sonho, os delirantes improvisos de sua expressiva guitarra.
Anos de amor foram esquecidos no ódio de um minuto.
Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho.
Nota: Trecho do poema "Só".
Só
Desde a infância eu tenho sido
Diferente d'outros – tenho visto
D'outro modo – minhas paixões
Tinham uma outra fonte e
Minhas mágoas outra origem -
No mesmo tom não despertava
O meu coração para a alegria -
O que amei – eu amei só.
Então – na infância – a aurora
Da vida atormentada – estava
Em cada nicho de bem e mal
O mistério que me prendia -
Da correnteza, da fonte -
Da escarpas rubras do monte -
Do sol que me rodeava
Em pleno outono dourado -
Do relâmpago nos céus
Quando sobre mim passava -
Do trovão, da tormenta -
E a nuvem tem a forma
(Quando o resto do céu é azul)
D'um demônio aos meus olhos.
Creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem
Só
Na infância, não fui como os outros
e nunca vi como outros viam.
As minhas paixões, não me vinham
de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que despertava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, no alvor
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demónio, ante meus olhos.