Poemas curtos de Clarice Lispector
Eu te amo, disse ela então com ódio para o homem cujo grande crime impunível era o de não querê-la.
Abandone-se, tente tudo suavemente, não se esforce por conseguir – esqueça completamente o que aconteceu e tudo voltará com naturalidade
Se tenho que ser um objeto, que seja um objeto que grita.
Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.
A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior, e não há uma palavra que a signifique.
Não pedi coisas demais para não confundir Deus que à meia-noite de Ano-Novo está tão ocupado.
Nos piores momentos, lembre-se: quem é capaz de sofrer intensamente também pode ser capaz de intensa alegria.
Mas o pior é o súbito cansaço de tudo. Parece uma fartura, parece que já se teve tudo e que não se quer mais nada.
Eu sou o antes, eu sou o quase, eu sou o nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar.
Dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era um amor de quem já sofreu por amor.
(...) quanto a mim mesma, sempre conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim.
Eu antes era uma mulher que sabia distinguir as coisas quando as via. Mas agora cometi o erro grave de pensar.
Não tenha medo de meu silêncio... Sou um louco mas guiado dentro de mim por uma espécie de grande sábio...
Vocês não sabem nada de mim. Nunca te disse e nunca te direi quem sou. Eu sou vós mesmos.
Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão.
Faço o possível para escrever por acaso. Eu quero que a frase aconteça. Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio. Expressar-me por meio de palavras é um desafio. Mas não correspondo à altura do desafio. Saem pobres palavras.
... e descobri que não tenho um dia a dia. É uma vida a vida. E que a vida é sobrenatural.
Não tem pessoas que cosem para fora? Eu coso para dentro.
