Versos de Saudade
O ABISMO DA SAUDADE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Hoje volto a sentir aquela falta
mais intensa, profunda e consistente,
minha mente vai lá pro coração
e deságua o volume das lembranças...
Um vazio se alastra na garganta,
vem a lágrima e finjo que não vem,
mesmo estando em completa solidão,
muito aquém do que podem me flagrar...
Fico meio abstrato e sem contorno,
desintegro a visão d que se vê,
meu entorno me solta e deixa vir...
Acordei entre teias de saudades
quase físicas, quase de argamassa,
numa praça de sonho e nostalgia...
PRAÇA
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Dou-lhe tempo e distância pra sentir saudade
ou querer mais distância, mais ausência e vácuo,
pra saber a verdade sobre a falta ou não
que lhe faz meu afeto extremado e carente...
Cedo espaço e dilato as paredes do mundo,
vou pros lados opostos a sua incerteza,
caio fundo no abismo e lhe deixo à vontade,
sem olhares; boletos; cartas de cobrança...
É que tanta procura já se tornou caça;
uma praça de sonhos que abato e conservo;
esperanças no sótão de minhas ruínas...
Guardo as armas e a voz do silêncio de assalto,
pra você me querer por arbítrio e de graça
ou deixar minha praça renovar os sonhos...
SOLITÁRIA SAUDADE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sobrevivo ao silêncio, mas dói nos ouvidos;
a distância não mata; só pesa em meus ombros;
é tão sólida e próxima da solidão
que povoa os escombros em todo meu ser...
Você nunca se foi; desde quando se foi,
cada dia me habita mais fundo e presente;
minha mente, minh´alma e meu corpo a revolvem
nas caladas do sonho de voltar no tempo...
Recomponho a quimera que já foi verdade,
porque tenho saudade, a saudade me tem
sob todos os panos do que só eu sei...
Eu a conto pra mim em segredo constante,
sou estante que abriga uma história vencida
que descansa na paz do conflito só meu...
SOLITÁRIA SAUDADE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quando vejo a saudade que não sentes,
ou a tua nenhuma nostalgia,
minha mente reage ao coração
e resfria os sentidos do meu ser...
Mas a falsa frieza não perdura,
pois o sol do que sinto atinge a neve;
faz a greve do afeto em desalinho
derreter os chavões de minha mágoa...
Eternizo a saudade solitária,
meus ensaios de orgulho são só fases,
frágeis quases que nunca se completam...
Restituo meus olhos pro vazio;
fio bamba da fé na eternidade;
linha tênue de horizonte sem luz...
REENCONTRO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Foi um tanto confusa pra minha saudade
a mornura do encontro que tanto esperei;
houve grade, fronteira, sinal de limite
ou alarme velado entre tênues lacunas...
Foste branda e polida, puseste adoçante
onde nunca faltava o excesso de açúcar,
teu afeto distante frustrou a presença
e fiquei constrangido com a simpatia...
Não há como sentir dessa forma contida
o que a vida curtiu tão profundo em meu ser
ou deixar decair o que voou tão alto...
Nem te quero comum, reticente, formal,
no formol, na vitrine, com tal reverência
de museu; catedral; conferência; consulta...
TERMINAL DA SAUDADE
Demétrio Sena - Magé
Comecei a deixar que a saudade resvale
pelas fendas dos dedos que a mão relaxou,
pelo vale das sombras de minhas lembranças
que jamais conseguiram provocar um eco...
E minh'alma se cala, quase se amordaça,
não emite palavras, pensamentos vãos,
afinal tudo passa, como sempre aprendo
entre nãos escondidos nos velhos talvezes...
A saudade já sabe que passou do tempo,
que meu corpo deixou de ser templo adequado,
se me torno passado pra margem oposta...
Sinto muito e não peço que sinta por mim,
pois o fim é prenúncio de qualquer começo,
é um preço bem justo pelo que sonhei...
