Vida e Morte
Há novas árvores e novas flores sobre a terra. Tudo é tão real e está aqui ao alcance das mãos, mas a maior indagação é saber quando tudo começou. Onde está a ponta do durex?
Mesmo sem saber onde fica a minha casa quero voltar para ouvir o balir dos anjos, ovelhas do paraíso. Estarei em minha casa quando Deus terminar a crônica da minha vida.
O homem, pobre ser humano, tem o universo para conhecer, porém, passa a maior parte do tempo dentro de prédios. Anda pelos mesmos caminhos, igual a uma lagarta que não sabe que, num belo dia, o seu destino a fará voar.
Meus pensamentos são beliscados pelas impressões da vida. Hoje, o som do bolero me pede para recomeçar. Recomeço na necessária desconstrução das emoções. A orquestra celestial – com o Maestro a oriente de um imenso salão - me espera com músicas suaves.
A dor que se esconde não é doença. Quando adoeço ponho a boca no mundo; gemo e resmungo sem parar. Só paro quando bebo água fluída no batismo da bênção.
No cemitério estão os mortos que já morreram; outros que vão demorar a morrer. Ainda há os que jamais morrerão: seus feitos construíram a eternidade e serão sempre lembrados.
Há uma cadência serena no andar de homens e mulheres que caminham passos regulares; os pés irradiam serenidade. Essa firmeza na jornada torna a alma da cidade mais amena.
No meu tempo de espera, que já dura décadas, posso ver o passar dos tempos nas retinas dos olhos com colunas de densas imagens. E elas são umbrais que sustêm as vergas do tempo. Quero ser um universo que se encanta no meu chão enfeitado com um docel de estrelas formado por cachos de uvas brancas da região do Minho.
Deus põe sal na minha moleira para me dar mais juízo. Um chapéu na cabeça me convém para me guardar do sereno. Ou, talvez, uma cadeira de balanço para sossegar os meus pensamentos que se afogam nas torrentes de águas.
Eu vim pra esse mundo sozinho, com um único objetivo: compartilhar minhas descobertas, para que outros não comecem do zero. Cheguei a um ponto em que consigo tocar os planos das mãos invisíveis que regem a humanidade — mãos que anestesiam as pessoas, para que elas se confortem com a morte, enquanto a busca deles pelo elixir da vida não para, com uma legião de escravos sendo usada para que cheguem ao mesmo.
Durante muito tempo, confesso, temi o mundo... mas não por suas dores naturais, nem por seus silêncios frios. Tive medo de viver em um mundo onde você não estivesse. A simples ideia da sua ausência era como um vento cortante atravessando o peito, como uma noite sem estrelas, como uma eternidade sem luz. Havia algo na sua presença que fazia o tempo parecer menos cruel, e a vida, ainda que imperfeita, tornava-se suportável, quase bela. Sem você, tudo perdia cor, propósito e rumo. E assim, mais do que temer a morte, temi a vida sem você... porque viver, se não for para dividir o olhar, o riso e o silêncio com quem se ama, é apenas existir à margem do que poderia ter sido eternidade.
CONFLUÊNCIA DOS INVISÍVEIS
Há um pacto selado no silêncio
entre o sopro breve do instante e a eternidade que espreita.
Nem sou caça, nem caçador do tempo,
apenas passo, como ele passa,
num compasso de olhos fechados.
Não corro.
Não me atraso.
Sou feito de agora.
E ele também.
Às vezes cruzo com a sombra dele
num reflexo na vidraça,
num fio branco que aparece,
num gesto que se repete sem que eu saiba por quê.
A vida?
É isso que pulsa sem forma
entre a dúvida e o desejo,
entre o que arde e o que abraça.
E a alma, essa caverna feita de ecos,
abriga lembranças, algumas minhas,
nem todas boas, mas todas minhas,
marcadas a fogo ou sussurradas na bruma.
Já a morte,
essa paz sem cor,
que recolhe tudo ao pó, de onde vim,
não me assusta mas comove.
É como ver um campo que nunca floresceu,
um nome que ninguém chamou com ternura,
ou como alguém que passou a vida inteira
escutando a música,
mas nunca se permitiu dançá-la.
Falta nela o riso que rompe o silêncio,
a febre dos que erram por amar demais,
a beleza do que foi quase.
Então eu respiro e nesse fôlego,
sinto:
sou vértice entre o que fui e o que vem,
sou tempo habitando a própria ausência,
sou instante que decidiu permanecer.
O Peso dos Dias e a Leveza do Tempo
Nunca gostei de comemorar aniversários.
