Amiga Mensagem Ana Maria Braga
Muito Tarde -
Já era tarde, muito tarde,
quando a solidão me abandonou,
era noite, madugada e a saudade
fez de mim quem hoje sou!
Já era tarde, muito tarde
quando a revolta se calou
passou o tempo e a idade
mas a calma não chegou ...
Não sou mais do que a lonjura que me habita
neste passo de silêncio em agreste solidão,
que avança, dia a dia, que me fala, que me grita!
Era tarde para amar neste precipício de saudade!
E a morte enfim chegou! Parou meu coração!
Era noite, madrugada, era tarde, muito tarde ...
Eu vi minha Avó -
Eu vi minha avó chorando
aos pés da virgem Santa
e vi a santa deixando
nos seus olhos nova esperança.
Eu vi minha avó secando
suas lágrimas de dor
nas estrelas fixas do manto
da virgem cheia de amor.
Eu vi minha avó pedindo
mirando o rosto de Maria
e a virgem Santa, ouvindo
as rezas que ela tecia.
Eu vi minha avó partindo,
serena, pela estrada,
ia ao encontro, sorrindo,
da Senhora da Orada.
Estranhas Mágoas -
Ó poeta exasperado numa mágoa adormecida
que estranha solidão te adorna a fria fronte?!
Talvez seja a dor dos versos, consentida
em teu corpo, de onde jorram como fonte!
Os teus olhos são janelas de amargura
de onde espreitam cansaços, solidões,
teus olhos são negros, chorando, que loucura,
procurando amar na raiz dos corações.
Poeta! Este mundo não é teu ...
Não queiras fazer dele o que não é,
aceita aquilo que esta vida não te deu!
Aceita que o amor te vem apenas da cabeça,
acredita que p'ra ti não há outro real, perde a fé
e aguarda que um dia a vida te adormeça!
Aceita a Vida -
Quando a vida está cansada
dá-lhe espaço p'ra te ver
porque a alma vem do nada
exausta de sofrer.
Onde há dor e amargura
só há luto e solidão
não há espaço p'ra ternura
nem lugar p'ro coração.
Não te esqueças que é loucura
insistir no que não deu
dar valor ao que não dura
é viver do que morreu.
Esquece os sonhos que perdeste
acredita no que virá
esquece a vida que não tiveste
e aceita aquilo que ela dá.
Pequena Ode à Solidão -
Ó tristeza! Ó miséria!
Tudo o que fui e ainda sou ...
Alguém que chegou e não sorriu.
Que partiu e não voltou.
Sonhos proibidos - então -
homens ocultos, dores em vão ...
Noites sem vida - diz quem viu!
Dias vazios, calados, sem água ...
Iguais às noites, iguais aos dias,
distantes do possivel - como cal -,
do eterno, do real!
E vós - ausentes, perdidos também-
fingindo- mas sós ... tão sós ...
Apátrida -
Trago a vida de um vencido
neste corpo de mortal
um sonho em vão, perdido,
de ser alguém em Portugal!
Nunca fui - qu'importa tal?!
Porém, desde o berço até à morte,
ser poeta, triste sorte,
de um povo que me quer mal ...
E o que fazer ao que sonhei?!
Guardar no coração - talvez!
Destino ou maldição - não sei!
É expectativa despojada!
É dor que ninguém vê
numa voz indesejada ...
Quadrantes -
Trago a a alma quase morta
na raiz do pensamento
de palavras e revolta
num rimar de sofrimento.
Trago a vida indiferente
- sem ternuras nem amor -
aos olhares desta gente
que me deram tanta dor.
Trago em mim tantos cansaços!
Silêncio triste que me arrasta
na ausência dos teus braços ...
Trago em mim o que sonhei,
o que sonhei e nunca tive
e o que tive mas não dei!
Queixas de um Mendigo -
Sou um grito de revolta
na voz de um condenado
um passaro sem rota
um mendigo desprezado.
Sou a cal da sepultura
no enterro da solidão
alguém morto, sem ternura
esquecido num caixão.
O dia quente que morreu
a noite fria que chegou
mataram quem esqueceu
de esquecer o que chorou.
Foi em vão a minha vida
foi em vão acreditar
foi minh'Alma proibida
da alegria de sonhar!
Amor Inútil -
Meu amor porque partiste
meu amor tu nem sentiste
quanta dor ficou em mim,
meu amor porque fugiste
nem de mim te despediste
hei-de amar-te até ao fim.
Sou aquele que te escreve
que te ama, que se atreve
a procurar teu coração,
meu amor a vida é breve
meu amor tão ao de leve
me deixaste sem razão.
Ainda assim por ti esperei
foste tu a quem me dei
sou um grito de saudade,
meu amor não morrerei
sem dizer quanto te amei
no silêncio da cidade.
Sozinho -
Ando na vida sozinho,
à deriva, como um louco,
meu olhar, coitadinho,
do destino sabe pouco.
Ando na vida sem assento,
por capricho ou solidão,
estou vencido, não há tempo,
meu cansado coração.
Ando na vida sem rumo,
à procura de um caminho,
estou perdido mas assumo,
anďo na vida sozinho!
