Poemas de Voltaire
Pornografia feminina
Na mansão dos Orkstip vive a loura, humilde e sonhadora Candice, a copeira, que nutre uma paixão secreta pelo herdeiro da fortuna da família, dona de uma companhia petrolífera, Jack Orkstrip. O despreocupado rapaz nem desconfia dos sentimentos de Candice e vive uma vida de luxo e futilidade. Já a sua noiva Valery Housborn morre de ódio de qualquer rival e vê na extrema beleza da empregada um perigo concreto.
Observar e sentir
Eu sou louco, confio em mim
Não uso um marcador às páginas
E o meu relógio parou
Os sinos da igreja me chamam mas eu já a conheço inteira
Os seus traços e o seu canto
Caminho por sobre Deus e engulo a sua veste: pitangas!
Vivi muitos anos tentando entender, e entendi:
Não há nada a entender.
O conto do nada
O poeta se dedicava a contar histórias, contar para si mesmo. Histórias sobre coisas que não existiam, que ele inventava na hora. É fantástico, criar o mundo como quem joga xadrez consigo próprio. As histórias são piadas alegres ou tristes, grosseiramente desenhadas. Histórias de espionagem, cheias de riscos e suspense. Todas têm brilho, para satisfazerem o bom contista. Na minha história ninguém morre, os mortos ressuscitam e o final é feliz. Não há chefes, nem ninguém superior ou inferior, nem existe começo ou fim, porque a liberdade o exige.
O personagem sofre com tentações e obstáculos na sua corrida para casa a fim de escrever a história, antes que ela desapareça da sua mente.
Um pouco de inteligência
Me chamam de idiota. Se com isso querem dizer que eu tenho pouca inteligência, têm toda a razão. A inteligência que eu tenho são uns poucos truques que aprendi agora. É por isso que eu sempre improviso. Improvisar é dar uma resposta sem usar o conhecimento ou o acúmulo de experiências. É responder à Inteligência. É pular num abismo sem paraquedas ou quaisquer garantias.
Escuridão
Se este mundo já existiu a algum dia, agora não existe mais nada. Pelas ruas cheias de poeira e detritos, abandonadas, vagam os espectros, no seu eterno ir e vir, carregando os seus acessórios imaginários, a sua personalidade, agora inútil. As árvores me fitam na escuridão com os seus olhinhos de musgo. Vou caminhando entre os fantasmas, sem saber se estou morto também, se não sou mais uma sombra que procura permanecer quando a muito não temos luz. Por que a Terra desapareceu e deixou esse gemido que ecoa ainda, ainda? Por que eu dormi e deixei que a vida fosse embora, mesmo antes de estar desperto e nada aproveitei do vinho da felicidade? Por que eu morri na praia, e por que lamentar?
A eternidade já passou e nós nem notamos!
Vertigem
As nuvens constroem castelos pelo céu,
arquitetura de água imponderável.
O amor pelas nuvens cria em nós a antigravidade.
Cabelos do rosto
Eu estou numa luta com a barba há anos. Ela cresce, eu corto. Ela se emaranha, eu penteio. Ela fede, eu lavo. Ela me considera um apêndice e eu acho que tem razão: me recobre a cara, controla o que entra e o que sai e ainda me coloca no meu lugar, aqui, atrás dela.
Se estás à procura de um gato preto, numa quarto escuro, sem mesmo saber se ele lá está. Aguarde com paciência curiosa, digna da boa Ciência, a evidência. Se lá, o gato estiver, ele há de miar. Ele há de miar, ou não. Importante é que ideias por ali circulam.
Todos os homens são iguais. A diferença entre eles não está no seu nascimento, senão na sua virtude.
Vá à Bolsa de Valores de Londres … e você verá que os representantes de todas as nações se reúnem ali para tratar dos seus interesses. Ali, judeus, muçulmanos e cristãos lidam uns com os outros como se fossem todos da mesma fé – e aplicam a palavra infiel apenas a indivíduos que vão à falência. Lá, o presbiteriano confia no anabatista e o Anglicano aceita uma promessa do Quaker. Ao deixar essas reuniões livres e pacíficas, uns vão para a sinagoga, outros para as igrejas ou mesquitas, além daqueles que preferirão uma boa bebida, …, mas todo mundo está feliz.
Aquele que te convence a acreditar em absurdos tem o poder de fazer você cometer injustiças.
Todo homem é uma criatura da época em que vive e poucos são capazes de se elevar acima das ideias da época.
Não estar ocupado e não existir representam a mesma coisa. Todas as pessoas são boas, exceto as ociosas. Cada um deve dar a si mesmo todo o trabalho que possa para tornar a vida suportável neste mundo. Quanto mais avanço em idade, mais sinto a necessidade do trabalho. Ele se torna pouco a pouco o maior dos prazeres e substitui as ilusões da vida".
/ Voltaire, citado por Will Durant /
A originalidade nada é senão sensata imitação. Os escritores mais originais tomam emprestado uns dos outros. As ideias que encontramos nos livros são como fogo. Arrancamo-lo da casa dos vizinhos, alimentamo-lo em nossa casa, transmitimo-lo a outros, e ele passa a pertencer a todos.
Vi tantas coisas extraordinárias, que para mim não há mais nada de extraordinário.
Tal é a fraqueza do gênero humano e tal a sua perversidade que, indubitavelmente, é melhor que ele seja subjugado por todas as superstições possíveis, desde que não venham a causar assassinatos, do que viver sem religião.
A vida está densamente semeada de espinhos, e não conheço outro remédio senão passar rapidamente por eles.