PRA ME ACHAR
Demétrio Sena - Magé
Hoje sinto a saudade me sondar;
desmentir o granizo dos meus traços,
despertar a tristeza que dormia
nos espaços ocultos de minh'alma...
Os teus olhos arrastam minhas vistas,
tua voz me visita no silêncio,
sigo pistas do quanto estás além,
para ver se me acho por te achar...
Mas preciso manter a minha capa
de quem pensa que a vida vai avante,
quem escapa da própria solidão...
A saudade não quer se despedir
do vazio cravado nos meus dias;
minhas horas tardias desde cedo...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
SÓ AMOR E SAUDADE
Demétrio Sena - Magé
Só espere de mim o mesmo amor,
apesar do silêncio e do segredo,
dessa dor escondida no meu peito,
deste medo abismal do que decido...
Seguirei nos caminhos da saudade,
com lembranças que só me fazem bem,
que ninguém me fará desconstruir
nas areias do tempo e seu percurso...
O que nunca pensei não penso agora;
não espere de mim respostas duras
ao que ora desenha de quem sou...
Só amor e saudade ao me lembrar
do meu sonho e do quanto acreditei
nesse dom de sonhar que me compõe...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
BERLINDA
Demétrio Sena - Magé
A saudade que sinto se une ao rancor;
as lembranças bonitas acolhem as más;
meu olhar é deserto, sem brilho nem cor;
quando rio, não posso desaguar na paz...
Sem você, meu destino virou tanto faz;
os prazeres que tenho só provocam dor,
pois a vida não segue, se não sou capaz
de calar tantos gritos internos de amor...
Talvez fosse possível retornar ainda,
mas agora, sou preso na minha berlinda
e não sei se consigo resgatar seu colo...
Esta mágoa cresceu em silêncio ferido;
hoje o meu sentimento procura sentido;
se você teve culpa, sei que tenho dolo...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
LUA INTERROMPIDA
Demétrio Sena - Magé
Não há tempo capaz de calar a saudade;
uma falta que nutre um buraco sem fim;
como sei que viver é missão nos imposta,
digo sim ao caminho e faço meu melhor...
Mas não há um só dia sem saudade sua,
na certeza do tempo que não foi bastante
para vermos a lua com todas as fases,
após todas as fases de tantas vertigens...
Foram poucos os anos de colo tardio;
sem aquelas corridas por sobrevivência,
contra o frio, a doença e a fome total...
Seu amor foi o mundo que valeu a pena;
foi a nossa vontade maior de vencer
e viver por mais tempo nossa lua nova...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
DELEGANDO A SAUDADE
Demétrio Sena - Magé
Dessa vez me deixei esperar que sentisses
a saudade que sempre fui eu que senti,
porque minhas crendices de afeto profundo
se tornaram a praia da minha renúncia...
Sei que nunca virás, o teu orgulho é pétreo,
pois te pus num altar do qual nunca desceste,
como nunca venceste a ti mesma por nós;
só me coube calar; nunca ter a razão...
Finalmente arrisquei-me a te arrancar de mim,
ao dar fim à procura que só era minha,
sabedor da blindagem no teu sentimento...
Resolvi dessa vez me dar voz de silêncio,
pra deixar teu silêncio te pedir a voz
e mostrar quantos nós tu ataste aqui dentro...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
DOR DE NÃO DOER
Demétrio Sena, Magé - RJ.
No lugar da saudade não sentida
um abismo de sonhos defasados,
uma vida sem nada pra lembrar
do passado que nunca foi presente...
A saudade que tenho é da saudade
que jamais alcançou meu coração,
é daquela emoção que faz chorar
pelas voltas em tempos bem vividos...
Fico triste porque faltam tristezas,
dói sentir que não há por que sentir
que a beleza de outrora está no vento...
Não há como viver sem a magia
de se ter nostalgia pra voar
lá nos tempos que a vida fez valer...
