Viniscius de Moraes Mulher Geminiana

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Não desanimar, nunca, nunca mesmo, jamais. Quase sempre, onde houver vida, há esperança.

Mensagem à poesia
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abatem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais

O Peru
Glu! Glu! Glu!
Abram alas pro Peru!

O Peru foi a passeio
Pensando que era pavão
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestão.

O Peru dança de roda
Numa roda de carvão
Quando acaba fica tonto
De quase cair no chão.

O Peru se viu um dia
Nas águas do ribeirão
Foi-se olhando foi dizendo
Que beleza de pavão!

Glu! Glu! Glu!
Abram alas pro Peru!

"A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro" Vinicius de Moraes em Para Viver um Grande Amor (Companhia das Letras).

Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente.

A bênção, Bahia

Olorô, Bahia
Nós viemos pedir sua bênção, saravá!
Hepa hê, meu guia
Nós viemos dormir no colinho de lemanjá!

Nanã Borokô fazer um Bulandê
Efó, caruru e aluá
Pimenta bastante pra fazer sofrer
Bastante mulata para amar

Fazer juntó
Meu guia, hê
Seu guia, hê
Bahia!

Saravá, senhora
Nossa mãe foi-se embora pra sempre do Afojá
A rainha agora
É Oxum, é a mãe Menininha do Gantois

Pedir à mãe Olga do Alakêto, hê
Chamar Inhansã para dançar
Xangô, rei Xangô, Kabueci-elê
Meu pai! Oxalá, hepa babá!

A bênção, mãe
Senhora mãe
Menina mãe
Rainha!

Olorô, Bahia
Nós viemos pedir sua bênção, saravá!
Hepa hê, meu guia
Nós viemos dormir no colinho de lemanjá!

Tem coisas que nem Freud explica e só Deus é quem sabe!

O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da poesia "Soneto do Amor Total", de Vinicius de Moraes.

Cada dia que passa é uma folha que se vira no livro da vida

Acredito nas pessoas. Especialmente naquelas em que habita algo mais que a humanidade. Aquelas que, às vezes, a gente confunde com anjos e outras entidades divinas. E ser divino não é ter poderes sobre o céu e a terra, nem mesmo sair por aí alardeando milagres. Isso, deixemos para o próprio Deus.

Falo daquelas que existem em nossas vidas e enchem nosso espaço com pequenas alegrias e grandes atitudes. Daquelas que te olham nos olhos quando precisam ser verdadeiras, que tecem elogios, agradecem e pedem desculpas com a mesma simplicidade de uma criança.

Pessoas que não precisam fazer jogos para conseguir isto ou aquilo, porque seus desejos são realizados por suas ações e reações, não por seus caprichos. Pessoas que fazem o bem e se protegem do mal apenas com um sorriso, uma palavra, um beijo, um abraço, uma oração.

Pessoas que atravessam as ruas sem medo da luz que existe nelas, caminham firmes e levantam a cabeça em momentos de puro desespero. Pessoas que erram mais do que acertam, aprendem mais do que ensinam e vivem mais do que sonham. Pessoas que cuidam do seu corpo porque este nos acompanhará até o fim, não ficam julgando gordos ou magros, negros ou amarelos, iguais ou diferentes, normais ou especiais, terráqueos ou espaciais.

Pessoas, simplesmente pessoas. Que nem sempre têm certeza de tudo, mas acreditam sempre. Transparentes, amigas, espontâneas, até mesmo ingênuas.

Prefiro acreditar em relacionamentos baseados em confiança, serenidade, humildade e sinceridade. Prefiro acreditar naqueles que nos transmitem paz e um pouco de gratidão.
Prefiro acreditar em homens e mulheres que reverenciam a vida com a mesma intensidade de um grande amor... que passam pela Terra e deixam suas marcas, suas lembranças, que deixam saudades e não apenas rastros.

Homens e mulheres que habitam o perfeito universo e a perfeita ordem nele existente.
Homens e mulheres de almas limpas e corações puros.

DESEJOS

Desejo a vocês...
Cheiro de jasmim
Um amor louco
E um feriado sem fim

Domingo com sol
Segunda sem lei
Terça não fazer nada
Quarta já não sei

Quinta na casa da mamãe
Sexta tomar banho de cachoeira
Sábado assistir um bom filme
E no ano inteiro fazer zoeira

Não vou chorar, nem ao menos vou sofrer. Não tenho do que lamentar, pois o tempo só me fez cada dia mais te amar... e quando me deixou uma cratera dentro de mim, foi o que ficou… os dias continuam a se passar, mas toda vez que foco no relógio, os ponteiros estão sempre no mesmo lugar, no mesmo mês, no mesmo dia e na mesma hora que você me deixou, na última batida do ponteiro, meu coração parou… essa foi a nossa despedida... assim me cravou uma ferida… Um rasgo me fez a pessoa que amei um dia!

Se eu te trato com carinho,amizade e lealdade,
e pelas minhas costa tu falas mal de mim,quem é que está errado?
Se eu te considero um(a) amigo(a),e te confidencio meus segredos,meu planos,e tu,quando estás distante de mim,debocha,quem é que está errado?
Se eu tento te agradar,por te considerar especial,tento te fazer presente no meu dia a dia,e tu parece aceitar,mas,na verdade tu me rejeitas e tenta me ridicularizar,quando estás distante de mim.
Sinto muito,pois,enquanto eu sou a "trouxa" a "palhaça",eu estou fazendo a minha parte diante de Deus,amando e repeitando meu próximo,e tu? o que estás fazendo? Quem será o maior prejudicado(a)com a tua atitude?
Enganar-me é fácil,
Enganar-se também,
mas enganar a Deus é impossível.

A dor é a companheira silenciosa do amor.

Pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."

Vinicius de Moraes
Antologia Poética

“Fugas

Não adianta virar a cara e torcer o nariz, quando você olha para o seu passado. Ele está e sempre vai ficar do jeito que você o criou. Suas boas lembranças não vão voltar, nem se repetir. Você virou as costas para quem realmente te valorizou, mentiu e enganou. Agora tenta afogar a saudade, nos braços da amargura. Tenta se enganar que essa é a sua melhor escolha, mas não é, e você sabe disso!”

Meu Demônio
Hoje me escondo da sociedade já sou um anjo perdido as escuridões do meu coração cegaro minha vizão, eu não sei onde é o meu caminho, pobre alma perdida já não consegue domar sua aberação, esse demônio que cresceu junto consigo se alimentando das suas magoas raivas decpeção.
Foi se apoderando da sua alma, apagando tudo que tinha ou alguma vez teve de bom, só deixando más lembranças...Tornando essa pobre alma escura, vazia, amarga.
Já não tem esperança nunca vai conhecer a Deus pobre vida de ateia, se esconde da luz, o dia tem que ser seu inimigo e a noite sua fortaleza.

Essa vontade de estar perto, se longe; ou estar mais perto, se perto.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da música "Monólogo de Orfeu".

Uma postura crítica é o estimulo principal de qualquer avanço do conhecimento.