Voce diz eu te Amo eu Digo Idem
Eu estou tão cansada de assustar as pessoas. E de ser o máximo por tão pouco tempo. E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que não quer ou não sabe querer. Mas hoje eu não odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu não me odeio. Hoje eu só fecho os olhos e lembro de você me pedindo sem graça para eu não deixar ninguém ocupar o lugar da minha canga. Tudo o que eu mais queria, por trás de todos esses meus textos tão modernos, sarcásticos e malandros, era de alguém que me pedisse para guardar o lugar. Tá guardado. O da canga e de todo o resto.
Triste é não chorar, se eu também chorei, e não, não há nenhum remédio pra curar essa dor que ainda não passou, mas vai passar, a dor que nos machucou. E não, não, há nenhum relógio pra fazer voltar, o tempo voa.
Não se irrite o leitor com esta confissão. Eu bem sei que, para titilar-lhe os nervos da fantasia, devia padecer um grande desespero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar. Seria romanesco; mas não seria biográfico. A realidade pura é que eu almocei, como nos demais dias...
E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros, o que pouco me importa, já que eu tantas vezes sou incomodada pela alegria superficial e digestiva dos outros.
Pensei em sumir. Desaparecer. Despistar. Fingir. Só que eu não vou. Vou me esforçar e acreditar que tudo vai ficar bem. A esperança nos mantém vivos, certo? A fé nos faz andar pra frente, certo? Então ta certo. Ficamos combinados dessa forma. Não espere poesia, linhas bem feitas, palavras bonitas. Simplesmente não posso. Agora não. Não sou de ferro. E está doendo.
Que miserável homem que eu sou; quem me livrará do corpo desta morte.
As coisas que quero fazer eu não faço, as que eu não quero, isso sim eu faço.
Sem saber o que eu iria fazer continuei caminhando.
Eu sou esperta porque pego quem eu quero, a hora que eu quero e como eu quero. Eu sou carente porque tudo isso é idiota, vazio e solitário.
O que é o tempo? Quando quero explicá-lo não acho explicação. Se o passado é o que eu, do presente, lembro, e o futuro é o que eu, do presente, antecipo, não seria mais certo dizer que o tempo é só o presente? Mas quanto dura o presente?
Os poetas e os filósofos descobriram o inconsciente antes de mim. O que eu descobri foi o método científico que nos permite estudar o inconsciente.
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito.
De manhã, eu tinha o olhar tão perdido e a postura tão morta, que aqueles que encontrei talvez não me vissem.
Eu queria enfiar a cabeça dele na privada e dar descarga.Ao mesmo tempo q eu queria a liberdade de nadar naquela água suja.
Também já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.