NA LINHA DOS OMBROS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Peneirei os afetos e vi quem merece
a saudade, a lembrança, e por isso a procura;
percebi de quais faltas obtenho a cura,
sem vigília; jejum; agonia de prece...
Os afetos restantes levei à fervura,
pra saber o que sobe, o que gruda, o que desce,
sobrevive à distância, resfria ou aquece
ante meu equilíbrio e meu lado loucura...
Dei ação ao sensor de mentira e verdade,
preferi ter bem menos para ter além
em sentido e certeza da sinceridade...
Foi assim que me achei entre tantos escombros;
só o tempo revela quem de fato é quem;
coração tem legenda na linha dos ombros...
SAUDADE VAI E VEM
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A saudade que tenho de você
não é bomba de gás lacrimogêneo;
não é gênio do choro obrigatório;
o velório de quem nunca morreu...
É um trauma que torno brando e bom
pra seguir e saber que o mundo pulsa;
vem no tom da vontade de viver
o presente, apesar do meu passado...
O presente, apesar do meu passado
vem no tom da vontade de viver
pra seguir e saber que o mundo pulsa;
é um trauma que torno brando e bom...
O velório por quem nunca morreu
não é gênio do choro obrigatório;
não é bomba de gás lacrimogêneo
a saudade que tenho de você.
INTENSIDADE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Contato além do tato;
visão do que não se vê:
saudade; recordação em 3d.
SEM ECO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Nem saudade resiste ao menosprezo;
ela morre por falta de respostas;
quem a nutre sozinho sente o peso
do silêncio de cruz em suas costas...
As lembranças despencam das encostas,
quando escalam com sonhos indefesos,
onde havia esperanças restam crostas
de sentidos que agora estão obesos...
O que houve de bom fica sem chão,
feito bicho de brejo no sertão,
como rio que um dia ficou seco...
Foi assim que murchou meu sentimento;
minha massa incruou sem seu fermento,
pois a minha emoção ficou sem eco...
SAUDADE FURTIVA
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Fui seu algo acessível por faltar alguém;
um amor provisório, improviso afetivo;
fiz um bem quando a vida lhe fazia mal,
dei motivo e sentido pro seu prosseguir...
A carência me achou e me adequou à sua
que me teve nos flancos dessa solidão,
dei a lua que a noite pedia em su´alma
e servi a paixão que seu corpo queria...
Fomos algo arranjado por nosso destino;
uma data festiva que se fez cumprir,
um abrir qualquer chão e semear momentos...
Você foi o que fui, mas com menos verdade,
tanto foi que a saudade me viu por aqui,
numa hora improvável pra me torturar...
SOLIDEZ DE SOLIDÃO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Percebi que a saudade só é minha,
só meu peito está dentro desse abismo,
sou mais só do que a linha do horizonte
ou a ponte que acaba sobre o nada...
Tenho a calma tristonha do leão
numa jaula de circo clandestino,
solidão é tão sólida que a tomo
e me faço menino em seu regaço...
Recolhi as lembranças para mim,
foi assim que arquivei as esperanças
nas estantes do sonho que morreu...
O amor foi só meu desde o começo,
foi o preço de crer nos olhos vagos
de quem nunca os usou num “eu te amo”...
TÔ AQUI
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Hoje testo a saudade que tenhas de mim;
se deixei algum traço no teu coração;
as migalhas de pão pra que saibas voltar
ao passado presente nos braços abertos...
Quero ver se me achas quando já não vou;
quando já me cansei de procurar sozinho;
porque sou limitado como não sabia,
entre tantos temores de cair do sonho...
Tô aqui no cansaço de afagar lembranças;
agarrar esperanças que desejam ir;
de sorrir amarelo para como eu choro...
testo a força do quanto me levaste n´alma;
o sentido estampado nos trajes do vento
sobre o teu sentimento por quem sou pra ti...
As estradas que eu já passei eu sempre vou guardar
as vezes aquela saudade enorme dá.
Mas tenho que continuar na vida da minha estrada,
a procura de respostas e da minha amada.
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