Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues
Você já se perguntou se as pessoas acham “muito legal” o fato de que o seu filho já consegue ligar o smartphone aos três anos de idade? Você já se deu conta de que propagar intermitentemente a suposta “genialidade” de seu filho é incrivelmente desinteressante?
Você identifica um pseudointelectual formador de opinião pública de duas formas:
1 - ele é famoso, está na mídia e todo mundo o acha um gênio brilhante.
2 - ele tem a incontestável (e deplorável) capacidade de dissertar sobre assuntos sobre os quais desconhece completamente, aproveitando-se da fama e da burrice de seus seguidores. Sempre foram desmascarados, desde antes de Sócrates, passando por Sêneca, Boécio, Giordano Bruno, Schopenhauer dentre tantos outros.
Permanecem vivos, entretanto. São os vermes e insetos que resistirão ao mais perverso apocalipse.
O Brasil não consegue ainda sequer controlar doenças que estão extintas em diversas nações do planeta; no Brasil ainda existe o sarampo, a malária, a dengue, a poliomielite, a rubéola, a difteria, o tifo, a hanseníase entre outras moléstias antigas; o Brasil não cuida de seus dependentes químicos, sindrômicos ou portadores de necessidades especiais, denotando total e absolutamente ausência de cidadania.
Seja sempre gentil com os que são muito vaidosos. Deixe que se exibam portentosamente, já que não possuem outra coisa digna da nota. Permita que se comportem como o cachorrinho de casa, que busca um apetrecho a fim de brincar com a visita.
Quando lhe indagam sobre o seu estado geral - seja em ambiente de trabalho ou em família - a única resposta aceitável é um simples “estou bem, obrigado”- independentemente do “terremoto” em que você se encontre. Primeiro porque é deseducado resolver contar aos outros as mazelas e dificuldades do seu dia-a-dia, exceto se você for indagado pelo analista. Do contrário, você se transforma em um cara chato. Segundo porque frases tais como “vou indo”, “caminhando”, “vendendo o almoço para adquirir a janta” servem para demonstrar o quanto você é simplório. E terceiro - e mais importante: por detrás de “perguntinhas” aparentemente despretensiosas há um gigantesco interesse em dissecá-lo à exaustão minuciosa, para que se obtenha supremacia sobre o seu corpo, sobre a sua mente e sobre o seu dinheiro.
Ao artista, a limitação de possibilidades é frutífera e estimulante. Na filosofia acontece exatamente a mesma coisa. É no mais escuro dos porões que os temperos e os molhos mais deliciosos são criados.
Nada aterroriza mais um escritor ou um filósofo do que a ocorrência de um hiato.
Seja no papel, seja na vida.
Apenas perceba a timidez ousada de Clarice; a feitiçaria no olhar de Bette Davis; a malícia provocadora de Brigitte; a melancolia nos acordes de Billie Holiday.
Feito isso tudo, tenha toda a natureza como contemplada.
A destruição da fé e das religiões como um todo é assunto corriqueiro entre pseudointelectuais quando se reúnem. Aliás, tem gente que se autointitula ateu apenas para parecer inteligente. Acontece que você seguir uma religião não é um atestado automático de inteligência, e nem mesmo da ausência da inteligência. Deus é um conceito sutil e elegante. E falar de Deus é a mais pura filosofia.
Federico Fellini, na sublime altivez de sua genialidade, muitas vezes utilizava pessoas comuns em cenas de seus filmes. Acho que foram exatamente essas pessoas comuns que inventaram o Federico Fellini. E a fantasia de seus filmes é mais realista do que a própria realidade. Todo o absurdo de Fellini era fidedigno. E o mar é, sim, feito de papel celofane.
É exatamente na situação de crise que o mais audaz e criativo nos propõe a quebra de um paradigma antigo, mas sem necessariamente invalidá-lo. Pois o sábio verdadeiro, ao propor ideias novas, absorve com respeito e devoção o paradigma antigo, utilizando-o de base ao que deve abalar os velhos alicerces e mudar ainda mais o mundo.
Existe uma maneira de fazer alguém parar no tempo: a miséria faz você parar no tempo; a ignorância faz você parar no tempo. E os séculos não passam para aqueles que amargam privações extremas. Pois as privações extremas nos amputam até mesmo o futuro.
Tem gente que ainda confunde gentileza e elegância com o mais ordinário flerte. E de flerte eu entendo. E jamais seria raso.
O regozijo maior de algumas pessoas consiste na mera aparição eventual em alguma foto de coluna social. A lição que fica disso: essas pessoas todas se resumem somente às suas fotos publicadas, nada mais do que apenas isso; eternizadas nas mesmas folhas de jornal que a gente usa para absorver necessidades fisiológicas dos nossos gatos.
Pizza assada em forno a lenha tende a ficar ruim quando esfria. Não hesite em sair com alguém que você ama a fim de comer pizza a lenha. Não peça em casa. Porque a brasa resfriada de um alimento a gente até tolera. Mas a chama que se apaga não restaura aromas e sabores já perdidos.
Você confia no barbeiro que você sequer conhece, e que lhe faz a barba com navalha extremamente afiada. Mas você também confia no político que, da mesma forma, lhe é desconhecido, mas que, além de receber seu voto em uma urna eletrônica, se torna o gestor supremo de seus impostos - da educação, da segurança e da saúde de sua família. A outorga da confiança deve ser minuciosa. Porque a navalha é afiada.
Algumas pessoas possuem um amor irresistível ao bizarro, ao grotesco e ao escatológico. Quanto mais sangue derramado às portas do passeio público, maior é o “sucesso” da tragédia. Hoje haverá assunto no jantar, enquanto o jornal começa, temperado com mediocridade em estado bruto.
Eu reduzo a velocidade na estrada bruscamente; eu me deparo com um violentíssimo capotamento, e com uma família inteira dilacerada, presa às ferragens do veículo; eu saio do meu carro e tento ajudá-los; outros automóveis também param diante da cena dantesca; eu percebo que, enquanto alguns de nós prestamos socorro às vítimas, diversos outros cidadãos se ocupam em saquear carteiras, bolsas, relógios, bagagens e ainda celulares dos feridos. Pergunto: há alguma esperança para o nosso povo depois disso tudo?
E o lodo que desce da chuva calunia a pedra de topázio, no intuito de ofuscar seu brilho inconfundível. Mas o lodo será sempre o lodo. Sujo, passageiro, lavável. Já o brilho do topázio não se desintegra com maledicências sazonais e torpes.
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