Miragem de Morrer -
Hoje o dia está cansado
dos meus versos de saudade,
oiço um canto, é um fado
e há silêncio na cidade.
Hoje a noite está perdida
em palavras de amargura
e minh'Alma tão esquecida
no passar da noite escura.
Hoje a morte é só miragem!
P'ra quem tem sorte de morrer
a vida é triste imagem
na vontade de viver ...
Meu destino, nao ter casa,
foi a vida a que me dei,
hoje sinto, não sou nada,
porque o sinto eu nao sei!
De Poema em Poema -
Fui de poema em poema
à procura da razão
que me fazia ter por tema
a dor, a morte e a solidão.
Mas os versos não sabiam
o porquê dessa loucura,
só falavam, só diziam,
sempre cheios de amargura.
Digo aos gritos sem pudor
que meus versos são um pranto!
Mas o porquê de tanta dor,
tanta morte no seu canto?!
Talvez devesse procurar
a razão dessa agonia,
não nos versos, a chorar,
mas em mim, no dia a dia...
Teus -
Teus olhos, meu amor,
dois dolentes madrigais
que me inebriam de pavor
por não saber aonde vais!
Teus lábios, meu amor,
duas rosas em botão
que secam ao calor
no canteiro do coração!
Teus versos, meu amor,
são os ecos do agoiro
de um agoiro bem maior!
E teus cabelos, meu thesoiro,
os cordões da minha dor,
mais finos que o fio de oiro!
Conversa Fiada -
Não me venhas com conversas
que eu já não te quero amar
só quero que tu me esqueças
que eu vou p'la vida a cantar.
Aqueles versos que me deste
faziam tantas promessas
os versos que tu fizeste
rasguei-os ontem à pressa.
Talvez te lembres dos meus olhos
chorando por não te ver
agora choram aos molhos
só já te querem esquecer.
Só tenho mágoa no meu peito
por não te ver como eras
agora é tudo ao meu jeito
só quero que tu me esqueças.
Cautelosa e Serena -
Quando a morte vier
cautelosa e serena
haverá luto e solidão
no sentir de quem souber
que o seu toque deixa pena
no pulsar do coração!
Quando a morte vier
ninguém sabe quando virá
talvez traga algum encanto
no olhar de quem lhe der
aquilo que ninguém dá
a saudade como um canto!
Quando a morte vier
vem com ela outro destino
vem com ela outra vida
e se alguém a não quiser
terá dor no seu caminho
ao partir sem despedida!
E é mentira quem disser
que o morrer já não importa
só a vida que passou
quando a morte vier
de repente fecha a porta
e quem era terminou!
Tempo Infimo -
Fecho os olhos por instantes
e ao abri-los novamente
numa dor, triste, constante,
vejo a vida tão diferente!
Esse alguém a quem amava
num passar por entre escolhos
dizia adeus e abalava
deixando mágoa nos meus olhos!
Podem morrer os horizontes
podem chorar todas as gentes
podem secar todas as fontes
que o meu amor é para sempre!
Tempo infimo, esgotado,
dor presente sem destino,
sonho morto, enterrado,
olhar triste sem carinho!
É assim a nossa vida,
ora quente, ora fria,
encontrada ou perdida,
ora noite, ora dia ...
Chorão -
Ao pé daquela casa onde vivo
há uma árvore em vetusta solidão
da qual se escuta, ao passar, tanto gemido,
como se fora de um Poeta o coração...
Ninguém sabe de onde veio nem porquê!
O que faz ali num estático sossego?
Além da árvore que é árvore ninguém vê
que ela traz dentro de si a Poesia por apego.
Espalha pela rua a magia de um sorriso,
triste, só, ao vento, seja noite ou seja dia,
em diáfana presença procura alguém perdido
e seu corpo de silêncio embala tanta melodia.
E o que faz aquela árvore calada rodeada pela Era
no meio de uma rotunda ao pé da minha casa?!
Presença cinzelada que nada diz nem me revela,
que apenas sinto, na voz de um silêncio que me abraça ...
Que encanto dá à minha rua a alegria daquele mágico Chorão,
dança todo o dia, chora toda a noite e canta, canta e encanta ...
E minh'Alma, pejada de espanto, vê numa parede, alinhada com o chão
uma lápide de mármore que nos diz: Praceta Florbela Espanca!
Rubra Cor -
Tarde fria, sonolenta ...
E cai o dia, breve instante
num segundo de dolência!
Eu juro que não sei
quem sangrou o peito ao Sol poente
que inunda o horizonte
e o agoniza lentamente!
Tarde rubra, encantada
que deixa tantos escolhos
de uma intima lonjura
no silêncio de meus olhos ...
(In)confidência -
Minh'Alma
cansada e sem pudor
é onde a sós
estou contigo
meu amor!
É sede, sim,
uma longa tortura,
uma fome de mim,
ó meu amor,
tenho sede de ti!
E tanta dor persiste
na alegria de versejar
pois teu amor insiste
em partir e não voltar!
Encadeamento -
Hoje é véspera de amanhã
e eu não sou véspera de nada
como a tarde e a manhã ...
O meu ontem é passado
o teu hoje é uma espada
e o meu corpo está cansado ...
Anteontem foi mentira
estar só uma verdade
e minh'Alma tão perdida ...
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