Não me entendam mal — não é um desprezo pela vida, tampouco um capricho melancólico. É, talvez, um desacordo silencioso com o calendário. A data do nascimento me soa arbitrária demais para conter em si todo o mistério e a beleza de estar vivo. Há algo estranho em reduzir a celebração da existência a um dia fixo, como se a vastidão da vida coubesse numa vela, num bolo ou num parabéns apressado.
Eu prefiro envelhecer a fazer aniversário.
Gosto da ideia de envelhecer porque ela carrega marcas. Rugas, histórias, memórias e silêncios. Envelhecer é a confirmação de que estive aqui — que sangrei, sorri, perdi e me encontrei. Cada linha no rosto é uma frase escrita à mão pelo tempo. Cada ano que passa é mais uma página virada com esforço e sentido. Envelhecer é a prova irrefutável de que vivi — ou ao menos tentei viver.
Mas viver, veja bem, é diferente de estar vivo.
Estar vivo é biológico: pulmões funcionando, sangue correndo, agenda cheia. Viver é outra coisa. É quando a alma respira, quando os olhos se demoram num pôr do sol, quando o silêncio não assusta mais. É quando a dor ensina, quando o amor transforma, quando o tempo passa e você sabe que ele passou por você — e não apenas ao seu lado.
E é exatamente por isso que não temo a morte física. Essa virá para todos, no tempo que não escolhemos. O que realmente me assusta — e profundamente — é a morte em vida. Aquele estado em que os olhos seguem abertos, mas o mundo já não causa espanto; em que o coração bate, mas não se comove; em que se respira, mas não se sente mais o perfume da existência.
Essa morte silenciosa, discreta, cotidiana, me aterroriza. Porque ela se instala devagar, sem anunciar-se. De repente, já não se sonha. Já não se espera. Já não se luta. É essa a morte que me recuso a aceitar.
Por isso celebro o cotidiano. Todo dia é um aniversário da minha consciência desperta. Todo gesto de sensibilidade, toda lágrima sentida, toda esperança cultivada é uma prova de que ainda estou vivo — e não apenas biologicamente funcional, mas inteiro.
Não preciso de presentes nem de aplausos. Preciso apenas do milagre cotidiano de seguir. Porque todo dia que me é dado é, por si só, um aniversário da minha resistência. Um lembrete de que estou aqui — apesar de tudo, apesar de mim.
E assim, envelhecendo sem pressa, vivo celebrando o que realmente importa: a arte rara de continuar sendo.
Minha insignificância é óbvia, eu sou um ser humano com sentimentos complexos, que ama, odeia, chora, sorri e tem esperança, porém um dia a sombra da morte me levará e nada me sobrará. Um ser humano que um dia foi igual aos outros será resumido a uma pilha de ossos e qual o sentido disso? Mesmo depois de tudo que eu vivi e tudo que senti a minha existência é totalmente descartável. Após minha morte servirei de suporte para outras vidas que sequer saberiam quem eu fui um dia, então por que continuar lutando? Se no fim toda caminha leva ao mesmo destino. Conforme o tempo passou eu percebi que mesmo que o destino seja igual para todos o que importa é o caminho e a vida mostra ter significado no silêncio entre um passo e o outro. Não importa se você é um varredor de rua, um aristocrata, um médico ou um engenheiro, todos nós dançaremos com a sombra da morte.
Vivemos num mundo em que sorrisos não são sorrisos
Não são de alegria
Não são de esperança,
Simpatia ou amor
Sorrisos são máscaras
Escondem punhais
Raiva e ódio
Sorrisos deixam a presa confortável
Tiram dela o medo,
A expectativa da defesa
A presunção da tragédia
Quando se sente a dor
É porque já chegou ao fim
O punhal já se cravou
Agora não há mais o que doer
O que mais dói no ser humano é saber que não pode voltar no tempo e o que ficou de errado não poderá mais ser consertado, dói saber que tudo na vida é passageiro, que o tempo a cada dia diminui e a pessoa não é mais a mesma no caminhar nas alegrias, nas festividades, nos prazeres, e as vezes até mesmo no seio familiar.
O que vai ficando é a saudade do que de bom passou, de tudo que conquistou mais as saudades são passageiras e assim tudo se perderá, tudo vai se transformando em poeira que o vento leva e não traz mais.
As vezes mesmo com inveja dos mais jovens o que resta é o sofrimento na saúde e às vezes uma torcida para os que ficam tenham melhores sorte na vida mesmo sabendo que o normal é a passarem pelo mesmo processo de vida e morte.
Ed. 😶
"Nada é nosso. Quando nascemos, recebemos o sopro divino que nos impulsiona a respirar e quando morremos, até esse sopro temos que devolver . Nem corpo, nem vaidades,
nem posses. Tudo fica!"
Luiza Gosuen
