Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues

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Nós apenas trabalhamos para encher a memória e deixamos o entendimento e a consciência vazios.

O homem mais sensível é necessariamente o menos livre e independente.

Ensinam-nos a viver quando a vida já passou.

Nas revoluções políticas os povos ordinariamente mudam de senhores sem mudarem de condição.

O mundo não deve ter fronteiras, mas horizontes.

É falso que a igualdade seja uma lei da natureza. A natureza não faz nada igual; a sua lei soberana é a subordinação e a dependência.

Aqueles que nós definimos como os nossos dias mais belos não são mais do que um brilhante relâmpago numa noite de tempestade.

A poesia é a linguagem natural de todos os cultos.

É mais fácil refutar erros que descobrir verdades.

Pouco dizemos quando o interesse ou a vaidade não nos faz falar.

O deleite imaginado é muito maior que o gozado, embora nos verdadeiros gostos deva ser o contrário.

Telha de vidro

Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

O que ganhamos em autoridade, perdemos em liberdade.

Num Estado, isto é, numa sociedade onde há leis, a liberdade só pode consistir em poder fazer-se o que se deve querer e em não estar obrigado a fazer o que não se deve querer.

A diligência é a mãe da boa sorte.

O homem sem paciência é como uma lamparina sem óleo.

Não sejamos tão exigentes: quanto mais transigentes, mais hábeis.

Por mim, teria evitado casar até mesmo com a sabedoria, caso ela me quisesse.

Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem.

O avarento mais preferiria que o sol fosse de ouro para o cunhar, do que ter luz para ver e viver.